Capítulo Onze

1 0 0
                                    

— Verônica? Acorda, vamos.

A voz do meu pai vinha de longe, como se ele estivesse a quilômetros de distância. Abri os olhos lentamente, minha visão estava confusa e tudo à minha frente estava embaçado. Aos poucos, o contorno bagunçado que era meu pai, começou a tomar forma e a ficar visível.

— O que aconteceu? — Levantei, sentindo uma dor estranha no corpo.

— Você entrou na igreja e caiu. — Robin levantou e estendeu a mão para me ajudar a fazer o mesmo. — Está tudo bem? Precisamos nos apressar.

— Eu fiquei apagada por muito tempo? — Perguntei espantada.

— Não, foram alguns segundos. O outro vampiro tentou entrar aqui também e foi jogado para longe, seu amigo está ficando nervoso lá fora.

— Tudo bem, precisamos resolver isso. E eu acho que sei como devemos fazer para não matar todos os vampiros. — Falei, começando a caminhar mais para dentro da igreja. Ao dar o primeiro passo, minhas pernas cederam e eu precisei me segurar nos bancos para não cair novamente.

— O que foi? Está tudo bem? — Senti os braços do meu pai envolveram minha cintura ao erguer meu corpo.

— Estou me sentindo um pouco fraca. Acho que por estar dentro de um local sagrado, minha parte vampira está sendo afetada.

— Faz sentindo. Vamos, eu te ajudo.

Começamos a caminhar em direção ao altar. Na mão livre, meu pai carrega a bolsa com o livro, alho e à estaca de madeira. Após me ajudar a sentar perto de uma pequena fonte, ele colocou a sacola no chão e sacou a arma, olhando uma última vez para trás.

— O que é essa água?

— Chamamos de água benta. Essa água foi santificada para ser usada para vários fins durante missas e outros eventos da igreja. — Ele tirou tudo de dentro da bolsa e virou o livro na mão. — Como vamos fazer com isso?

— Podemos arrancar as páginas. — Falei, pegando o livro e o abrindo na primeira página de registro. O vampiro que estava no topo da página tinha mais de oitocentos anos e seguido dele os números iam descendo sem muita diferença. Segurei no topo da folha e a puxei, mas nada aconteceu. O papel da página era fino como deveria ser, porém, ao puxar parecia ter virado pedra. — Não tem como puxar. O livro deve ter alguma proteção.

— Vamos tentar colocar o alho nele, talvez isso o... — A voz do meu pai cortou e ele engastou, quando olhei para cima ele fitava o nada à sua frente.

— Pai? — Levantei, tentando manter minhas pernas firmes no chão. — Pai?

— Sabe, entrar na mente das pessoas já é uma tarefa cansativa, mas quando a pessoa em questão está dentro de um local sagrado, é muito mais complicado. — A voz que eu ouvia agora não era mais a do meu pai, calma e suave, ele parecia um robô sem emoções. — Mas agora que eu consegui, vamos ao trabalho.

— Sai da cabeça do meu pai, agora! — Gritei. Abaixei para pegar o Livro Negro e o apertei contra o corpo. — Ele não tem nada a ver com o que está acontecendo.

— Claro que tem. Ele sabe da nossa existência, graças a sua mãe, e bem, nenhum humano deveria saber. Então, ele está envolvido nisso e vai morrer assim que você estiver aqui fora junto com essa coisa velha que está segurando.

Meu pai começou a se mover. Seus pés se arrastavam ao caminhar lentamente em minha direção. Seu corpo parecia pesado e os movimentos eram estranhos, duros e sem vida. Voltei a abaixar e peguei o alho dentro da bolsa.

— Vamos ver... a-há! Achei! — A voz sem vida ecoou pela igreja, seguido do som da arma sendo preparada para atirar. — O bom de ter um corpo de um policial é que eu não preciso saber fazer essas coisas. Se você não vem por boa vontade, vai ter que vir a força.

O Livro de AurumWhere stories live. Discover now