Capítulo Dez

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A sensação de que algo estava errado gritava no fundo da minha mente e doía na minha barriga. Não era a primeira vez que eu sinto isso, quando aconteceu, dias atrás, encontrei minha morta no porão da nossa casa.

Meu pai olhava nervoso para o relógio em seu pulso, que agora, indicavam nove horas. Faltavam quatro horas para o prazo final do Nicholai e estávamos prontos para destruir todos os vampiros antigos que existiam no mundo. Enquanto esperávamos o movimento em torno da praça e da igreja acabar – medida de segurança – acabei folheado o livro e encontrei a parte onde os nomes e datas de criação dos vampiros estava escrita. Era um registro enorme. As primeiras páginas continham os primeiros vampiros e estavam registrados com datas antes de 1400, e os mais novos eram os do ano atual. Muitos dos vampiros que estavam ali eu não conhecia, mas reconheci os nomes do Talus, Nicholai e o da minha mãe, com um risco negro em cima.

Enquanto olhava as páginas, mais dois vampiros foram adicionados a listagem. O Livro Negro controlava cada novo filho da noite que era criado, estando longe ou perto. Era uma magia incrível, eu devia admitir, mas não deixei de me questionar o que aconteceria com as páginas onde os nomes dos outros vampiros estavam cravados.

— No que está pensando? — A voz do meu pai soou distante ao fazer a pergunta. — Está reconsiderando?

— Não, nunca. Muitos dos amigos do Talus machucaram a minha mãe e se eu voltar, farão o mesmo comigo. — Fechei o livro após passar o olho nas páginas que constavam o ano do meu nascimento. — Esse livro contém os nomes de todos os vampiros do mundo, a ligação é tão forte que ele sozinho toma conta de tudo. Ao destruirmos, todos os registros serão perdidos.

— Será que existe uma forma de matarmos apenas os antigos? Apesar de que, tirar todos os vampiros do mundo seria uma boa... — Ele parou ao ver a minha expressão de surpresa. — O que foi?

— Muitos dos vampiros novos estavam morrendo quando foram transformados. Alguns deles são gratos por terem tido essa segunda chance de viver. Seria errado tirar isso deles assim...

— Já que isso é importante, podemos tentar tirar só os nomes que têm alguns séculos.

Sorri e voltei a fitar a praça a nossa frente. As pessoas estavam começando a se dispersar, voltando para casa ou indo trabalhar nos turnos noturnos. Nicholai e os outros dois novos vampiros estavam por perto, eu sentia a energia deles irradiando de algum lugar, mas ainda não os tinha visto. O que era totalmente desgastante e estressante. Saber que o perigo estava por perto, mas não saber quando ele poderia atacar.

— O padre está saindo da igreja. Vou lá falar com ele e pegar as chaves, fique aqui e espere pelo meu sinal.

Robin tirou o cinto, abriu a porta do carro e correu até o senhor baixinho que estava na entrada da igreja, puxando as pesadas portas de madeira com dificuldade. Tirei o cinto e esperei, olhando através do vidro enquanto meu pai conversava com o padre. O vi tirar o distintivo do bolso e mostrar para o homem a sua frente, de onde eu estava pude perceber que ele ficara tenso, mas mesmo assim entregou a chave e seguiu seu caminho.

Coloquei o livro dentro da sacola que meu pai trouxera e sai do carro assim que o vi fazendo o sinal para que eu fosse até a igreja. Respirei e comecei a caminhar, tentando manter os passos tranquilos e despreocupados. A maioria das pessoas já tinham ido embora, mas algumas ainda estavam na praça, sentadas em frente a bares comendo e bebendo, se eu saísse correndo ou aparentasse estar assustada, eles iriam perceber. E com isso as chances de o caos acontecer passavam de zero para um milhão.

Fingi estar passeando pela praça, assim como alguns outros moradores. Meu olhar desviava para os lados, ansiosos procurando por perigo. Era estranho como em poucos dias todas as pessoas que eu conhecia não eram mais as mesmas, tudo era apenas uma máscara e uma mentira muito bem contada. Minha mãe guardou tudo isso para ela por tanto tempo, aguentando tanta coisa para me proteger e eu sempre achei que de alguma forma ela se sentia estranha por não ter uma filha puro sangue. Todo o comportamento dela se justificou por todas as coisas que ela estava suportando. E agora, era minha vez de retribuir.

O Livro de AurumWhere stories live. Discover now