O Livro de Aurum

Capítulo Cinco

Alguns dias se passaram desde a morte da minha mãe e eu nunca me senti tão sozinha no mundo. As coisas têm sido difíceis. Todos ao meu redor sabem da verdade sobre os roubos dos livros, e mesmo que eles já estejam de volta à biblioteca secreta, ainda consideram a minha mãe uma ladra. E como agora ela não está aqui pare ser o direcionamento do ódio, tudo veio para mim, tornando impossível viver naquele lugar.

"Seja forte. Amo você para sempre."

As últimas palavras da minha mãe aparecem sempre que estou querendo desistir ou apenas deixar que batam em mim, me chamem de aberração e outras coisas piores. Ela sempre foi e sempre vai ser minha fonte de força e mesmo ausente, consigo senti-la comigo. Assim como consigo sentir minha avó, olhando para mim sem entender o que eu estou fazendo pisando no seu túmulo.

Depois de descobrir o plano que minha tinha em mente, sai correndo do porão e tranquei a porta para sempre. Nada que tinha lá embaixo trazia boas lembranças, então, não havia mais necessidade de ir até aquele lugar. Todos os papeis, diários, provas que estavam guardadas na gaveta da mesa, agora tinham um espaço especial embaixo de um fundo falso de uma mala de viagem. Guardei todas as informações que minha mãe encontrara junto com algumas roupas. Eu estava pronta para deixar aquele lugar, só precisava pegar o Livro Negro e ir embora.

A mala e uma mochila estavam ao meu lado enquanto eu cavava um buraco no tumulo da minha vó. De acordo com o que minha mãe escreveu no diário ele não devia estar muito fundo, ou seria bem perceptível que alguém andou mexendo ali. Continuei cavando até sentir a ponta da pá bater em alguma coisa. Ajoelhei na terra e tirei o resto com as mãos. Uma caixa de madeira, parecida com a de um caixão, tinha as letras p e v cravadas em dourado. Puxei a caixa e passei os dedos sob as elas; o dourado brilhou, e em seguida, veio o barulho da tranca soltando. Abri uma brecha para conferir se o livro ainda estava ali e encontrei apenas um saco de veludo vinho.

Colocando a caixa de lado, abri o saco e encontrei o que estava procurando. A capa preta de couro, com marcações em dourado nas bordas, dava a impressão de que era um livro inofensivo. É bem bonito, devo admitir, pensei, ao levantar, guardando-o de volta na caixa antes de colocá-la dentro da bolsa e olhei uma última vez para a entrada na comunidade, eu nunca mais voltaria a ver esse lugar.

Peguei minhas coisas e sai do cemitério, sem fazer barulho e sem deixar rastros de que estive ali. Parei na calçada e olhei em volta. Pela primeira vez eu estava livre e em um mundo que eu não conhecia. Respirei fundo, apesar de não precisar fazer isso e comecei a andar. Eu estava sem rumo, até lembrar do bilhete que havia junto com a sua última carta. O céu ainda tinha tons claros e nenhum vampiro puro se arriscava a sair de casa, porém, por eu ser metade humano o brilho fraco da luz do sol não me fazia mal. O que, nessas horas, me faziam agradecer por ser metade humana.

No bolso de trás da minha calça, peguei o endereço que deveria ir. Andei mais algumas quadras até chegar em uma área que parecia ser bastante movimentada. Humanos corriam de um lado para o outro, carros corriam pela rua e todos pareciam estar com pressa. Bom, eu também estava. Entrei no meio da multidão de humanos e fui atingida pelo cheio forte de sangue. A maioria ali tinha tipo O, isso era certeza. Alguns, poucos, AB. Balancei a cabeça, tentando afastar o cheiro e apressei os passos.

Logo a frente, uma moça estava sentada na calçada e parecia ser a única pessoa em paz no meio da grande confusão que ocorria a sua volta. Me aproximei com cuidado e ao me olhar, ela abriu um sorriso.

— Em que posso te ajudar, garota? — Seu tom era suave, melodioso.

— Eu preciso pegar um... ônibus. Para Landerton. — Estendi o papel em sua direção e ela apenas esticou o pescoço para ler o que tinha escrito. — Para que lado fica?