— Abram o portão, por favor! — Gritei em direção ao cemitério escuro, esperando que alguém pudesse ouvir minha súplica. — Está quase amanhecendo!
— Quem está nos portões? — Uma voz perguntou com indiferença. — Diga seu nome.
– Paola! Paola Vermonte. — Respondi, deixando escapar meu desespero.
— Paola? — A voz agora estava mais suave. — É você, minha querida?
Ao fundo do cemitério, pude ouvir os passos enquanto a figura que estava escondida pela escuridão se aproximava do portão. O barulho dos gravetos quebrando sob seus pés, entregavam que a figura era um homem. A maioria das mulheres que conhecia usavam saltos quase o tempo todo, e eram impossíveis de andar sobre a grama fofa e fazer aquele som.
Não haviam muitas fontes de iluminação na entrada do cemitério, tirando o poste envelhecido que apenas brilhava em um tom fraco de amarelo. Sua luz se projetava um pouco para além dos portões e quando os passos pararam, pude ver quem estava na entrada naquela noite.
— Cristopher. — Deixei escapar um tom de surpresa.
O Mestre dos vampiros de Monte Louiur. Sua presença sempre me causava arrepios. Apesar de aparentar vinte e cinco anos, ele estava vivo desde 1800 e nada havia mudado. Desde sua altura a pele jovem, tudo se mantivera igual. Seus cabelos castanhos estavam bem penteados para trás, sua pele branca contrastava com suas roupas de festa. Terno preto que nem a noite, com detalhes em prata e sapatos de festa bem polidos. Seus olhos cor de laranja vivo, brilhavam ao me encarar através dos portões.
Haviam muitas histórias sobre o que acontecera com seu criador após transferir seus poderes, alguns dizem que ele morreu e outros que ele virou humano e continuou a vagar na terra até sua morte. Mas nenhum desses fatos haviam sido confirmados por Cristopher, sempre que questionado ele mudava de assunto.
— É você mesmo! — Ele juntou as mãos na frente do corpo, usando seu tom cordial ao falar, como sempre fazia. — Que felicidade a sua presença me traz, meu pequeno lírio!
Seu olhar brilhava com interesse ao me encarar. Durante os anos em que morei nessa comunidade, sempre que conversávamos, ele me olhava diferente. Era possível sentir o cheiro do seu sangue borbulhando em desejo. Às vezes, ele tentava esconder o que sentia, mas era frequente o número de vezes que o peguei olhando em minha direção como se eu fosse sua próxima presa.
— Por favor, Mestre, abra o portão.
— O que é isto em seus braços? — Usando o queixo, ele apontou meus braços. O laranja de seu olhar brilhou ainda mais, e meus braços apertaram o amontoado de lençóis que eu segurava. — Isso seria uma criança, querida?
— Sim. — Minha voz tremeu ao responder. Senti meu peito tentar segurar o ar, enquanto eu prendi a respiração inexistente. — É minha criança.
Sua expressão se suavizou, mas isso não diminuiu o meu nervosismo. Ele me olhava procurando sinais de que eu estivesse mentindo. Afinal, ele tentara gerar crianças há anos, sem sucesso. Quando se deu por satisfeito, abriu um sorriso que muitas mulheres consideravam encantador.
— Sua criança com o humano pelo qual se apaixonou, estou errado?
— Não, senhor. — Arrumei o bebê nos meus braços.
— E o que está fazendo em nossa porta? Se me lembro bem, dissestes que iria morar com ele no mundo humano porque se amavam.
Abaixei a cabeça, tentando esconder a vergonha que sentia, ao ouvir minhas próprias palavras.
— Ele descobriu a verdade e te deixou? Foi isso o que aconteceu?
Acenei positivamente.
— Sinto muito, meu amor. Sinto por ter visto como esse mundo é cruel. — Sua voz soara encantadora e meus olhos foram de encontro aos seus. Com um estralar de dedos o portão se abriu com um rangido, reclamando por estar sendo incomodado. — Não se preocupe, cuidaremos bem de você e da sua criança.
Dei alguns passos para dentro do cemitério e os portões se fecharam com força atrás de mim. Parei ao lado do Cristopher e olhei uma última vez para trás, sabendo que, no momento em que atravessasse o portal, nunca mais poderia voltar. Seus braços foram até meus ombros, puxando-me para próximo a seu corpo.
— Se me lembro bem, eu disse que a receberia de volta de braços abertos. Sempre. — Ele sorriu e seus caninos ficaram amostra, causando um arrepio na minha espinha. Cristopher começou a dar alguns passos em direção a entrada da comunidade, me levando junto com ele. — Vamos, sua casa ainda está vazia. Não deixei que ninguém tocasse nela.
— Obrigada, Mestre. Eu não sabia mais para onde...
— Claro que, você ter saído da comunidade pode nos causar problemas futuros. Os outros precisarão votar sobre qual será sua punição por expor nosso pequeno segredo ao mundo de forma tão imprudente. — Sua voz assumira um tom que eu só ouvira poucas vezes, em sua maioria, era quando ele estava negociando algo importante. — Mas, eu posso reverter essa situação e pular essa etapa, com alguns favores.
Sua mão começou a se mover por meu corpo enquanto caminhávamos. Dos ombros, ela desceu pelas minhas costas, fazendo o desenho da coluna com um toque gracioso até chegar na minha bunda, onde sua mão parou.
Agarrei minha criança contra meu peito, afastando-a dele, ao passarmos pelo portal que separava o cemitério da comunidade. Enquanto andávamos pelo caminho de pedra, sua mão passeava por meu corpo, por cima e por baixo das roupas que eu usava.
Um pouco antes de chegarmos à minha casa, ele abaixou o corpo até alcançar meus ouvidos e sussurrou:
— Nós vamos nos divertir muito, meu lírio.
Novamente, seus olhos brilharam em desejo e os meus, se pudessem, estariam cheios de lágrimas.
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E então? O que acharam do primeiro capítulo?
Deixem nos comentários suas opiniões e o que acham que vai acontecer a seguir! Não esqueçam de curtir a postagem se estiverem gostando!
Um abraço,
Letícia Souto
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O Livro de Aurum
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