O Livro de Aurum

Capítulo Dois

Os rumores sobre os livros desaparecidos ainda estavam na boca do povo, e já haviam se passado duas semanas. Os comentários falavam que outro exemplar sumiu da biblioteca e lembravam sobre os que não estavam mais lá. Com esse novo roubo, foram totalizados dois livros de poções sumidos e o outro, a aquisição recente do culpado, ninguém tinha conhecimento sobre o assunto que continha nele, mas pelo estardalhaço que estavam fazendo, devia ser importante.

Minha mãe ainda era a suposta culpada. Muitos vampiros antigos me paravam na rua e me perguntavam como era morar como uma ladra ou se eu estava ajudando nos crimes.

Se eu já pensei em negar que minha mãe era a culpada? Claro que sim, mas para quê? Para cada um deles os boatos eram mais reais que a verdade em si, tentar negar os fatos sem provas não iria convencer ninguém do contrário. Seria um gasto à toa de energia. Até porque: eu também não sabia de fato se poderia defender minha mãe.

O fato de ela estar mais reclusa do que nunca dentro do porão não ajudava nenhum pouco a tirar a desconfiança que eu estava sentindo e em todas as vezes em que tentei conversar com ela sobre os boatos nos últimos dias, ela apenas mudava de assunto ou dava a conversar por encerrada.

Por isso, eu bolei um plano para entrar porão quando ela não estivesse em casa. E seria hoje.

Meu professor não daria aula naquele dia e, em um ato de enorme rebeldia, não contei para minha mãe, então, para ela eu sairia de casa no horário de sempre. Peguei meu material e sai de caso, mas o invés de seguir para a praça em direção a Academia, fiquei escondida atrás das árvores mortas que tinham atrás da nossa casa. Assim que minha mãe saiu, entrei correndo, antes que ela pudesse me ver. Joguei a bolsa no sofá da pequena sala e procurei pela chave da porta do porão dentro das gavetas do aparador.

Como minha mãe tinha mania de limpeza e organização, foi fácil encontrar o que eu estava procurando. Todas elas eram etiquetadas com seus propósitos. Obrigada a existência do TOC! Desci com cuidado as escadas de madeira que levavam até o cômodo, cada degrau soltava um rangido fino toda vez que eu pisava. Era sorte aquela escada não ter caído ainda. A porta abriu com facilidade e um cheiro doce e forte me atingiu logo de cara.

Uma luz fraca acendeu em resposta ao detector de movimento. O cubículo ainda menor que nossa casa, tinha estantes baixas de madeira e em todas elas tinham livros, ingredientes para poções e frascos com líquidos coloridos – alguns deles borbulhavam com tanto fervor, que eu podia jurar que iriam explodir a qualquer momento. No centro, uma mesa de madeira toda remendada apoiava um caldeirão de cobre desgastado e ao lado, dois livros abertos mostravam seu conteúdo para quem quisesse ver. Me aproximei, e só então consegui ler os títulos que estavam no topo das páginas amareladas. "Poção do Amor" e "Poção da Verdade". Por que minha mãe estaria interessada, especificamente nessas duas poções?

Passei os dedos nas páginas, lendo as instruções de preparo da poção da verdade. De acordo com a receita, ela estaria pronta quando atingisse a transparência total. Espiei dentro do caldeirão, e apesar da pouca luz que tinha no cômodo, dava para ver que o líquido ali dentro tinha um tom leitoso e quase era possível ver através dele. Estava quase pronta, talvez mais um ou dois dias para que ficasse completamente transparente. Mas, a pergunta era: para quem seria aquela poção?

Deixei minha mão marcando a página e fechei o livro sob ela. O título batia com um dos livros de poções sumido. Com um suspiro, coloquei o livro de volta no lugar que estava antes, tentando camuflar o fato de eu ter mexido e me afastei. Supondo que o outro exemplar aberto, que continha a receita da poção do armo, era o livro que também estava desaparecido, li a receita da poção e fui para a estante de ingredientes. Cada potinho trazia o nome do que tinha dentro, por coincidência, ou não, tudo o que era preciso para fazer a poção do amor estava ali. Porém, apenas um potinho chamou mais minha atenção. Na etiqueta tinha escrito: Fio de cabelo do Robin Bishop.