Todo ano, na noite do dia 24 de dezembro, minha mãe fazia um jantar especial, convidava nossa família, alguns vizinhos, amigos, e todos os anos Daniel também ia.
Daniel era o filho da melhor amiga dela e ele passava o ano todo em outro país, só voltava para o natal e o ano novo. E era quando eu tinha a chance de vê-lo.
Ele só me tratava como amigo, nada mais, mas eu sempre gostei dele. Não sei dizer se eram aqueles cachos loiros, ou aquele sorriso com os dentes tortos.
Quando ele apareceu na véspera de natal, estava diferente. Havia colocado aparelho, seus cachos foram raspados e ele parecia um militar com aquele porte atlético, mas eu só conseguia perceber o quanto ele continuava bonito.
Mas ele não estava sozinho naquela noite. Entrou com sua mãe e uma garota, que logo nos apresentou como sua namorada.
Daniel nunca soube do que eu sentia por ele, seria tolice sequer tentar dizer algo, era uma paixão platônica e eu queria que permanecesse daquele jeito, mas em nenhum momento imaginei que ele apareceria com uma garota qualquer.
As músicas de natal eram apenas um volume baixo na sala da nossa casa enquanto todos conversavam. Fiquei praticamente a noite inteira observando Daniel e esperando por um momento a sós com ele.
Eu estava bebendo uma cerveja barata que um dos convidados havia levado e já estava começando a fazer efeito dentro de mim. Notei que Daniel estava indo até o banheiro, então aproveitei o momento e fui até ele.
- Daniel.
Ele olhou para trás rapidamente. Seus olhos brilharam. Já havíamos nos visto naquela noite, mas finalmente estávamos ali, apenas nós dois.
Milhares de memórias me invadiram naquele momento. Passamos dez natais juntos, mal nos conhecíamos, mas na véspera e no natal, era como se nunca tivéssemos nos separado.
- Chris - ele me abraçou. Seu cheiro era o mesmo. Seu abraço era o mesmo.
- Eu senti sua falta - eu disse, mas sem querer dizer. Daniel franziu o cenho, tocou no meu ombro e sorriu.
- Eu também, sabia?
Eu sabia. Sabia que ele estava mentindo, mas eu queria me iludir, pelo menos por alguns minutos.
- Você está diferente - eu disse, encarando seus olhos. Daniel me encarou de volta e algo me dizia que ele queria o mesmo que eu. Engoli em seco, e ele ajeitou o cabelo raspado.
- É, passou muito tempo desde a última vez que nos vimos. - ele encarou o chão.
No natal passado, bebemos mais do que deveríamos e fomos caminhando até a beira-mar segurando uma garrafa de champanhe que havíamos roubado do jantar. Sentamos em um dos bancos de madeira e ficamos admirando o mar enquanto bebíamos no gargalo.
- Um dia vamos ficar mais de dois dias juntos - ele disse e me encarou - gosto da sua companhia, você me entende.
- Gosto da sua também - eu disse, sentindo meu rosto corar.
Não havia acontecido nada entre nós naquele natal, mas o jeito que ele me olhava era o mesmo dentro daquele banheiro cheirando à água sanitária.
- Quando vamos passar mais de dois dias juntos? - eu perguntei, lembrando-me daquela noite. Daniel jogou a cabeça para trás e riu.
- Ano que vem. Vou morar aqui de novo.
- Não está dando certo em Portugal? E sua namorada? - eu perguntei, como quem não quer nada.
- Problemas na família - ele disse simplesmente - ela vai ficar em Portugal.
- Namoro à distância?
- Não, vamos terminar - seu olhar em minha direção era sugestivo e eu queria beijá-lo, mesmo sendo no banheiro. - Deixa eu ver seu quarto.
Saímos do banheiro e fomos até meu quarto, ele andou por ele e comentou cada poster e decoração "isso aqui é novo", "eu lembro disso" ele disse enquanto pegava dois sabres de luz que usávamos quando éramos mais novos.
Enquanto ele estava passeando pelo quarto, eu fiquei de costas para ele, tentando controlar meu coração.
Ele me cutucou e apontou para o meu teto. Havia uma coisa pendurada, que não estava ali até entrarmos.
- Olha, o visco - ele disse, me encarando. Daniel estava com as bochechas coradas, ele sempre ficava daquele jeito quando a) bebia b) estava envergonhado.
Eu senti meu rosto queimar, também estava envergonhado e não sabia se aquilo estava mesmo acontecendo. Não me importei com a garota que estava o esperando na sala, apenas em aproximei dele e lhe beijei.
E foi daquele jeito que finalmente beijei o garoto dos meus sonhos. Embaixo do visco de natal no meu quarto, cercado por lembranças nossas.
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all i want for christmas | ✓
Короткий рассказEspecial de Natal com contos lgbt. Autores: @giges_ @escalart_cold @sacredmoon_cry @amoxina