christmas tree

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Elizabeth pegou uma das cadeiras da mesa da cozinha e subiu em cima para terminar de decorar a árvore.

- Me alcança a estrela dorada - ela me pediu, apontando para a caixa de papelão no chão.

Olhei dentro da caixa e notei diversas cores e estilos de estrelas do topo, mas a dourada que ela havia pedido era a mais bonita.

Ainda estava para nascer alguém que amasse mais o natal do que Elizabeth. Mesmo com seus vinte e três anos, ela amava ir até o shopping conversar com o papai noel. E eu, como boa amiga, sempre ia junto.

Em um desses natais, lá por 2008, eu pedi para o papai noel que Elizabeth me notasse. Na época, o papai noel deu uma risada preguiçosa e disse:

- Ela está olhando pra você, eu não preciso fazer nada.

Mas ele não havia entendido meu pedido. E naquela época, nem eu.

Elizabeth sempre foi minha melhor amiga, nós sempre andávamos juntas, mas o natal era a ocasião mais especial de todas, pois eu podia ajudá-la a encontrar a árvore perfeita e decorá-la na sua casa enquanto a noite invadia a cidade.

- Esse ano ela está linda - Elizabeth disse, se afastando para admirar seu trabalho. - Você não acha, Ella?

- Acho - mas eu não estava olhando para a árvore.

Elizabeth é minha melhor amiga desde que me entendo por gente, posso garantir que na minha primeira memória, ela estava lá. Nossa amizade era maravilhosa, tirando o fato de que eu secretamente sempre fui apaixonada por ela.

Diversas vezes senti vontade de lhe contar toda a verdade, ela tinha direito de saber, certo? Mas a vergonha e o medo sempre foram maiores.

Elizabeth era diferente de qualquer outra pessoa. Sua bondade e seu sorriso conquistavam todos que a conheciam, e eu ficava apenas a admirando.

- Você não acha que tem muito dourado? - ela ficou encarando a árvore, analisando cada detalhe. Eu encarei a árvore, tentando capturar tudo.

Naquele ano havíamos escolhido a árvore de natal branca, porque achávamos muito bonita. Elizabeth colocou bolinhas vermelhas, douradas e prateadas e as luzes piscavam as mesmas cores. Os enfeites eram dourados e vermelhos e eu encarei seu rosto: suas bochechas rosadas, seu casaco vermelho e seu cabelo dourado, que brilhava mais do que aquelas luzes.

- Está perfeito. Tudo - eu a abracei e ela riu.

- Acho que o espírito natalino dominou você também.

- É você - eu balancei a cabeça.

Quis contar a verdade para ela ali, na sua sala rodeada por enfeites de natal enquanto um dos papais noéis balançava a cabeça de um lado para o outro.

- Eu acho que estou apaixonada - eu disse, olhando dentro dos seus olhos. Elizabeth sorriu, emocionada. Porque além de amar o natal, ela também amava o amor.

- Eu também estou - ela disse, como se fosse um segredo. Eu a encarei, na expectativa. Elizabeth correu até a mesa de centro da sala e pegou seu celular para me mostrar a foto do garoto que ela estava apaixonada.

Se o coração realmente quebrasse, eu poderia escutar o meu quebrando em pequenos pedaços. Ela continuou falando sobre ele, mas quando reparou que eu não estava prestando atenção me encarou e tocou meu ombro.

- Você está bem?

- Sim.

- Me conte do garoto que você está apaixonada.

- Não é um garoto - eu disse, sem graça. Elizabeth olhou para mim, parecia confusa, mas aos poucos seu semblante foi demonstrando que ela havia entendido tudo. - Ah, Ella...

Esse "Ah, Ella..." poderia ter quebrado meu coração novamente. Parecia que ela estava com pena de mim. Elizabeth estava com pena de mim porque a garota que eu gostava me via apenas como amiga.

- Desculpa - eu balancei a cabeça, sequei meus olhos e a encarei - é besteira.

Eu não queria mais escutar nada, então me despedi dela e saí da sua casa.


Elizabeth me ligou trinta vezes naquele fim de tarde e começo da noite. Até apareceu na minha casa, mas pedi para minha mãe dizer que eu não estava em casa.

- O que aconteceu? - minha mãe perguntou, entrando no meu quarto. Eu estava deitada na minha cama desde o segundo que cheguei em casa.

- Eu estou apaixonada pela Elizabeth, mas ela gosta de um homem feio - eu disse, chorando. Minha mãe não falou nada por alguns segundos, mas senti quando ela sentou na cama e tocou minhas costas.

- Não fica assim, nós não escolhemos quem iremos amar. Elizabeth não escolheu gostar de um garoto, assim como você não escolheu gostar dela.

- Eu queria não gostar dela - eu disse, entre soluços. Minha mãe me puxou e me abraçou.

- Isso vai passar - ela disse, alisando minhas costas.

Eu não queria que passasse, eu queria que ela percebesse que deveríamos ficar juntas.


No dia seguinte, resolvi encará-la de frente. Elizabeth estava triste, usando preto. Ela sempre usava sua roupa conforme seu humor, e eu achava isso lindo.

- Me desculpa - ela começou a dizer, mas eu a interrompi.

- Não tem porque me pedir desculpas - eu disse, sentei-me no seu sofá e fiquei encarando aquelas luzes que não paravam de brilhar. Ela parecia angustiada, sentada na minha frente, na mesa de centro de madeira. - Eu gosto de você, mas eu não queria - eu disse, tapando meu rosto. Funguei e a encarei.

- Você é minha melhor amiga, ninguém irá substituir isso. Me desculpa não conseguir te corresponder, mas é só isso que posso te dar, o meu amor de amiga.

Eu não aguentei e chorei. Elizabeth me abraçou, o que me fez chorar mais ainda. Eu sabia que tudo que ela tinha para me dar era o bastante.

- Isso basta - eu sussurrei no seu ouvido enquanto ela me levantava para me abraçar. Seu abraço era forte, seu perfume era doce, e apesar de tudo, o clima de natal e aquele abraço da minha melhor amiga, eram o suficiente.

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