Eu estava comprando o presente de natal do meu namorado quando a conheci. Ela era a atendente da loja, essas que vendem diversos objetos divertidos e meio nerds. A garota era toda tatuada e o cabelo preto estava preso em um rabo de cavalo preguiçoso. Não sei bem o que me agradou nela, talvez a forma como me atendeu, toda sorridente e prestativa, ou como ela era engraçada e bonita. Quando estava saindo da loja, ela tocou no meu ombro e sorriu "volte sempre", e piscou para mim.
Saí do shopping pensando naquela piscada e naquele sorriso. Eu sabia que provavelmente ela faria aquilo com qualquer cliente que entrasse na loja e comprasse com ela, mas quando olhei para trás, casualmente, lá estava ela: parada em frente à porta de entrada do shopping.
Quando viu que eu estava a olhando, fez um sinal com a mão e me chamou.
- Acho que seu amigo vai gostar do presente. Ele é fã de Harry Potter? - ela acendeu um cigarro enquanto me encarava. Eu segurei a sacola com força quando ela o chamou de "amigo". Eu não havia dito para quem era, mas alguma coisa me dizia que se eu a corrigisse, perderia uma chance.
Uma chance. Eu revirei os olhos. O que eu estava pensando? Que eu teria a audácia de traí-lo?
- Oi? - ela estalou os dedos na minha frente enquanto uma fumaça densa saía lentamente de sua boca. Eu a encarei e balancei a cabeça.
- É pro meu namorado - eu disse, engolindo em seco.
- Ah, entendi - ela se afastou um pouco e ergueu os olhos para mim - achei que você estava dando em cima de mim.
Eu comecei a tossir, nervosa e ela se aproximou rindo.
- Desculpa, entendi errado.
- Não - eu disse, quando consegui me acalmar - eu até estou interessada em você, mas eu namoro e não faria nada que pudesse magoá-lo...
- Caramba - ela me encarou e riu - acho que estou ainda mais interessada por você.
Aquela tarde toda fiquei pensando na garota que eu nem sabia o nome. O presente do meu namorado, como se fosse uma comprovação da minha não-traição, estava deitado sob a nossa pequena árvore de natal. O envelope prateado refletindo a luz da sala e brilhando.
Quando ele chegou em casa, o barulho da chave acordou os cachorros e eles começaram a latir. Olhei para ele, percorrendo a sala até me encontrar na cozinha, e os cachorros aos seus pés, pulando de felicidade que o papai estava em casa.
O encarei enquanto ele tocava meu rosto e me dava um beijo leve nos lábios.
- Eu te amo - eu disse, porque era verdade, e porque sentia-me culpada.
- Eu também te amo - ele riu, achando inesperado e me abraçou. - Dia cansativo?
- Não - eu suspirei - conheci uma garota.
Ele parou de dar carinho para os cachorros. Eu parei de cortar os tomates e nos encaramos por alguns segundos.
- E então?
Ele me encarou, na expectativa e eu encarei os tomates, fugindo do que eu mesma havia causado.
- Ela era muito bonita.
Ele continuou me encarando, esperando pelo pior. Saí de trás da bancada da cozinha e parei na sua frente.
- Você está querendo me dizer que me traiu? Ou que está apaixonada? Me diga logo.
- Não estou apaixonada e não traí, mas achei melhor te contar a verdade, porque eu estou interessada nela.
Ele continuou me encarando, meio incrédulo do que eu estava dizendo. Eu não queria que terminasse comigo, pois eu o amava, mas não queria sentir aquilo sem que ele soubesse. Meu celular começou a tocar no meu bolso da calça e eu sabia, antes mesmo de ver o número no celular, que era ela.
- E salvou o número dela. O que pretende fazer agora? Quer terminar?
- Não quero terminar, mas quero conhecê-la melhor. Quero conversar com ela, quero ser amiga dela. Quero...
- Entendi - ele suspirou - tudo que eu não posso ser.
- Mas é você quem eu amo.
Ele me encarou, com um certo desprezo e saiu de casa. Não disse para onde iria, não deu tchau para os cachorros, não me deu o beijo de despedida. A porta bateu no segundo que ele colocou os pés para fora.
As luzes do pinheirinho piscavam e me cegavam por alguns segundos. Seu presente permaneceu ali, intacto.
O celular continuou tocando no meu bolso.
- Desculpa ligar, mas eu estou querendo te ver.
Combinamos de nos encontrarmos em um restaurante. Eu olhei para os tomates cortados em cima da bancada e arrumei tudo para sair.
Ela estava linda, usando um vestido vermelho com todas as tatuagens à mostra, seus cabelos negros soltos escorridos até o seu quadril.
A noite foi mágica. Conversamos sobre tudo, bebemos vinho branco e seus olhos brilhavam para mim. Ela era ainda melhor do que na minha cabeça. Interessante, me escutava atentamente e prestava atenção em cada detalhe meu.
Na hora de nos despedirmos, quis beijá-la, mas apenas a abracei forte e a agradeci pela noite.
Quando cheguei em casa, meu namorado já estava deitado. Ele se ergueu na cama e me encarou, me olhou de cima a baixo: salto alto que eu odiava usar, vestido e cabelo arrumado. Seus olhos me julgavam, mas ele parecia preocupado. O que diabos eu havia feito?
- Chegou tarde.
- Eu saí - eu disse simplesmente enquanto tirava meu vestido. Senti seus olhos em mim e o encarei pelo espelho do guarda-roupa. - Gosta do que vê?
- Não sei - ele disse, saindo da cama e se aproximando de mim - você fez alguma coisa? - perguntou enquanto tocava na minha cintura, a acariciando.
- Não fiz nada - eu disse, suspirando. Ele tirou a mão de mim e me virou de frente para ele.
- Fez o que queria fazer? - ele perguntou, olhando dentro dos meus olhos. Eu assenti e funguei - Não faz isso. Não precisa chorar, eu entendi.
Eu o encarei e balancei a cabeça, ele não entendia, mas eu também não.
O abracei forte, sentindo o seu cheiro familiar e desabei nos seus braços.
Ela era incrível, e em outro momento faríamos um casal lindo, mas naquele instante, naquela vida, aquele era o meu amor.
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all i want for christmas | ✓
Historia CortaEspecial de Natal com contos lgbt. Autores: @giges_ @escalart_cold @sacredmoon_cry @amoxina