Capítulo IX

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Fazenda dos Sallow, 7 de novembro

Minhas pernas não me aguentam mais. Faz quanto tempo que estou andando? Duas ou três horas? Rex late e corre no campo aberto.

Eu o deixei sair da coleira para dar mais espaço entre mim e ele, mas com certeza isso foi um erro. Meus pés estão ardendo dentro do tênis e meu rosto está suado e vermelho.

— Rex! Rex, quer parar de correr só um pouco? — cambaleio indo atrás dele.

Por sorte o campo é aberto, o que facilita muito para eu correr atrás dele sem me aguentar ficar em pé. Rex corre mais rápido quando percebe que estou indo atrás dele prendê-lo, minhas pernas cedem e eu caio na grama.

— Deixa eu só... descansar um pouco aqui... — digo, arfando.

Eu nunca gostei de correr muito, nas aulas de esporte eu corria o mínimo possível para não poder me cansar, mas agora vejo que aquelas aulas estavam me preparando para isso.

— Droga. — murmuro, me virando de bruços e olhando o céu azul.

Algo se move na grama e vem na minha direção. Acho que é Rex se rendendo, mas acho que ele não poderia falar.

— Finalmente te achei. — é a voz de Ross. — Sabe quantos quilômetros você andou?

Olho para ele com uma expressão de que nem preciso saber, porque eu terei que voltar o caminho inteiro.

— Cadê Rex? — ele se senta ao meu lado.

— Não sei e não quero saber. Ele já me deu muito trabalho. — cruzo os braços.

— Eu vou procurá-lo, você fica aqui. — Ross se levanta e sai à procura do cachorro.

Fecho os olhos e espero os dois voltarem. Não se passa tanto tempo até que eu escute um latido e a risada de Ross.

Me levanto, à contragosto, e sigo os dois. No caminho, Ross não para de tagarelar sobre qualquer coisa que surja em sua mente; eu não falo nada, ainda estou arfando.

— Por que veio atrás de mim? — pergunto, não conseguindo mais me segurar para saber.

— Primeiramente você passou a manhã inteira passando por aí, então achei que tivesse caído num buraco. E em segundo, sua mãe me pediu para te chamar para falar algo com você.

— Aham. Eu não caí num buraco e não fiquei a manhã inteira passeando. — retruco.

— Você estava quase caindo em um. — Ross rebate com um sorriso irônico.

— Eu só estava descansando.

— Você quem sabe, mas se você não reparou, tinha mesmo um buraco a uns três metros de onde estava deitada. 

Não respondo, estou irritada e cansada para pensar em qualquer resposta. Depois de muito andar, finalmente vejo a fachada de trás da minha casa, corro o máximo possível até entrar nela e me jogar numa cadeira.

— Cadê o Ross? — a voz da minha mãe, pergunta.

— Deixei ele para trás. — minha mãe me olha assustada. — Ele está vindo. Diferente de mim, ele tem muita energia ainda.

— Tristan me disse que encontrou uma trilha muito boa para podermos caminhar amanhã e você vai. — acrescenta ela.

— O quê!? — arregalo os olhos, depois dessa caminhada que eu fiz não vou querer fazer nenhuma por um bom tempo.

— É. E o Ross também vai. — ela olha para a janela com se refletisse um pouco. — E também, Catherine, ele e você vão no supermercado agora para comprar as coisas para amanhã.

Que ótimo. Eu só queria tomar banho e me deitar em algum lugar, mas acho que não será possível.

Ross aparece na cozinha todo sorridente e vermelho, como se não tivesse perdido nenhuma e energia. Minha mãe explica para ele tudo o que disse para mim, ele assente e me olha.

— É para ir agora, mesmo? — pergunto.

— Sim, e como Tristan pegou o jeep e Ross não sabe pilotar uma moto, terão que ir a pé. — ela fala.

Só de falar as palavras a pé minhas pernas tremem. Não abro a boca para reclamar, mas saio mancando, propositalmente, para minha ver o quanto estou cansada de andar.

Ross e eu saímos andando até o supermercado e desta vez ele está calado. O caminho é estranhamente silencioso quando se trata do Ross e eu não ajudo em nada continuando com a boca fechada.

Entramos pela porta automática e o ar condicionado beija a minha pele quente.

— Ross — chamo — só um minuto.

Ele para e se vira para mim. Estou debaixo do ar condicionado da porta impedindo que esta se feche. Fui atrás de cobre e acabei encontrando outro. A segurança que está na porta me olha com um olhar preocupado me fazendo sair do paraíso e ir atrás de Ross.

Pego a lista do meu bolso e leio.

— Hmm pelo o que diz aqui precisamos de batatinhas, suco, e doces. — comento.

— Oi? Isso é exatamente o que não tem aí. — Ross responde indo para o setor de bebidas.

— É, sim.

— Cath, eu li o papel.

— Ah, droga. — minha boca se franze.

— Tá bom, precisamos de chá, pão e algum patê.

Atrás dele, monto um plano para conseguir pelo menos as batatinhas. Falo que vou atrás do pão e ando até o setor do pão depois de ter pego as batatinhas. Coloco, discretamente, na sexta do supermercado e finjo que nada aconteceu.

Ross olha para a sexta e depois para mim.

— Cath, o que é isso? — ele aponta para as batatinhas.

— Batatinhas? — me seguro para não rir.

Ross suspira, mas não diz mais nada. Enquanto ele pega as coisas da lista da minha mãe, eu coloco as coisas da minha lista. A sexta fica cheia de comida e finalmente a lista acaba e seguimos em direção ao caixa.

Depois de pagar e sair do supermercado, Ross finalmente abre a boca.

— Sua mãe vai te matar e você sabe disso.

— Não, ela vai nos matar. Afinal, você não me impediu de comprar nada.

Ele sorri como se a ideia de estar juntos em algo fosse bom.

— Se ela me perguntar eu falo que você pareceu uma criança de cinco anos que não aguenta um "não".

Sorrio com essa resposta e seguimos para a minha casa.

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