Capítulo X

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8 de novembro, 9:16 a.m

Acordo com a voz de Tristan gritando por de trás da minha porta. Abro os olhos e fico olhando para o teto por que parece ser cinco minutos pensando que poderia estar chovendo ou muito frio para caminhar.

Esperançosa, abro a cortina do meu quarto para ver o clima, mas, para a minha infelicidade, o dia está radiando raios solares, o que é muito incomum para um dia de novembro. Com a cabeça baixa, me troco e vou para o andar de baixo me preparar para o sofrimento. 

O som alto de uma música ecoa pela cozinha equanto Tristan passa por mim dançando com uma tigela na mão, meu pai está no fogão cozinhando algo que não cheira tão bem e Ross está com um sorriso e seu chapéu verde na cabeça. Não vejo minha mãe em lugar nenhum e isso me irrita. Ora, se ela não vai, porque eu tenho que ir? 

— Onde está mamãe? — pergunto olhando para meu irmão. 

— Vai saber. — responde ele com a boca cheia de banana. 

Com a testa doendo de tanto franzir meu cenho, relaxo o rosto e me sento na mesa ao lado de Ross. Meu pai se senta logo depois e começa comer o que eu acho ser alguma coisa com espinafre e tomate; Ross se ajeita na cadeira, incomodado, mexe em seu chapéu e depois em sua bochecha, a música é o único som na cozinha. 

— O que há de errado com você hoje? — pergunto à Ross, que agora está me incomodando.

— Hum? — ele me olha — Nada. Não tem nada de errado...

— Deixa ele paz, Cath. — meu pai intervém. 

Murmuro algo e pego alguma coisa para comer com esperança que minha mãe apareça para podermos acabar com isso logo. Depois de quase meia hora ela aparece com um sorriso radiante em seu rosto. Tristan grita um "finalmente!" e meu pai concorda com a cabeça; Ross se levanta e vai para o outro lado da cozinha. Minha mãe dá uma desculpa pelo seu atraso, mas em três minutos ela já está pronta para podermos caminhar. 

Coloco o meu almoço — minhas batatinhas e meus doces — na minha mochila, além de uma garrafa enorme de água. Depois de colocar meu boné vermelho na cabeça, todos saem da casa e ficamos na parte de trás da casa. 

— Onde ele foi parar? — Ross pegunta para meu irmão que fala que ele pode estar em qualquer lugar da fazenda. 

Raciocino para saber quem eles estão falando até me lembrar que existe Rex e que ele com certeza tem de ir com a gente. Rex aparece com a língua para fora e o rabo balançando, finalmente começamos nossa trilha que Tristan disse que existe. 

Subimos uma pequena elevação de terra e grama até chegar em uma caminho, que está uma perfeita trilha no meio, cheio de árvores e mato, além de ter várias pedras. O sol não está forte como imaginei que estaria e o cheiro forte de natureza predomina o ambiente. Ficamos em silêncio por muito tempo, mas Tristan o quebra colocando um som alto com a sua pequena caixa de som. 

— Tristan, o que é isso? — meu pai o olha.

— Se chama "finesse" do deuso chamado Bruno Mars. — comenta meu irmão aumentando o volume da caixa. 

— Como nós vamos escutar o barulho da natureza agora, Tristan? — minha mãe indaga.

— Essa é a verdadeira natureza, meus amigos. — Tristan responde, caminhando mais rápido e dançando ao mesmo tempo. 

Abafo minha risada e percebo que Ross está tentando fazer o mesmo. Olho para ele com um sorriso no rosto, mas ele desvia o olhar rapidamente. Sim, há algo muito errado aqui. Não sei por quanto tempo estamos andando, mas meus pés dizem que é há muito tempo. Meus pés doem dentro do tênis e minhas pernas começam a falhar. Não é uma boa hora para isso, afinal estamos em um caminho bem íngreme e apertado e tudo que tem ao redor são árvores densas. 

Para a minha felicidade nós nos sentamos em uma pedra para podermos comer o almoço. Abro minhas batatinhas e as divido com todos — minha mãe me obrigou a dividir se não ela as jogaria para os porcos e eu não duvido que poderia ser verdade —, o sol já está no alto e as nuvens não estão nem um pouco densas. Depois de almoçarmos retomamos o nosso caminho, que acabei descobrindo  que vamos ficar nisso até o final do dia. 

De repente me lembro que Rex está com a gente, procuro com o olhar mas não o encontro. Bom, ele estava bem quieto hoje; viro minha cabeça para o meio das árvores e vejo meu cachorro correndo loucamente atrás de um animal que está, com certeza, debochando dele. Meus pais estão ocupados discutindo com Tristan que a verdadeira música é aquela que tem algum significado super profundo, o que, é claro, Tristan se opõe firmemente. 

Corro atrás de Rex, que agora está mais descontrolado do que nunca. Percebo que tem alguém me seguindo, mas não paro. Meu cachorro corre até chegar em um lugar onde tem um lago e, pelo barulho, há uma cachoeira em algum lugar; não consigo mais escutar a música de Tristan ou meus pais discutindo com ele. Rex se vira para mim e late.

— Rex, você perdeu o juízo!? — grito com ele.

— Acho que quem perdeu o juízo foi você por sair correndo e não avisar ninguém. — me assusto com a voz de Ross. 

— Se não fosse por mim ele teria... — não termino a frase quando ouço algo caindo na água. É Rex. 

Fico parada, boquiaberta, quando vejo que ele está nadando no lago com a língua para fora todo feliz. Abro a boca para gritar para ele voltar, mas ela se fecha novamente quando vejo Ross pulando junto. Ele emerge com um sorriso no rosto e os cabelos todos bagunçados pela água. 

— Ross... — começo.

— Por que você não vem também, Catherine? — ele me interrompe.

— Prefiro ficar aqui, com as roupas secas de preferência. 

— Hum..., não. Acho que isso não vai rolar. — Ross sai do lago e me levanta até seus ombros onde me coloca, parecendo um saco de batatas. 

— Ross! Me deixa descer! — bato em suas costas. 

Meus chutes são em vão e logo sou jogada na água, que está super gelada. Agora estou borbulhando de raiva e lanço um olhar mortal para Ross, mas este só dá uma gargalhada em resposta. Quando ameaço sair da água, Ross segura minha mão e me olha; sem meu consentimento, minhas bochechas ficam quentes, retribuo o olhar, mas o meu está confuso. Não entendo nada quando ele começa a ficar mais perto de mim, meu rosto está todo quente e minhas pernas começam a ficar bambas. 

— Ei Ross! Você está invadindo o meu espaço! — finalmente palavras saem da minha boca. 

Como se saísse de um transe, ele balança a cabeça e suas bochechas começam a ficar vermelhas. 

— Ah... é... claro. — ele dá um sorriso sem graça. 

Saio da água e Rex, finalmente, me segue. Tiro meus tênis escharcados e ando descalça por um momento até me lembrar de Ross. Me viro e o vejo murmurando algo para si mesmo, calçando seus tênis e colocando seu chapéu verde. 

Será que ele ficou louco por completo? 

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