[20] Sem Band-Aids

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ROSEANNE PARK

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ROSEANNE PARK

Mercearia do Sr. Kazu.

23 de agosto de 2020, 8:15 p.m.

O psicológico é o maior de todos eles.

Cheguei a essa conclusão depois de muitas noites mal dormidas.

O psicológico ganha de todos eles.

No mundo da jogatina, existem aqueles que escondem o rei de paus debaixo da manga. No mundo da luta, existem aqueles que erram propositalmente o gancho de direita. No mundo da política, existem aqueles que prometem ajuda financeira, mas fazem um desvio proposital para ter todo o dinheiro para si. No mundo artístico, existem aqueles que juram estrelato, mas são sugadores de vitalidade e dinheiro.

Todos enganadores.

Mas nenhum deles são enganadores maiores que o nosso próprio psicológico. O psicológico ganha de todos eles, e eu descobri isso depois de tantas noites cheias de ansiedade e pouco sono.

Quantas vezes não acreditei nas palavras dos outros e deixei meu psicológico se alimentar disso? Me permitindo me atrofiar e apodrecer aos poucos...

Perdi as contas de quantas vezes ouvi gente encher a boca pra dizer que é feminista e, na primeira oportunidade que tem, dizer palavras rudes só porque uma mulher está se aventurando num suposto mundo de homens.

"Rosé, você deveria se arrumar mais e jogar menos bola", "Rosé, você deveria calar a boca, nenhuma garota deveria falar tanta merda", "Rosé, você deveria parar de se meter com os garotos, as garotas vão odiar você", "Rosé, você deveria isso", "Rosé, você deveria aquilo", "Rosé, você é um zoológico inteiro, porque as pessoas não se decidem com qual animal elas querem te ofender primeiro"...

Quantas vezes meu psicológico não pregou uma peça em mim?

Quantas vezes o meu psicológico não ferrou comigo só porque o psicológico das outras pessoas não conseguem lidar com o bom senso e a empatia que lhes parece faltar em massa?

Maldito do meu psicológico que acredita em tudo que os outros dizem mesmo que eu saiba que não é verdade.

Suspirei exausta, terminando de colocar as latinhas de SPAM na prateleira surrada e apoiando minha testa contra um pacote fechado de papel toalha.

Se nem mesmo eu sei quem sou, porque todo mundo se acha no direito de decidir isso por mim?

– Rosé, querida, seu horário acabou faz quinze minutos. – Senhor Kazu gritou do caixa com sua voz rouca.

– Só preciso arrumar essas caixas e já estou indo. – Levantei-me, sendo capaz de ouvir meus joelhos estralarem ao reclamar de tanto tempo estando agachada contra o piso velho de linóleo.

Ao que desmontava as caixas de papelão para guardá-las na pilha de reciclagem, pensava em como iria falar com meu chefe. Ele provavelmente dirá um "sinto muito, querida, mas sem chances". E ele tinha lá sua razão, mas a razão não vem sendo uma das minhas prioridades ultimamente.

pãoWhere stories live. Discover now