Encontro no auditório

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Este é o lugar

Kageyama olhou para o local indicado.

O prédio abandonado, era apenas uma construção mal feita parecendo precariamente perigosa. Aquele lugar já havia sido uma casa de eventos, tinha um auditório enorme no primeiro andar, e várias salas que antes eram usadas para reuniões no segundo. No entanto, agora as janelas do segundo andar ou estavam quebradas ou estavam fechadas e tão sujas que não se via o interior do prédio. 

Havia sujeira no chão para todos os lados. Papéis, poeira, restos de comida podre e até mesmo camisinhas usadas. Tsukishima provavelmente teria um infarto se estivesse naquele lugar.

Aquele lugar precário agora era o lar de drogados e mendigos. Até alguns prostitutos se arriscavam por ali, apesar da má aparência do lugar. No entanto, estranhamente não havia nem sinal de alguém a vista.

O moreno suspirou. Com certeza estava no lugar certo.

Silenciosamente, passou por entre a fresta da grande porta e adentrou o recinto escuro. Seguiu pelo corredor devagar, com cuidado para não fazer barulho e também por conta da falta de visão.

Apesar da boa visão que tinha naturalmente, até que seus olhos se acostumassem àquele lugar, teria que tomar cuidado.

Adentrou o que uma vez já fora um auditório para mais de trezentas pessoas. Desta vez, por conta de algumas janelas quebradas do lado esquerdo da coxia, a luz da lua criava uma luz bonita e prateada sobre um lugar, ainda que pouca. Então conseguiu distinguir as formas das poltronas reclinadas do grande auditório, e conforme ia andando ao centro do palco que havia ali, sentia cada vez a inclinação do lugar.

— Você veio — A voz era estranhamente melodiosa na escuridão. Mesmo com toda a adrenalina correndo pelo seu corpo, ouvir aquele tipo de timbre era surpreendente. Era suave. Não deveria ser uma voz mais autoritária?

Tobio semicerrou os olhos azuis.

— Sim.

— Bom — Um barulho alto a sua direita o fez virar a cabeça em direção ao som. Pôde perceber uma silhueta por entre algumas poltronas reclinadas. — Já faz um tempo que eu queria me encontrar com você.

— É mesmo? — Olhou para a direção da voz. — Então por que não aparece para podermos conversar de verdade?

— Não é necessário.

— Não é você quem decide isso — Tobio franziu os lábios. — Você me chamou para esse lugar nojento no meio da noite, o mínimo que poderia fazer é se apresentar de forma decente.

O Corvo ficou em silêncio, pensando nas palavras do alfa. Depois, lentamente foi em direção ao mesmo, adentrando no pouco espaço em que tinha alguma luz da janela quebrada, ficando alguns metros separados.

Kageyama olhou de forma estranha para o homem à sua frente, não conseguindo esconder a sua surpresa, mesmo que ainda não conseguisse enxergar o seu rosto.

O Corvo desconhecido era no mínimo quinze centímetros mais baixo que ele. Sua presença, ao contrário de ameaçadora ou intimidante, era apenas um pouco fria. Sua fisionomia era magra e aparentemente delicada.

Kageyama olhou em volta, confuso.

Aquele era o tal Corvo que tantos, inclusive ele, tinham uma imensa curiosidade em saber como era?

Aquele garoto franzino e vestido de preto era o líder dos Corvos?

— Hmm... Quem é você? — Perguntou Tobio, quebrando o silêncio.

O garoto inclinou a cabeça, confuso.

— Como assim? Você sabe quem eu sou!

— Er... Você é Hinata Shouyou?

— Sim.

— Não é não.

— O quê? — Ele se aproximou.

Mesmo com seus olhos já afiados, Tobio não conseguia ver nada além das vestes do garoto. Todo envolto em negro, desde as botas de couro até o casaco e o capuz. Mesmo suas mãos tinham luvas.

Tobio inspirou discretamente, procurando sentir o cheiro que ele emanava. Mas não havia nada. Um simples vazio.

— Não tem como... Você é mesmo o líder dos corvos? — Ele, mesmo sem querer, expandiu sua presença. Aquilo era alguma brincadeira com ele? Não era possível que aquela criança pudesse ser o líder de uma das gangues mais fortes do distrito.

O rapaz nem se mexeu diante a ameaça do maior. De fato, se não fosse suas mãos fechadas em punho, Tobio nem acharia que ele percebeu sua intenção.

— Chega desta conversa. Eu vim aqui a negócios.

— Só me responda uma coisa antes. — Kageyama controlou os próprios feromônios e disse — Se você realmente é o líder, por que veio pessoalmente tratar de um simples acordo de mercadorias? Geralmente quem faz isso são os negociantes. Você tem um, não é?

— Sim.

— Então porquê?

— Não é óbvio? — Mesmo não vendo direito, Tobio teve certeza de que ele sorriu. — Porque eu queria te conhecer.

Ele não estava preparado para aquilo.

Desde que ouviu falar dos Corvos, secretamente começou a admirá-los. Não pelo seu número, ou lucro. Mas pela sua força. Aquele distrito nunca havia sido de grande valor, de fato, desde que ganhou a liderança da gangue pela morte do seu pai, Kageyama evitou usar aquele lugar sujo, mesmo tendo a chance de dominar aquele espaço e transformá-lo em jurisdição dos Reis. Sua repulsa à aquele lugar era ainda maior do que a ambição dos seus colegas.

Até que o Corvo surgiu do nada.

Hinata Shouyou, um garoto sem passado, sem rosto, sem fraquezas, e que tornou aquele lugar muito poderoso.

Kageyama se perguntava quem realmente era o rapaz por debaixo do capuz.

— E então? O gato comeu a sua língua? — Ele disse, perante o silêncio do alfa.

Tobio piscou algumas vezes ao se tocar de que havia ficado em silêncio, se recompondo e voltando para a situação.

— Bom, o que você quer?

— Vim falar da ukai.

Tobio piscou, surpreso. De todos os assuntos possíveis que poderia imaginar, o líder dos Corvos vir pessoalmente apenas para falar sobre uma droga ilícita qualquer, com certeza não era um deles.

— Você está incomodado com alguma coisa? Nós não vendemos no seu distrito se é o que quer saber. Podemos fazer um acordo e mudar os locais de venda, mas isso seri...

— Não é isso! — Estranhamente a voz do mais baixo estava quase... ávida. — Eu não me importo onde vocês a vendem. O que eu quero saber é por que elas não estão mais no mercado negro.

— Bom, estávamos esperando uma nova remessa — Mesmo muito confuso, e sabendo que era burrice falar das suas mercadorias com o líder de outra gangue, o alfa se dispôs a explicar. — Está demorando porque os efeitos são mais eficientes. Provavelmente os ômegas... — A cabeça de fervilhou com uma ideia, fazendo-o se calar.

Olhou para o suposto Corvo, estupefato.

Não poderia ser...?

— Garoto, você... é um ômega?



[...]



// Ora ora, temos um xeroque homes aqui.

Corvos X ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora