Fuga

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Duas semanas haviam se passado desde que o médico designado pelo líder Nekoma começou a cuidar do herdeiro alfa.

Ele fazia seu trabalho com cuidado e maestria. Kemma percebeu que em nenhum momento do dia ele estava sozinho. Mesmo quando se esgueirava para o telhado para jogar no celular, conseguia sentir a presença do médico alfa a alguns metros, sondando-o com os olhos escuros. Ele nunca se aproximava, como se quisesse dar privacidade.

Kemma era muito descuidado com a própria saúde. Além de evitar refeições durante o dia, comia muitos doces e não praticava exercícios além das aulas de esgrima que seu pai o obrigava a fazer desde os nove anos.

Porém, sem que percebesse, o alfa havia se aproveitado disso. Além de enganá-lo nas refeições: encarando-o tanto até que kemma o fuzilava com os olhos de gato e comesse a comida com ódio, sem perceber até olhar para baixo e ver o prato que estava cheio, agora totalmente vazio.

Ele também se certificava de colocar uma garrafa de água onde quer que o loiro se esgueirasse.

Em certa noite, Kemma foi brilhantemente para o telhado da área norte da mansão, convencido de que havia despistado o médico perturbadoramente bonito. Mas quando se acomodou entre as telhas percebeu uma garrafa de água e um lenço claro depositados delicadamente entre uma fresta.

Com um grito raivoso, ele quase jogou o celular longe.

Outra vez, quando se escondeu em um dos quartos dos criados na mansão, ele havia arranhado o pulso em um dos pregos na parede. O corte sangrou e manchou sua camisa de seda, mas o alfa ignorou a dor e continuou a tentar despistar aquele médico intrometido.

Porém, quando acordou no seu quarto no dia seguinte, deitado espalhado na enorme cama dossel, seu pulso havia sido enrolado delicadamente com uma gaze.

Com um grito raivoso, ele jogou um dos travesseiros na parede.

O pior é que Kemma conseguia sentir os olhares em si, cada vez mais frequentes. Estava muito longe para poder sentir feromônios, mas ele não sabia explicar esse sentimento. Como se ele fosse uma presa encurralada de um lobo faminto por sangue.

Então kemma evitou, correu pela mansão enorme, entrou em cômodos alheios, faltou às aulas de escrita e idiomas, mexeu nos documentos proibidos na biblioteca, roubou as maçãs (favoritas do seu pai) da cozinha. Fez amizade com um limpador de estábulo e flertou com uma criada de olhos castanhos e sorriso bonito.

Tudo para fugir do olhar daquele homem que o deixava estranho.

Mas isso não havia sido tudo em vão, na verdade, antes desse homem chegar, o herdeiro já tinha um plano. Com muito custo e alguns subornos ele havia conseguido uma passagem de saída daquela mansão por um dia.

Todo ano os Nekomas tinham uma tradição chamada "Dança da rua". Era um pequeno festival dançante onde algumas pessoas de fora entravam no distrito e socializavam com os nativos Nekoma. Comidas típicas e exóticas, tecidos importados, jogos novos fabricados, rodas de histórias e claro, muita dança. Era uma oportunidade única e ele não iria perder.

Kemma só havia ido uma vez na dança da rua. Ele tinha por volta de sete anos mais ou menos e tinha boas lembranças daquela vez.

Tobio e seu irmão mais velho estavam lá, assim como a senhora Kageyama, que era grande amiga da senhora Nekoma, e um pequeno grupinho de crianças que kemma odiou. Eles corriam muito e eram muito barulhentos. Claramente essas crianças sem causa já estavam sob a influência do mimado Herdeiro Rei. Tobio sempre estava no meio do grupinho, de nariz empinado e olhos azuis arrogantes.

Eles eram muito novos, então é claro que o herdeiro Rei não se importou em fazer amizade com o herdeiro Nekoma, apesar da insistência da mãe. E Kemma também não estava interessado naquela criança que ganhava tudo que pedia e depois de cinco minutos perdia o interesse e queria outra coisa.

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