Acerto de contas

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— Senhor, uma ligação para o senhor

Tsuki levantou os olhos dourados da ficha em suas mãos ao ouvir o guarda lhe dirigir a palavra. Bastou um aceno seu e o homem, engolindo em seco, colocou o aparelho no ouvido novamente enquanto se retirava em direção a saída da fábrica onde estavam.

— O senhor Kei não pode atender no momento...

Aquele lugar já havia sido uma indústria de bebidas alcoólicas há muito tempo, no entanto havia caído em falência no início dos anos oitenta, o que fez com que a família dona do negócio fechasse as portas em desgraça.

Por um acaso, um dos antigos Reis havia se interessado e comprou o lugar para realizar suas transações ilícitas. E desde então aquele lugar era o palco de vários acontecimentos. Ao contrário do clube, onde Tsuki realizava seus acordos no melhor dos ternos, com seus contratos desenhados em suas assinaturas elegantes, ali era exatamente o oposto.

Aquele era o lugar sujo. Além das paredes escuras e pichadas da fábrica, ela era quase totalmente fechada, o que era uma vantagem também. O chão era tão imundo e pegajoso que as solas dos seus sapatos grudavam no chão ao andar.

Tsukishima odiava aquele lugar com todas as suas forças. Odiava a sujeira, o cheiro, a aparência nojenta... para ele, tudo era repulsivo. No entanto, sua opinião não importava naquele trabalho.

Ele estava em uma sala em um dos andares de cima. Perto da cadeira onde estava sentado — devidamente revestida em plástico para que ele não precisasse tocá-la — havia uma mesa com alguns objetos em cima. Além de um abajur para trazer luz ao cômodo, e a ficha que estava lendo até ser interrompido. Com um suspiro resignado, voltou a se concentrar na leitura.

A dois metros de distância do loiro, havia uma gigante corrente de prata presa pelas vigas do teto, uma das poucas coisas que não estavam caindo aos pedaços.

A corrente tinha um detalhe curioso no entanto: estava completamente enrolada nos braços, nos pés, nas pernas, no pescoço de um homem completamente nu e ensanguentado sustentado de cabeça para baixo pela corrente.

— P-p-por... p-por favor... eu... — O homem engasgou com o sangue em sua boca. No entanto, a dificuldade em respirar era tanta que ele mal conseguia cuspir, então o líquido vermelho escorreu de sua boca de forma à pingar no chão da sala mal iluminada — e-eu... prom-meto... eu..

— Pode se calar, por favor? Estou tentando ler. — Tsuki voltou a atenção ao homem, reclamando. Logo em seguida torceu o nariz. — Ah! Você é nojento. Olha todo esse sangue no chão! Qual é o seu problema? Nem na sua forma mais patética você consegue ter o mínimo de elegância.

O homem emitiu o que poderia ser um choro misturado com engasgo e respiração entrecortada. Tsuki então respirou fundo e retirou seus óculos, colocando-os exatamente em um pano branco em cima da mesa, para evitar qualquer tipo de contato com o lugar imundo.

— Peço desculpas pela minha grosseria, confesso que estou um pouco irritado.

Ele se levantou com a ficha em mãos. Bom, mãos cobertas com as luvas de látex descartáveis. Na verdade, ele inteiro estava "protegido" com um jaleco branco, as luvas e uma máscara que inicialmente tampava seu rosto, mas que agora estava abaixada para ele poder falar e ser bem compreendido.

— Sabe, eu achava que você seria mais interessante. Aqui diz que você foi pego pelos seguranças de um shopping por furto a os 12 anos, liberado por um responsável e depois só o que tem na sua ficha é o que tem na de todos os outros. Drogas, cartéis, tráficos de armas... Eu achei que pegar o responsável pelo sequestro dos garotos do meu Rei seria mais prazeroso. Mas... você é apenas um ratinho, não é, Yumika-san? Como um nada como você se tornou um sócio nosso? Sempre me perguntei...

Corvos X ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora