Ômega Dependente

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Shouyou caminhava devagar por entre os prédios velhos e mal encarados do bairro, às duas da manhã.

Apesar de estar usando capuz, quem conhecesse a região e  puxasse a vestimenta reconheceria os fios ruivos na mesma hora, e talvez se isto não bastasse, a tatuagem de corvo no pescoço o denunciaria com toda a certeza.

Fosse perigoso ou não andar por aquele lugar, o simples fato de ser quem era já o protegia de associados obsoletos nos assuntos da máfia.

Mesmo assim não quis arriscar, dado o número crescente de corpos que estavam aparecendo na região.

— Ei, garoto. Está livre? — Um homem surgiu na esquina do beco em que o mais baixo entrava. "Livre" com certeza era uma gíria usada na região para prostituição.

O ruivo franziu a testa ao sentir o cheiro inconfundível de alfa no homem claramente bêbado à sua frente.

— Saia da minha frente.— Disse em um tom autoritário que não condizia com a sua estatura baixa e o corpo magro.

O alfa sorriu em escárnio, se aproximando. Suas vestes cheirava fortemente a tequila, e o bafo azedo chegou às narinas do menor, que apenas pôde inclinar a cabeça para o lado, enojado, de modo que alguns fios escapassem para a testa.

Quando o homem chegou a uma distância considerável, fungou provavelmente esperando o cheiro de medo ou inquietação por parte do outro que se encontrava parado desde o início do "diálogo".

No entanto o que sentiu foi apenas um vazio. Nenhum cheiro, nem feromônio sentimental.

Era como se o garoto a sua frente literalmente não sentisse nada.

— Ei, não seja assim. Deixe eu sentir você... — Ele claramente tomou uma decisão idiota ao se inclinar para cheirar o pescoço alheio, pois estava tão focado em sua própria luxúria que nem sentiu a ponta fria de uma lâmina tocar o seu pescoço.

E quando percebeu já era tarde demais. O sangue jorrou sem dó da jugular do alfa, sujando o chão do beco e suas próprias vestes.

Nem mesmo um som pôde fazer, suas mãos apenas tocavam a garganta esperando estancar o sangue, tentando inutilmente se agarrar à vida, enquanto encapuzado continuava seu caminho, como se nunca tivessem se encontrado.

Mesmo os choramingos abafados não o fizeram vacilar os passos.

[...]


— Quatro carregamentos? Você está louco!? — O alfa Tanaka Yuu, seu homem de mais confiança e um dos poucos que poderia insultá-lo sem perder a vida, esbravejava da sala em que estavam.

Era um lugar espaçoso e familiar. Um grande armazém abandonado que servia de casa para os garotos Corvos, uma das maiores gangues da região, perdendo apenas para os Reis.

No entanto, mesmo sendo o líder deles, Hinata não podia deixar de admitir apenas para seus companheiros mais próximos — e quando bebia muito — que não poderia realizar todas as coisas sozinho. Seus homens do seu circulo íntimo, além de serem sua família, conheciam seu lado carinhoso e gentil que raramente era mostrado em público.

De qualquer forma, Tanaka ainda reclamava com ele.

— Você não entende Yuu, eu já estou há seis meses sem a droga.

Hinata abaixou os olhos para as botas de couro que usava. Boa qualidade, couro flexível... Mais um dos seus brinquedos do dinheiro do tráfico de notas.

Mas isso não era capricho, era necessário.

— Não posso entrar em mais um cio, você não sabe... — Sua voz falha. Não adiantava lamentar o passado, afinal se fosse assim ele nem estaria vivo dado as memórias dolorosas da sua família biológica. Ele fechou os olhos, engolindo em seco. 

Mas o que não podia deixar de lamentar era a sua natureza indelevelmente ômega.

Era chefe da gangue dos Corvos há anos, criara sua fama de acordo com suas ações e objetivos incontestáveis.

Era um Corvo que quando queria algo, ia atrás sem nem hesitar e atropelando todos em seu caminho. Sem contar os assassinatos, os quais não se arrependia nem um pouco, afinal nenhum faria falta ao mundo.

Ele havia aprendido a ser assim da pior forma possível. Não adiantava mostrar gentileza a todos no mundo deles.

Mas... não podia mudar o fato de ser ômega e que entraria no cio sem nenhum pingo de dúvida, isto é, não se não tomasse a mais nova droga no mercado negro, a quem chamavam de ukai.

O nome se dava ao fato de ter sido produzida pelo cientista Ukai, um dos homens do distrito dos Reis.

Apenas um comprimido já inibia os cheiros característicos de um ômega ou qualquer algo do tipo, e sendo tomado por dias nos horários certos, acabava bloqueando até oitenta por cento das sensações que seriam sentidas em um cio normal. Claro que privar-se de tudo era impossível, no entanto Hinata já estava naquilo a tanto tempo, que sem perceber dependia profundamente da droga, de modo que nem lembrava-se mais qual foi a ultima vez que fez sexo por causa do cio.

No entanto, o motivo pelo qual começara a tomar a substância ilícita era o que mais o empurrava em direção ao vício. E se dependesse dele, se realmente o fizesse esquecer o que era, se entregaria à aquilo de bom grado.

— Olha, Shouyou... eu... acho que você deveria parar. — Tanaka hesitou. Como um dos melhores amigos dele, sabia mais do que ninguém o que o levou a aquele caminho, mas mesmo que fosse difícil falar, até para ele, o fato de ver o chefe dependendo de uma seringa o machucava profundamente.

A risada doce do menor preencheu o ambiente. No entanto ele apenas disse:

— Meu amigo, há certas coisas que são mais fortes que nós. E mesmo que seja o que eu precise fazer para ter a droga novamente, eu vou falar diretamente com os fornecedores e saber o porquê da demora de entrega.

O coração do alfa falhou uma batida. Tinha uma boa ideia do que ele estava falando.

— Não me diga que... Hinata, não faça nenhuma loucura — Estava estampado na cara do ruivo suas intenções. Em seus olhos frios, cor de mel derretido.

Ele estreitou os olhos e disse:

— Eu vou falar com os Reis.

[...]







// Hey, galera. Só pra deixar claro, quero que tenham em mente que nem todo mundo é "bom" ou "mau" nessa minha história. Alguns atos e palavas as vezes escondem mais do que dá pra perceber. Então não façam nenhum pré julgamento tão rápido. Vamos ser pacientes e tentar ver de todos os lados.

As vezes podem tacar o foda-se sim, mas dai estejam avisados que vocês podem levar um tombinho. :)

Corvos X ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora