Velório

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Os reis tinham um vasto território, e com isso um local próprio para enterrar os seus. Era uma bonita clareira perto da base. Infelizmente, havia muitos túmulos, mesmo ao passar dos anos.

Eles eram honrados.

Independente da religião sempre foi respeitado o que cada família desejava. Se alguns queriam cremar os corpos, Tsuki providenciava isso. Se outros queriam doar os órgãos para os médicos contratados do clã, Tsuki providenciava isso. Se outros só queriam que seus entes fossem lembrados, as lápides seriam de acordo.

Tobio se sentia mal. Ele estava se preparando para o velório. Ele diria para aquelas pessoas presentes algumas palavras de condolência, e assim a cerimônia daria início.

Para os outros ele colocava uma postura dominante e o olhar frio que aperfeiçoou desde criança graças ao seu pai, mas nesses momentos ele sentia falta da sua mãe. A senhora Kageyama era sim uma pessoa naturalmente fria, e apenas sua postura já era o bastante para afastar os olhares maliciosos e inquisidores. Mas com seus filhos, até mesmo quando estava repreendendo duramente por algum erro cometido, suas palavras continham um tom suave de preocupação e carinho.

Mas ele podia imaginar facilmente sua mãe ao seu lado, com os mesmos cabelos negros e olhos azuis. Sua postura sempre ereta e elegante. Ela estaria vestida com o mesmo tom escuro de seu terno, e em seus olhos um pouco de pena e tristeza pela morte daquelas crianças.

Kageyama tinha que visitá-la em breve. Tsukishima também.

Enquanto o Rei estava imerso em pensamentos, as pessoas começaram a chegar na clareira. Algumas famílias mais influentes eram acompanhadas por seguranças e empregados. A maioria se vestia bem, desde ternos elegantes feitos sob medidas até vestidos com tons escuros e esvoaçantes chapéus. As senhoras de mais alta classe mantinham seus rostos protegidos enquanto seus maridos tinham expressões neutras.

As famílias mais humildes que chegavam, estavam mais imersas em sua tristeza e a maioria não escondia a dor. Como os assassinatos ocorreram em um clube renomado na região e as vítimas eram todos os garotos da casa, não era de se surpreender que a maioria fosse o sustento da família.

Não era vergonhoso ser um garoto do clube, de forma alguma. O problema é que os clientes mal intencionados nem sempre eram responsabilizados por seus atos, principalmente quando eram pessoas poderosas.

Tobio podia imaginar que a maioria daquelas pessoas influentes que apareceram no velório tinham preferências por alguns daqueles meninos que foram assassinados. Isso o deixou com uma sensação nauseante de déjà vu. Ele olhou para Tsuki quando se lembrou de algo.

Mas o homem alto e loiro ao seu lado não parecia incomodado. Ele apenas observava as pessoas chegarem de forma fria e objetiva. Sua aparência estava impecável como sempre, o terno escuro realçando a pele clara.

Notando seu olhar, Tsukishima levantou a sobrancelha.

— O que foi?

— Você está bem?

— ... Estou bem. E você? — Perguntou educadamente.

— Estou ótimo.

— Que bom.

— Sim.

Os dois olharam para frente. Dois segundos depois Tsuki sussurrou:

— Está quase na hora. Acho melhor você começar.

— Tudo bem. — Ele assentiu, e se dirigiu para iniciar o discurso. Mas antes que se afastasse demais ele ouviu:

— E eu ainda quero saber o que aconteceu com seu pescoço.

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