Segunda Prova

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"É dado um deleitoso fim para todos aqueles que decidem empunhar suas forças contra feras que a natureza, misteriosamente, insiste em criar"

Era com essa frase em mente que os caçadores iniciantes aceitavam a meia-lua marcada em seu ombro direito, e no esquerdo para as garotas. Com um ancinho fervente, era feita a marca com um cuidado de artesão. Para que não se tornasse horrenda e ferisse a imagem dos caçadores, por mais sujo que seu trabalho pareça e de forma indecorosa possa manchar a humanidade deles, deveria, portanto, ser bela e representar para todos a aceitação da dor e de carregar a sina que esse juramento trazia.

Naquele começo de tarde, aonde o Sol Alto reluzia sem pudores sobre todos, dezenove jovens, titularizados como caçadores iniciantes recebiam a marca.

Na entrada de seu curso na Academia, de forma subjetiva, todos juraram empunhar com honra e respeito o objeto que escolheram, seja ele uma arma, item ou instrumento, pois como Rob disse para todos.

"O objeto que usam na caçada sobrepõe a simples ideia de uma arma comum e se tornam o símbolo da vontade e esperança de nosso povo, portanto, acreditem que seu objeto é parte de sua vida como caçador e que complementam sua alma"

Isso era parcialmente uma crença entre os caçadores velhos, mais presente na Torgon, mas para os jovens eram palavras de esperança e convicção.

Como um adendo final de Kannandis, criando aquela velha mudança nos planos. A diretora avisou que o tempo para concluir a prova seria de um dia, se passasse disso, mesmo voltando vivos, receberiam o selo de Dwalfar. Em vista o desânimo que assolou os caçadores, ela os aliviou dizendo que os portadores do selo, em casos extremos de falta de contingente, são chamados para atuar como caçadores e que, se mostrarem dignos e aptos, recebem a marca de 

Torgon (nome alternativo a marca de caçador) acima do X de Dwalfar.

Kendrick se despediu de Alfred com um toque de mãos e um abraço terno. Dilo e Luna se beijaram com ternura. Mozart e Yunkay deram um salva de boa sorte para Acsa. Alfred abraçou Maylinn desejando e pedindo aos deuses que a protegessem, a primeira garota que o encantou genuinamente.

Não demorou muito até todos se despedirem e desejarem sorte na caçada. Os dois juramentos foram feitos e a marca nos ombros ardia. Um segredo proferido por Mich – A cicatriz continha um pouco de sangue de Cão, Raposa e Nisemono, numa tentativa nova e sem embasamentos de fazer o caçador sentir um ardor quando estiverem perto de demônios. Foi uma ideia da Nova Torgon, nunca antes testada e basicamente uma aposta desfalcada sem consequências.

O grupo de Mozart seguiu rente as montanhas. O grupo de Kendrick seguiu rente a floresta fechada e inquieta de árvores vermelhas – o bosque carmesim. Acsa, Pearl e Maylinn decidiram procurar sua presa no lago aonde se passava o conto da Dama Vermelha e o Caçador Branco.

As muitas, estreitas e longevas árvores avermelhadas preenchiam a visão em todos os lados. Era uma paisagem manchada de carmesim e terra trazendo para aqueles que a adentravam a intimidação de um lugar belo e vil. O vento transpassava com dificuldade as folhagens em demasiado e ia delineando um silvo agudo no ouvido de Kendrick, isso o incomodava, de certa maneira.

Para ele, o momento poderia ser resumido em "esperar", a cada passo dado ele se sentia como um coelho caminhando para a boca do lobo. Sentia seu coração acelerando, batendo descompassado no minúsculo espaço e sua mente variava em polos de calmaria e desespero. 

Em busca de força, ele olhou Bacchiro e Sayuri que estavam na sua frente, pelas costas eretas e firmes, andando rente a trilha sinuosa que se encontravam, ele apenas viu coragem.

Olhou para seu lado direito e viu Dilo, o medo nos olhos dele o aliviavam grandemente e o fazia se sentir normal, não um covarde.

— Ei, acho que vai ficar tudo bem — afirmou Kendrick, tentando consolar Dilo.

Um Caçador: Humano ou Demônio?!Onde histórias criam vida. Descubra agora