Da Ilusão a Lamina

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Consegue ver ruivo? Eles são tão patéticos e eu também, pois é somente perto de você que sou algo. Somente por você ganho significado.

O velho senil arregalou os olhos em absoluta fúria, fitando uma escuridão sem importância a sua frente.

Parece que está pronto. Finalmente vai me dar o seu gosto. Pois conforme você caiu para me dar um significado, eu tenho que cair para lhe dar uma benção.

A carranca furiosa do velho se fechou numa face triste. Longos fios de um vermelho sujo caiam sobre o nariz. Com a mão direita, o velho gentilmente acariciou o crânio e com a força necessária para erguer uma folha ele o trouxe para si. Selando com um beijo a ossada fétida que naquele momento era tão doce.

O quarto pequeno e escuro que o velho estava sentado se abriu abruptamente. A escada pequena, as paredes sujas, o chão de madeira velho, as tochas e seus fogos escuros desaparecem, até a poeira que era visível no ar sumiu e tudo isso deu lugar a um campo verdejante com uma grama rasteira e nenhuma árvore à vista.

O velho senil sentado sobre a cadeira via a paisagem que estava com assombro e fascínio. O sol sozinho em céu azul sem nuvens jorrava sobre ele raios calorosos. Ele podia sentir o calor agradável aquecendo seu corpo, revigorando uma energia há muito esquecida.

O campo parecia ter saído de uma pintura dentro de um sonho de primavera. Um sonho agradável que só poderia vir de um cochilo debaixo da sombra de uma árvore aconchegante. O velho fechou os olhos em doce nostalgia e ao abri-los foi pelo som do farfalhar de folhas. Pois na sua frente a grande árvore de sua lembrança se mostrava no campo.

O velho tentou levantar, mas era esforço demais. Caiu no chão fofo e arrastou até o pé da árvore, até a sombra desejada aonde lá ele teria o descanso que almejava.

Já deseja descansar?

Um forte vento assolou a árvore, arregando-lhe diversas folhas e até alguns galhos cederam. O velhou olhou para a cadeira. Uma pequena criança estava sentada. Tão pequena que a espaçosa cadeira parecia mais uma mesa a ela.

— Ei, vai descansar agora? Nós ainda não brincamos conforme prometido tio. O velho tentou falar. Abriu a boca, gesticulou a língua e soltou ar, mas saía somente um som rouco. Ele começava a sentir agonizado, seu peito com dor aguentava o coração acelerado.

— Ei, tio, o que aconteceu naquele dia? Você lembra? Estávamos indo brincar — O velho se contorcia com a voz infantil narrando o preludio de uma história que só causara pesadelos — era um dia especial para mim. E eu queria comemorar com você, meu tio favorito, também meu único tio — ela riu. Com a gargalhada inocente de uma criança e o som pareceu rasgar os tímpanos do velho — Não tinha como saber, certo? Que aquele seria meu último dia.

A expressão bondosa e cheia de amor da criança ficou fria e com uma seriedade anormal para aquela idade.

— Num campo como esse. Embaixo de uma árvore como essa eu estava nas suas costas e você me ajudava o galho mais alto para eu me sentir maior que você. Até você começar a tremer e sussurrar palavras estranhas, depois disso, me jogou ao chão. Lembro da dor da queda. Azar, certo? Numa grama tão fofa eu cair e bater a cabeça em uma pedra.

Lembro do sangue escorrer quente e a dor não ser mais importante, ser apenas um tipo estranho de sono. Eu só queria dormir — O velho chorou. Silenciosamente ao lembrar com clareza desse dia. — Foi aí que você me olhou com olhos roxos. Purpura, logo a cor da minha flor favorita. Mas foi breve, como um raio e a cor sumiu dos seus olhos, porém você continuo assustador.

Um Caçador: Humano ou Demônio?!Onde histórias criam vida. Descubra agora