cap. 2 - dançando com um fantasma

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rey's pov


acorde, o escuto sibilar em minha cabeça. talvez nada disso seja real, talvez eu queira que seja.

abro os olhos e ele está lá, novamente, me observando dormir:

"vamos?" mas sei que ele não está aqui, que é a apenas a força nos unindo. de novo, talvez eu queria que estivesse. é menos solitário quando não se caminha para a forca sozinha. 

traidora é o que ele mais fala, e apesar de eu não querer admitir isso, traidora é o que eu sempre fui. eu nunca tive tanta luz quanto quis deixar transparecer. 

troco minha roupa e ajeito o cabelo, sem me esforçar para ficar bonita, afinal sei que para onde eu vou não existe beleza, apenas rastros de destruição.

kylo já havia partido, me deixando a sós com meus pensamentos e com um sabre, o que não sei se foi uma boa ideia, visto que não estou em minha melhor forma mental. recorri aos mestres, mas ninguém trocou uma só palavra comigo, nenhuma sabedoria, nada. não sou só eu que não confio em mim, pelo visto.

saio dos meus aposentos e vou até minha nave, praticamente dissociando, quando esbarro em alguma coisa, que assim que levantei a cabeça percebi que era finn, de novo. 

"rey! aonde você vai com tanta pressa? não temos nada marcado para hoje" ele fala, mesmo que eu não tenha perguntado. às vezes ele me lembra o c-3po com sua falta de noção. 

da onde eu estou tirando tanta raiva? parece que me trocaram na batalha e eu estou perdendo a luta. talvez isso seja mais difícil do que eu havia pensado.

você está no caminho certo, rey.

às vezes a luz não consegue  iluminar a escuridão.

"rey? fala comigo!" e só então eu percebo que meu silêncio foi longo demais, e que, devo dar uma satisfação à finn, mesmo que seja falsa, já que não sei se ele aguentaria a verdade, nem eu estou aguentando.

"ahn.. eh.. oi" gaguejo, olhando para o chão como se ali tivesse todas as respostas que procuro e todas as soluções que almejo, mas não tem, então eu improviso " vou dar uma volta, estou precisando de ar"

"quer que eu te aocmpanhe?" olho para baixo e mexo a cabeça para os lados, dizendo gentilmente que não, o que até me surpreende "por favor, você parece que está precisando de um ombro amigo"

e então eu perco a paciência (será que é por isso que o kylo tem aqueles ataques de raiva?)

"finn, caso eu não tenha deixado claro, eu quero ir sozinha, pois tenho que respirar. você sabe o que é isso, né? inspirar e expirar tranquilamente; significa que estou com coisas demais na minha cabeça e que preciso de um tempo. entende?" digo, quase gritando, quase chorando, quase fazendo a palma da minha mão sangrar porque finquei minhas unhas nelas com força demais e não tinha percebido até então.

deixo finn com a cara no chão enquanto me dirijo a minha nave. sento para pilotá-la e percebo que não trouxe nada comigo, tenho apenas o sabre de luke que inclusive não sei o que fazer. deveria tê-los deixado enterrar junto à leia. eu não o mereço. não mais.

saio da orla exterior rumo ao que não gostaria de chamar de futuro, mas eu fiz minha escolha.

-

chegando na nave dele, vejo os stormtroopers pelo vidro, e lembro de finn, do quanto ele foi corajoso ao escapar dali. eu? eu estou fazendo o caminho contrário, indo de braços abertos e por livre e espontânea vontade. sou uma decepção.

não. você é forte, aqueles que ficaram para trás não chegam aos seus pés. a força não só está contigo, como a força é você. 

passei tantos anos sozinha em jakku que até mesmo a companhia de uma voz me deixa feliz, e eu sei o quão ruim é isso. 

eu sei porque os mestres não me atendem. 

eles não são mais meus mestres.

-

ao pousar a nave eu o vejo. está com as duas mãos para trás e com seu capacete. grande imitação do avô. desço e sou revistada por dois stormtroopers, que acham "meu" sabre de luz e o recolhem para kylo ren. 

quando me aproximo, ele retira seu capacete e me encara com o olhar, até falar "oi, bem-vinda".

dez letras, duas palavras, um tom. ele não sentia raiva, ele realmente se importava. e sim, isso me abalou um pouco. 

todas as vezes que eu pensava em kylo eu lembrava do homem que matou seu próprio pai, sempre "o monstro", nunca tinha me passado pela cabeça que ele tivesse sentimentos. e sim, talvez eu estivesse dentro da cabeça dele um pouco e... ele deixou eu estar. ele quer que eu saiba que serei acolhida aqui.

"quando começaremos o treinamento?"


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