𝐄𝐧𝐭𝐫𝐞 𝐋𝐢𝐯𝐫𝐨𝐬 𝐞 𝐓𝐚𝐥𝐡𝐞𝐫𝐞𝐬 | 𝐒𝐨𝐚𝐡

𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐈 • 𝐎 𝐍ã𝐨 𝐂𝐚𝐫𝐢𝐬𝐦á𝐭𝐢𝐜𝐨 𝐍𝐨𝐚𝐡

Boa leitura!!

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- Atenção! Última chamada aos passageiros da via 397, o trem partirá em cinco minutos.

Foi com essas palavras ao fundo que Noah Schnapp atravessou todo o espaço entre a bilheteria e a plataforma, entrando em seu vagão com a respiração pesada.

Engana-se quem pensa que ele estava atrasado, pois horário era algo inexistente para voltar para casa em pleno sábado na sua idade. Mas, o garoto, nervoso a maior parte do tempo, parecia estar extremamente atarefado com algo de grande urgência. Uma pessoa dramática, diria sua severa e gentil mãe, Karine Schnapp, a quem pouco havia puxado além dos olhos verdes e a baixa estatura.

Tomando o fôlego perdido na curta carreira, sentou-se num banco com menos pichações de caneta permanente. Por sorte, nos finais de semana, não ficava tão cheio, com apenas uns poucos desafortunados que trabalhavam sem folga e algumas pessoas avulsas que parecem sair de casa quando só tem gente dessa espécie diferenciada de ser humano na rua. Então, ao menos naquele dia em específico, pôde escolher bem seu assento no vagão econômico, tomando o cuidado de evitar um trio de idosos musculosos em uma conversa amigável algumas cadeiras mais a frente.

Não era a primeira vez que fazia aquele trajeto de Manhattan para a sua cidade, por isso já tinha aprendido com o erro de umas semanas antes, quando, inocentemente, cumprimentou o seleto grupo e foi bombardeado com discursos de como deveria começar a cuidar bem do corpo desde cedo, que se arrependeria na idade deles e parecia uma garota de tão magro e pálido. Preferia evitar esses comentários, não é como se ele mesmo não soubesse disso, tinha espelho em casa afinal, não precisava de um bando de velhos com o tronco enorme e as pernas finas, parecendo peras, tentando ensiná-lo sobre padrão de beleza.

Em uma clara tentativa de se distrair desses pensamentos e da manhã horrível que teve, puxou seu fone sem muita delicadeza e plugou rapidamente no celular ultrapassado, buscando qualquer melodia escandalosa que pudesse surrar seus ouvidos até a música se tornar mais alta que suas lembranças do grande e gordo: "Sinto muito, mas procuramos alguém mais carismático para a vaga" que ecoava de tempos em tempos desde que foi eliminado do processo seletivo naquele mesmo dia.

Na hora, tudo que fez foi sorrir, agradecer e se retirar de cabeça erguida, mas a reação em si era completamente mecânica, algo que treinou seu corpo a fazer remotamente sem nenhum tipo de orientação de sua parte. Não era a toa que sua atuação de pessoa forte estava se tornando mais convincente, já era a quinta vez que precisava dela em um curto espaço de tempo de meras três semanas. Sua dignidade devia pedir férias depois de ter sido ferida vez após vez.

Sabendo que o caminho não levava mais de meia hora, encostou o topo da cabeça no vidro meio embaçado de sujeira por dentro e neblina do início de tarde fria por fora. Sua intenção era tirar um cochilo rápido, talvez apenas fingir estar relaxando, porém todo o estresse que foi se esvaindo pelo tempo voltou como um baque depois de ouvir algumas falhas no fone esquerdo, para então averiguar que somente o direito funcionava.

Ótimo! Arrependeu-se instantâneamente da falta de cuidado, principalmente porque ela não era algo usual. Visto que sua família, apesar de não ser exatamente humilde, ainda assim não tinha grandes condições, ele sempre se esforçava para manter suas coisas ajeitadas, em especial, as mais caras, e o fone da Apple se encaixava bem nesse grupo.

Foi se controlando para não dar uns bons tapas no próprio rosto por sua burrice, uma vez que nunca teria coragem de pedir por um novo. Aquele emprego de vendedor numa das lojas de roupa do shopping da cidade serviria como uma luva naquele momento, mas nem isso ele conseguiu.