ABSURDO DESOLADOR

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Cheguei a Rua Dom Joaquim de Mello, nome da rua dá minha casa, e nas vizinhas, Rua Jumana, Rua Canuto Saraiva, Rua Sarapui e em todas as outras da região a visão era negra, de um absurdo desolador.

Era como se todos os pesadelos, não só os meus, mas o de toda a população tivesse emergido para a realidade, como se todos os mortos com deficiências físicas e mentais tivessem ressuscitados, pelas ruas com sua população possivelmente dobrada de um momento para o outro, eles andavam por todos os lados, chorando, gritando e pedindo ajuda.

As crianças que um dia eu fora do corpo havia visto na Ilha do Sapo, também estavam lá, leprosas, cegas, paralíticas, amputadas, andando perdidas sem rumo e jogadas ao chão, a rolar e gritar.

E o pior de tudo é que agora não era só eu que via, estavam todos ali expostos para quem quisesse ver, demônios de todas as espécies, de todas as formas, de todas as aparências ficavam maltratando e matando os moradores e aqueles doentes que pareciam terem sido trazidos do inferno só para diversão, só para serem judiados.

Era uma correria, uma gritaria ensurdecedora, desesperadora, os capetas pegavam os aleijados, adultos e crianças e os arremessavam contra as paredes e, quanto mais sangue e mais gritos eles ouviam mais eles riam, mais se divertiam.

Pegaram uma senhora que eu conhecia desde pequeno e a jogaram no vidro da frente de um automóvel que querendo fugir daquela confusão vinha em alta velocidade.

Fez um barulho horrível, e ela foi jogada longe para a alegria dos demônios, e estourou a cabeça voando sangue e miolo para todos os lados. O motorista perdeu a direção e se espatifou em um poste.

Seus parentes que estavam atrás da janela como quase toda a vizinhança olhando os acontecimentos ficaram desnorteados prestes a desmaiarem.

E o grito que eles deram na hora chamou à atenção deles, e uns dez demônios voaram em alta velocidade até a casa e, sob o olhar apavorado dos moradores que era um casal novo, cerca de quarenta anos, pais de quatro filhos pequenos, dois homens e duas mulheres, netos da senhora que foi morta, acharam e espalharam álcool pela casa e começaram a colocar fogo.

Os trancaram dentro da casa, jogaram a chave no meio da rua e foram saindo rindo, enquanto gritos desesperados de socorro eram ouvidos, e as janelas iam sendo quebradas pelo casal na tentativa de pelo menos salvar as crianças.

Nesse momento escuto uma sirene de polícia, devia ter vindo da décima oitava delegacia que ficava perto, a viatura brecou em frente a casa, os demônios ficaram na varanda olhando e esperando, os policiais saltaram do carro correndo e subiram as escadas até chegar á porta da frente.

Tudo isso com os miseráveis tentando não deixar, havia quatro policiais, um ia arrebentando a porta a pontapés e os outros três lutavam com os canalhas do além.

Conseguiram abrir, o casal e as crianças já queimadas e intoxicadas pela fumaça imediatamente foram pra fora, e a socos e chutes os policiais bravamente foram abrindo caminho para a família poder ser retirada do local e levada para o hospital João Vinte e Três.

Só que um dos policiais não teve sorte, eles o jogaram dentro da casa em chamas e o seguraram pelos braços e pela cintura até vê-lo morrer torrado em meio a gritos de horror, para a felicidade dos "coisa ruim" que uivavam de prazer em meio ao fogo.

Seus amigos infelizmente não conseguiram fazer nada para salva-lo, eles tiveram que ser realistas, pois a família ainda corria sérios riscos de vida. E seria impossível tira-lo das mãos deles.

E para mim, em espírito, a uns vinte metros de distância, ver o meu bairro a minha cidade e as pessoas que eu gostava naquela situação e ainda sem poder fazer nada, era muito trágico, muito difícil resistir ao choro que veio percorrendo todo o meu espírito, explodiu em meu cérebro e me fez desabar de vez em cima do telhado de uma casa de onde escondido atrás de uma caixa d'água eu observava tudo.

*INTEGRAÇÃO ENTRE OS MUNDOS*  A MAIOR BATALHA DE ESPÍRITOS DA HISTÓRIAWhere stories live. Discover now