Capítulo 24 - Ladeiras

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As horas que se seguiram no HCLA foram torturantes. Todos sentiam o peso das palavras de Kurt dentro de si, a principal delas ecoando em cada um como se fosse um sino. Sequelas. Sam ainda não acordara, e enquanto isso não acontecia, a angústia era a única coisa que tinham dentro de seus corações.

Naquele dia, nenhum deles foi capaz de se afastar do hospital. Era como se todos eles precisasse, desesperadamente, estar ali quando Sam acordasse. E no fim, todos estavam.

Kurt apareceu na sala no fim da tarde, o semblante mais tranquilo, mas com as olheiras evidentes abaixo dos olhos. Sue foi a primeira a se colocar em pé, seguida por Anahi e Alfonso, e os outros.

Kurt: Tenho boas notícias. – disse, um meio sorriso se formando nos lábios. — Vamos acorda-lo em meia hora. – houve um suspiro sincronizado dentro da sala, e murmúrios de agradecimento. — Ele está evoluindo bem, e precisamos saber com o que estaremos lidando quando ele estiver consciente. Mas... – respirou fundo. — Como disse anteriormente, precisam estar preparados, caso haja sequelas.

Sue: Nós... Nós estamos! – se pronunciou, a voz embargada, emocionada pela ideia de ver os olhos do filho abertos outra vez. — Quando poderemos vê-lo?

Kurt: O hospital não permite visitas nessa fase em que ele está, justamente por estar frágil e completamente vulnerável. – os olhos de Sue transbordaram. — Mas permitirei que assistam ele acordando, pelo lado de fora. Em algumas horas, se tudo ocorrer bem, libero a entrada. É uma promessa.

Kurt cumpria promessas.

Minutos depois, estavam todos posicionados atrás da grande janela de vidro que separava a CTI do corredor. O que podiam ver dali era um Sam completamente pálido e com hematomas pelo rosto e braços. Vários fios ligados a aparelhos, e uma movimentação fervorosa de profissionais dentro do quarto. Depois da ação de algumas enfermeiras, Kurt cruzou os braços, suspirando e encarando o paciente, olhando no relógio por alguns segundos até todos notarem a mão de Sam fazer um breve movimento. Já haviam lágrimas do outro lado do vidro.

Sam abriu os olhos e imediatamente a cabeça latejou, o obrigando a fecha-los outra vez. Ele respirou fundo, sentindo o corpo todo cobrar os efeitos das pancadas, com dores por lugares que ele nem achava ser possível.

Kurt: Olá Samuel, me chamo Kurt. Como está se sentindo? – perguntou assim que o outro abriu os olhos outra vez.

Sam: Com dor... – disse com a voz fraca. — Minha cabeça... Minhas pernas, eu... – respirou fundo. Tentava mexer os pés mas não consegui, não os sentia.– voltou a fechar os olhos. — O que está acontecendo? – disse com os olhos marejados. Kurt anotou algumas coisas e logo uma enfermeira dosou um medicamento junto ao soro. — Onde... O que aconteceu? – perguntou, nervoso.

Kurt: Certo, fique calmo. Você sofreu um acidente de carro, está no hospital. Do
que você se lembra? – Sam franziu o cenho, confuso. Não se lembrava de nenhum acidente, sequer se lembrava de pegar o carro.

Sam: Eu... Não sei. – respirou fundo, olhando em volta, os olhos buscando por algo que lhe fizesse sentido. — Lembro de sair do banho... – fechou os olhos, a imagem dele dentro do closet, pegando o terno caro que havia reservado para aquele dia, lhe vindo a mente com clareza. — Eu ia pedir minha garota em casamento, na festa da empresa. – Kurt suspirou assentindo, mas tinha uma ruga insistente na testa, tenso. — Porque eu não consigo mexer minhas pernas? – disse entredentes, ofegante pelo esforço em cada palavra.

Kurt: Você teve um trauma muito complicado. – suspirou. — Veremos o que está causando sua falta de sensibilidade nas pernas, mas tudo é relativo e pode ser reversivo. Só peço que não se altere, por favor. – era um pedido difícil demais para alguém que não sentia nada da cintura para baixo.

Luz dos Olhos TeusOnde histórias criam vida. Descubra agora