Dias atuais:
Ela se encontrava em seu pequeno quarto, cujo esse era todo branco e acolchoado nas paredes com uma minúscula cama. Na parede lateral esquerda, em ordem cronológica da data do acontecido e das inúmeras notícias que sucederam em diversos jornais, havia um pequeno mural com recortes das manchetes e uma mísera foto de sua família já inexistente colada ao lado da foto de suas duas melhores amigas. Ela lia seu único livro ganhado de seu único amigo naquela clínica psiquiátrica onde passou incontáveis tipos de sofrimento físico e mental.
Não fazia a mínima ideia de que horas pudessem ser, já que no seu quarto não possuía uma janela. De acordo com seus cálculos - ela era boa em cálculos - fazia exatamente dois anos e oito meses que seus olhos verdes não viam o amanhecer, ou o entardecer. Era apenas o branco opaco daquele quarto.Ela podia jurar que a cor branca havia ganhado seu ódio. Seu mundo antes colorido, agora era neutro, exceto por seu livro, que era cheio de figuras e desenhos das mais diversas cores e formatos, exatamente como ela pedira ao seu amigo para lhe trazer. Ela sentia falta daquelas cores em sua vida, já não possuía mais cor, e ainda duvidava que existisse uma vida ali.
Suas roupas também brancas eram confortáveis e folgadas, justamente como um pijama, já que não havia o porquê de roupas mais adequadas ao seu corpo.
Seus cabelos que eram seu maior tesouro físico, agora não tinham vida e viviam presos em um rabo de cavalo por estarem mais compridos do que o normal.
E ela não sabia mais como era se sentir feliz...Ela sabia que já deveria estar dormindo. Os remédios já começavam à fazer efeito em seu organismo, por mínimo que seja, ela já sentia sua pálpebras querendo um descanso e seus pensamentos implorando por um pouco de paz, mas ela ainda não havia acabado seu desenho com seu lápis giz de cera, outro presente de seu amigo.
Há meses seus dons não se manifestavam, pareciam congelados, nunca tinham nada á revelar. Porém há alguns dias ela vinha tendo vagos lapsos de imagens aleatórios sempre com uma garota, cujo rosto não era conhecido, mas possuía uma certa semelhança com seu amigo, o que tornava tudo mais estranho para ela.
A garota de suas memórias era morena, e possuía um sorriso que ela tinha certeza que nunca conseguiria dar por mais que tentasse. Era encantador, se não fosse bastante estranho. Ela levava em consideração tudo que seus dons lhe mostravam. Desde o acontecido, ela nunca mais o ignorou, mesmo ele só tendo se manifestado novamente na terça-feira, após a visita de seu amigo.Ela amava desenhar, vivia dizendo para si mesma que se tornaria uma grande pintora, mas esse sonho já não era tão vívido dentro de si. Fez diversos cursos para se aperfeiçoar e desenhava como uma profissional, isso a deixava calma, sempre a ajudava.
Quando terminou o esboço do desenho, pôde observar melhor o rosto da garota que atormentava suas memórias, e sorriu - um mínimo - sorriso em dois anos. Difícil não seria sorrir lembrando do sorriso enorme que essa garota dava em seus lapsos de memória vagos e incompletos.Quando finalmente se rendeu ao sono e foi se deitar, desejou saber o nome dessa garota. Ela sabia que era um rosto com traços diferentes, nunca havia visto em seus dezesseis anos de vida.
Já estava dormindo - ou tentando - quando teve mais uma manifestação de seus dons. Dessa vez a garota com olhos cor de chocolate, olhava para seus olhos verdes com curiosidade e seu sorriso foi aumentando à medida que os segundos passavam. Estavam na sala de uma casa, uma de frente para outra.
A garota abriu a boca para falar algo, e sua voz era estranhamente melodiosa e calma:
— Meu nome é Luiza, e você é Valentina , certo? — Perguntou sorrindo.
— Sim. — Respondeu, corando com o sorriso da morena.
Valentina não esboçou um sorriso, e foi a única coisa que disse antes de despertar suando frio, e sussurrou para si mesma:
—Luiza...
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Forever Yours
FanfictionValentina é uma garota que possui um dom especial. Marcada por uma tragédia na família e sendo a única sobrevivente no local do crime, ela acaba sendo condenada e vai parar em uma clínica psiquiátrica por dois anos. Sua única esperança é que encont...