Invasor Zim: Vivendo Com o Inimigo

La llorona - Parte 1

Já fazia alguns dias desde que Zim se instalou na casa dos Membranas, e desde o primeiro dia, Dib não conseguia dormir direito. É claro, ele disse para Gaz e para si mesmo que daria uma chance a Zim, mas a parte difícil era confiar nele. Chegou a acordar no meio da noite e deslizar uma escuta por baixo da porta do quarto de hóspedes. Pensou que isso o deixaria mais tranquilo, mas ao invés disso, só o deixou mais paranoico pelo fato de não ter conseguido ouvir nada. Será que Zim estaria planejando envenená-lo enquanto dormia? Amputar seus membros?? Roubar seu cérebro??? Ou talvez estivesse apenas dormindo? Aliens ao menos precisam dormir?!

Dib se levantou depois de mais uma noite mal dormida, com os olhos ardendo ao encontrar a luz do sol que entrava pela janela. Colocando os óculos, ele andou até o espelho e olhou para o seu reflexo. 

—Caramba, eu tô horrível.

Felizmente era sábado, então pelo menos não precisava se preocupar em estar atrasado. Escovou os dentes, desceu as escadas e foi até a cozinha, onde estava Clem, comendo um cereal com a tigela e tudo. Ele agora usava uma camisa vermelha florida ao invés do jaleco branco.

—Bom dia, fil- ...Dib! — Ele se corrigiu imediatamente, parecendo orgulhoso de si mesmo

—Bom dia, Clem — O garoto respondeu, mesmo não muito entusiasmado.

Ele apenas pegou uma torrada e se preparou para subir para o quarto para fazer seu dever de casa, mas quando passou pela sala, Gaz o chamou.

—Ei, Dib, seu programa estúpido tá passando. 

Ele parou e olhou para a TV. Mistérios Misteriosos de Estranhos Mistérios estava começando. Há quanto tempo não assistia aquilo?

Ficou paranoico por tanto tempo imaginando o próximo passo de Zim que tinha até mesmo se esquecido de como adorava aquele programa.

Se sentiu tentado a sentar e assistir, mas se lembrou dos tipos de "mistérios" que eles mostravam. Realmente era estúpido, haviam tantos mistérios verdadeiros a ser explorados, mas eles perdiam tempo mostrando coisas como um cara preso em uma roupa de galinha.

Mistérios… Verdadeiros?..

Espera.

Aqueles caras eram uma fraude, mas Dib era um futuro investigador paranormal de verdade. Sempre foi o seu sonho, e com certeza era bom nisso.

Lembrou-se da promessa que fez a si mesmo dias atrás sobre não deixar que sua obsessão com Zim o atrapalhasse. Ainda havia todo um mundo de mistérios esperando para ser desvendados. Esse era o seu destino.

—Dib? — Gaz chamou, tirando-o de seus pensamentos — Você tá aí parado olhando pro nada com cara de tonto há uns três minutos.

—GAZ! — Dib gritou entusiasmado assustando até mesmo sua irmã — É isso!

—Que? — Ela olhou para ele, visivelmente confusa.

—Isso! — Ele apontou para a TV — Era disso que eu precisava! Não posso mais ficar preso aqui dentro, eu nasci para explorar, e é isso que eu vou fazer.

Gaz revirou os olhos.

—Sabia que a paz não ia durar muito tempo.

Dib não se ofendeu com o comentário. Na verdade, não havia nem prestado atenção. Agora, ele olhava para a TV enquanto o apresentador mencionava relatos sobre aparições de uma mulher misteriosa na floresta próxima à cidade.

—...Testemunhas dizem ter visto vultos e ouvido uma voz feminina dizendo coisas incompreensíveis.

A câmera cortou para um homem gordo e calvo com o rosto borrado.

—Eu vi vultos e ouvi uma voz feminina dizendo coisas incompreensíveis! — Ele disse.

—Ah, legal — Disse Gaz, completamente entediada — Dib, não me diga que você vai…

Mas antes mesmo que ela pudesse terminar a frase, ele já havia corrido para o quarto.

Ela bufou e mudou para outro canal, onde passava um comercial da Pizzaria do Porco Inchado.

-

Com a maleta preparada e uma determinação inabalável, Dib desceu as escadas e correu para a porta. Já estava com a mão na maçaneta quando ouviu a voz de seu pai.

—Bom dia, filho! Vejo que acordou animado hoje.

Instintivamente, escondeu a maleta atrás das costas. Ele se virou e viu que Zim estava parado do lado do cientista.

—Bom dia, pai. Bom dia, hã… Zim — Ele disse, de repente não tão animado quanto antes. 

—Vejo que vai sair para tomar um ar. Eu preciso resolver algumas coisas agora, o que acha de levar o seu amigo com você?

—Mas!.. — Dib gaguejou — Ele não pode ficar com a-

—Não — Interrompeu Gaz, passando por eles e indo para a cozinha.

—E… E quanto ao Clem? — Sugeriu.

—Quem? — Seu pai indagou, confuso.

O garoto suspirou. Era incrível como a simples presença do alien conseguia estragar tudo.

Mas esse era um pensamento muito pessimista. Talvez fosse uma boa oportunidade para quebrar o clima desconfortável que havia se instalado nos últimos dias.

—Certo — Ele respondeu finalmente.

—Ótimo! Eu volto a tempo para o jantar. Divirtam-se! — E com isso, o cientista se retirou, deixando o garoto sozinho com o alien.

—Então, para onde vamos, amigo? — Perguntou Zim.

A palavra era estranha e vazia vindo do alien, Dib pensou, porém não disse nada a respeito. 

—Hã, bem, eu estava saindo para investigar uma coisa.

—Parece legal.

—É.

Os dois permaneceram em silêncio. Aparentemente tinham assuntos bem mais interessantes quando eram inimigos.

—...Vamos? — Disse Dib.

—Vamos.

Dib abriu a porta e deixou o alien passar, então saiu e a fechou atrás de si.