Capítulo 09. Pedido

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Cap. 09

"Rine, gostaria de ficar conosco?" A voz de Tony soa calma e amigável enquanto ele sorri esperançoso.

Dois meses se passaram.

"Não corra!" diz um homem enquanto persegue uma garotinha por uma sala simples até a cozinha. Ele enfim consegue alcança-la e reclama: "Por que está correndo do seu pai? Venha aqui, preciso pentear seus cabelos."

Esses são Tony e sua filha.

Na cozinha, alguém os adverte enquanto seca as mãos em um lenço florido: "Parem de correr pela casa, acabei de arrumar. Venha, eu arrumo seu cabelo." Com uma voz doce, Rine chama pela garotinha, que vem correndo imediatamente e para em frente a ele, sorrindo.

"Então você o deixa fazer isso, mas nega a seu próprio pai?" Tony faz biquinho enquanto para, para descansar da corrida.

A menininha, que agora está sentada em uma cadeira enquanto Rine penteia seus cabelos, diz sem nenhuma intenção ruim em sua voz: "O papai não sabe me arrumar direito!"

Tony tristemente suspira, mas bem, isso não é nada menos que a verdade, ou ele não teria chamado Rine para vir com ele a princípio. Ele se lembra da resposta de Rine claramente...

"Senhor, você nem mesmo sabe se ou sou uma pessoa ruim ou estou envolvida em problemas. Não chame qualquer um com vocês, pela segurança da sua filha!" Rine diz com um desapontamento em seu rosto.

Tony se surpreende com o alerta de Rine, mas de repente começa a rir: "Alguém com más intenções não diria isso. Enfim, você vem, ou não?" ele diz, limpando as lágrimas que surgiram por causa do riso.

Rine está surpreso, ele olha para Tony e depois para sua filha, ele logo tem seu coração aquecido por esses dois. Ele sorri e confirma: "Sendo assim, de verdade, tudo bem para vocês?" seu sorriso é completamente sincero.

Retornando seus pensamentos, Tony escuta Rine falar algo: "Terminei, bem a tempo de sua hora de dormir." A garotinha vai sozinha até a porta de um quarto azul.

Tony se surpreende ao vê-la ir dormir sozinha e sem a ajuda dele: "Querida, quer que o papai conte uma história?"

Da porta do quarto, a menina apenas nega balançando a cabeça e entra para dormir. Vendo isso Tony apenas sorri e olha para Rine, que está com a mesma expressão.

Seus sorrisos são logo abafados pela tosse de Tony. Rine se aproxima preocupado: "Eu já te disse que essa tosse não é normal. Como você é médico e não vê isso?" Rine acaricia as costas dele, sem saber o que fazer.

Tony para de tossir e respira fundo, ele olha para Rine sem mais um sorriso: "Rine, na verdade, temos que conversar."

Rine para de acariciar as costas de Tony e respira fundo antes de dizer: "É sobre o fato da sua filha não ter um nome e você estar tossindo, não é?" ele suspira novamente.

Tony abaixa a cabeça em culpa: "Sim, eu vou explicar..." ele faz uma pequena pausa, mas logo continua: "Há quatro anos, quando minha filha nasceu, minha esposa contraiu uma doença após o parto, ela morreria em poucos meses. Foi então que eu decidi procurar uma cura, mas experimentando uma vacina, acabei me envenenando sem perceber, todo esse esforço foi em vão, pois dois meses depois ela morreu. Com isso, eu nem tive tempo de decidir com ela o nome da nossa filha e nem fazer a certidão de nascimento; para piorar, no dia que a mãe dela morreu eu descobri que minha filha nasceu com a Maldição de Asperger, o autismo. Tudo isso acabou me abalando."

Nesse ponto, os olhos de Rine já estão completamente vermelhos e ele com as mãos tampando a boca, em choque.

Tony continua: "Apenas após três anos, percebi que estava doente, mas já era tarde para me curar. Minha esposa perdeu os pais quando criança e não tinha contato com nenhum parente; e minha família se negou a aceitar cuidar de uma criança minha, então andei por ai aprendendo sobre o autismo dela e, secretamente, procurando alguém que pudesse cria-la. Eu não encontrei uma cura, mesmo após quatro anos, foi então, que numa parada para descansar, nós descemos da carroça e te encontramos. Eu teria te ajudado e me despedido, mas minha filha tem dificuldade em se aproximar das pessoas, e mesmo assim ficou perto de você sem se importar. Ao ver isso decidi descobrir se você era uma pessoa confiável, bom, até hoje não sei da sua vida, mas você ficou conosco por tanto tempo e até nos ajudou com as tarefas de casa. Era como se fosse destino, no começo achei que você era uma garota vítima de algum atentado, mas quando percebi que era um garoto eu me surpreendi, você cuidava tão bem de minha filha que qualquer um pensaria ser uma mãe." Ele parou.

Rine está segurando as lágrimas: "Você... Você tem quanto tempo restante?" ele se prepara para a resposta.

"Um mês, talvez menos..." Tony pretendia continuar falando, mas Rine começou a chorar todas as lágrimas que ele estava segurando desde o começo dessa conversa, talvez antes mesmo disso, ele já quisesse chorar desse jeito. Com um olhar culpado, Tony o abraça.

"Não chore, não chore." Depois de alguns minutos Rine se acalma apesar de seus olhos e nariz estarem avermelhados e suas lágrimas terem escorrido para o ombro de Tony. Vendo que Rine enfim se acalmou, Tony pergunta: "Rine, tenho uma pergunta para te fazer, se você concordar eu farei um pedido." Ele pausa: "Você pode cuidar da minha filha?"

Apesar de que Rine já esperar por uma pergunta desse tipo, ele ainda se surpreendeu. Seus olhos ficaram pesados de novo e ele disse: "Eu realmente esperava que você pudesse vê-la crescer, mas se não pode ser assim, eu estou feliz em cuidar dela!" Rine sorri, mas seus olhos são sinceros quando pingam lágrimas sem parar.

Tony olha para Rine e diz: "Nesse caso, quero que faça uma coisa por mim. Será meu último pedido pra você..."

Mar De Fogo [BL]Onde histórias criam vida. Descubra agora