Sinto falta das calorosas manhãs de verão, o intenso azul no céu, o toque perfeito das nuvens e a incrível vista de encher os pulmões. Eu sinto falta do verão e das memórias que acompanham ele. A praia, o mar, as festas, o lazer. É difícil citar tudo o que eu sinto falta, mas é fácil admitir que só percebemos isso quando não temos mais.
É normal ter arrependimentos sobre algumas de nossas escolhas, porém, parece que as minhas só me jogaram para o fundo do poço. Enfrentar o fim me faz perceber que tenho arrependimento de todas as minhas escolhas na vida, na escola, faculdade, emprego, romances.
Na vida eu nunca fui destaque em alguma coisa, apenas mediano. Em tudo eu era mediano. Diversas vezes eu encarava o céu e imaginava estar desperdiçando a minha vida. Em alguns surtos de inspiração, tentava buscar algo em que eu tinha talento, mas esses surtos duravam pouco tempo e logo eu voltava ao ritmo de desânimo.
Se contar ao todo, talvez eu passei quase toda a minha vida fazendo nada, apenas sendo um peso morto para minha família e amigos ao meu redor. E sendo sincero, sempre achei nojento esse meu lado. Era como se eu algum tipo de peso não me deixasse voar, e eu continuava no chão enquanto todos subiam a escada da vida. Um dos diversos motivos de eu não reconhecer amor próprio, eu tinha desgosto por mim mesmo.
E nem é possível dizer que eu acabei me envolvendo com pessoas erradas, eu apenas permanecia no mesmo desânimo todos os momentos, sem encontrar algo que me atingia com aquele lampejo de inspiração e animação.
E os anos foram passando, não sei como terminei a escola, nem mesmo como entrei na faculdade. Era como se eu nasci com apenas um propósito, ser um figurante. Não sei quantas vezes esse tipo de pensamento corroía a minha alma, piorando ainda mais o meu ser.
Apesar de ser um zé ninguém, eu sinto falta das coisas, de observar um céu estrelado a noite, viajar pelo país, conhecer mais do que o buraco onde estava preso.
Agora isso tudo era arrependimento.
Arrependimento de não ter realizado esses pequenos desejos. E sinceramente? Não tem como viver desse luxo de graça. Se estiverem curiosos, eu roubava dinheiro para sobreviver.
Nada nesse mundo atraia a minha atenção, sem ser observar o céu e imaginar as belezas que existem pelo mundo. Agora eu estou partindo cheio de arrependimentos.
Só que o que eu mais desejo é que não exista essa coisa chamada reencarnação. Já imaginou outro de mim vivendo? Você não tem ideia do quanto foi difícil para meus pais cuidarem de mim. Nem tente ter algum tipo de simpatia. A verdade, é que eu era um lixo e não trouxe nenhum tipo de orgulho para eles. Imagina se o filho que você criou só lhe trazer decepções para casa, imagino a sua reação.
Por pior que isso seja, eu não me importo. Eu não tenho nenhum tipo de empatia com esses sentimentos morais dessa vida, que são todos distorcidos na minha visão. Sabe aquelas pessoas que se acham a diferente e que o mundo tem que aceitar elas assim? Que se foda vocês que pensam assim. A exceção é sempre a minoria, não tem como mudar como todo um mundo roda. Ou seja, eu sou um lixo de pessoas que desde criança nunca quis viver, arranjar um emprego e ter uma família. Para o mundo eu estou errado, e para mim nunca irei mudar. Resultado? Sou taxado como estranho ou louco e ninguém se associa comigo.
E aqui estou eu discutindo mais uma vez, para mim mesmo, achando que vou mudar o meu destino. Quantas vezes pensei que tinha algum tipo de doença mental por pensar assim? Agora eu aceito quem sou.
Arrependido de como vivi os meus dias, não de como eu sou.
O problema para mim é que, e se alguém como estiver por aí? Não sente responsabilidade em conquistar as coisas que somos obrigados a conquistar. O que vai acontecer com essa pessoa? Vai ser como eu, julgado, abandonado, virando a história de decepção para a família. Vai ser o exemplo de "não seja como ele".
Em meus mais profundos pensamentos, suicídio deveria ser uma escolha livre e legal, pois essa minha vida que eu não quero viver, você não pode me obrigar a viver ela. Se eu listar os abusos e merdas que passei, você iria ficar com pena de mim, mas depois iria me jogar em um psiquiatra para eu me cuidar.
Lembro que quando criança, falei para os meus amigos que o meu sonho era ser uma nuvem. Apenas flutuar pelo céu, levando chuvas e sombras.
Desde criança, meu sonho era em ser nada, apenas nada. Nascer ou não, viver ou não, morrer ou não, eu sempre quis ser um nada, sem qualquer tipo de pensamento racial.
Eu me arrependo, do fundo do meu coração, de ser obrigado a viver do jeito que eu fui.
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My Last Words
Short StoryConfissões, arrependimentos, gratidões. Nossas últimas palavras definem do que estamos cheios. O quão profundo você se conecta?