Desde criança fui uma pessoa alegre, me divertindo com meus amigos, seja sair para jogar uma bola, correr pela cidade ou jogar videogames. Quando eu cheguei no meu primeiro ano do Ensino Médio, uma escola nova com pessoas totalmente diferentes de quem eu estava acostumado, um choque quase me derrubou, pois minha timidez e ser introvertido não ajudava a criar novos amigos. Passei o ano inteiro sozinho, descobrindo como interagir com essas pessoas e entender essas novas emoções. As poucas que conheci nesse período não duraram, enquanto ao mesmo tempo, descobri uma estranha tristeza dentro de mim.
No meu segundo ano, o tempo apenas deixava essa tristeza aumentar, então decidi focar nas coisas que me deixavam feliz, me tornar uma pessoa mais extrovertida. Eu passava mais tempo tentando me divertir do que tentando me esforçar nos estudos, e eu não entendo, quanto mais eu focava na diversão, maior a tristeza crescia dentro de mim. Conforme o ano percorria, eu passava mais tempo jogando videogames, forçando sorrisos na escola, ser extrovertido e fazer amizade com os outros. Algumas amizades seguiram, outras nem tanto.
Chegou o meu terceiro ano, e na época eu podia sentir que aquele era o meu ano. Meu lado extrovertido conseguiu amigos tanto na minha turma quanto em outras, me tornei alguém "famoso" pela escola, e estranhamente isso me deixava feliz. Porém, era perceptível as brechas em mim. Não sei dos amigos, mas eu conseguia enxergar. Tinha dias da semana que eu tinha que ir ao banheiro da escola para chorar, eu não conseguia segurar as lágrimas, a dor, a tristeza. Esses dias da semana foram aumentando até virar algo semanal, onde eu precisava de algum tipo de alívio. Comecei a me encher ainda mais com as drogas que eu encontrei no início do meu Ensino Médio, os amigos e os jogos online. Eu não conseguia me focar em nada, além de sair com esses amigos ou de jogar algo no meu computador. Dor, dor, dor. Chegou em um ponto que a minha tristeza virou perceptível entre meus amigos de sala, que caçoavam de mim sobre eu ter d--------, algo que na época eu apenas ria, negava, sem entender o peso daquela palavra.
Formei o Ensino Médio, infelizmente não entrei na faculdade, e fiquei completamente perdido com o que fazer da minha vida. Mas ali, naquele momento que eu sai da rotina de ir para a escola, a tristeza tomou as rédeas. Os amigos que eu tinha, bom, que amigos, não existiam mais. Eu me virei para aquela única droga que me restava para me sentir feliz, ir para o computador jogar. E eu repeti isso, todo dia, em busca de ser feliz. Quando eu pisquei e olhei para mim mesmo, um ano tinha se passado e eu podia contar nos meus dedos o número de vezes que eu saí de casa aquele ano.
Enojado, apavorado, um turbilhão de emoções corroeu dentro de mim, coisas que eu nunca senti na vida. Conhecer pessoas pela internet me fez descobrir o que tinha me afetado todos aqueles anos no Ensino Médio, a depressão. É estranho quando você coloca nome no seu demônio, ele cresce ainda mais, tornando ainda pior.
Assim, mesmo descobrindo o nome do que me fazia mal, piorou tudo que estava dentro de mim, e passei mais um ano dentro de casa, tentando identificar essas emoções, o que fazer para melhorar, o que eu precisava fazer. O tempo não ajudou. Sozinho, não ajudou. A música trouxe alívio, mas a batalha era minha.
Honestamente, eu me senti traído pelos "amigos" que eu tinha feito, eu presumi que talvez, alguém, iria me ajudar. Tudo falso, ninguém tentou. Mas, o que me deixou realmente indignado, foi o fato de eu, implorar, por algumas dessas amizades. Fiz um tolo de mim mesmo. Tentei desesperadamente, mas fui abandonado no mar.
Dor, dor, dor. Não acabou em dois anos. Metade do terceiro também, nada adiantou, nada me ajudou. Meu vício ainda continuava em jogos, mas um brilho de esperança apareceu na minha vida, quando meus pais decidiram se mudar. Após mudarmos de cidade, consegui algo parecido com um novo começo, mas honestamente, aquilo não mudava minha dor. Porém, agora eu sou um adulto. Acabou. Não posso tirar meu tempo para curar meus pedaços partidos. Coloquei essa depressão, tristeza e todos os novos demônios que vem aparecendo no caminho na mochila e sigo, minha vida, tentando me encontrar, me encaixar em mim mesmo, curando a mim mesmo, sozinho.
Afogando, doendo, queimando, pressionado, a ponto de explodir. Você não está sozinho.
Thank you NF, for giving me hope and showing me that I'm not alone.
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My Last Words
Short StoryConfissões, arrependimentos, gratidões. Nossas últimas palavras definem do que estamos cheios. O quão profundo você se conecta?