Where Is My Family?

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Gostaria de saber quando deixaram de se importar com família. Em algum momento o foco deixou de ser a família. Vejo minhas sobrinhas, netas e bisnetas trocarem seus pais e parentes pelos amigos, que em seguida traem elas. O que aconteceu com a juventude de hoje?

É como se a mudança tivesse acontecido no amor, entende? Todo o amor que eu tenho por minha família, o carinho e a atenção, eu não vejo em nenhuma delas. Se a cada geração passar, aonde iremos parar? Família virou apenas um nome que temos em comum? Eu tenho certeza que posso encontrar esse nome em comum com estranhos pelo mundo.

Mês passado, minha neta de vinte e três anos apareceu na minha casa chorando pelo noivo ter traído ela. Depois de horas conversando, cozinhei um bolo para ela, do seu favorito, e ela voltou para casa decidida, iria terminar, procurar alguém que valorizasse quem ela fosse. Uma semana depois, precisava visitar o hospital e tentei pedir para a moçinha me levar. Abusada, negou, tinha compromisso com o noivo de escolher as decorações do casamento. Ela não iria terminar? Ele não traiu ela? Tentei conversar com ela, e a criança me acusou de querer destruir o casamento dela. Depois eu sou a maluca da família.

Coisas assim acontecem com tanta frequência que chega a causar dores em meu peito. Meus bisnetos, com pouco mais de 10 anos, e eu só lembro de ver eles quando eram pequenos bebês. Hoje em dia ninguém quer passar um tempo com a bisavó. Ah mas eles vieram me ver, já que agora eu estou batendo as botas. Na obrigação, entende?

Isso parte o meu coração, pois o meu sonho sempre foi ter a minha família unida, suportando e ajudando uns aos outros, não essa distância e frieza que existe na minha. Claro que existem exceções, mas, o que posso eu fazer? Quanto mais velha você fica, menos crédito irão te dar. Depois dos 70 anos, só vão te escutar na beirada da morte.

E é a primeira vez que eu desejo ter um pouco mais de tempo, já estava preparada a tantos anos, apenas aproveitando meus minutos de vida. Agora eu quero mais tempo, quero poder enfiar juízo na cabeça dessa minha família e mostrar amor para eles. O que posso eu fazer?

Ainda lembro de quando me tornei mãe, a inveja que eu tinha da família do meu falecido esposo, a união deles era simplesmente forte, e eu sonhava que minha família seria assim. O essencial virou invisível aos olhos. Agora sou obrigada a ver a juventude de meu sangue desmerecer os mais velhos, quebrar a cara com seus supostos amigos e não enxergarem o essencial.

Eu não entendo, todo almoço em família acontece uma briga. Uma discussão que separa todo mundo para algum canto. Tenho que ir correr atrás, fazer as pazes no lugar dessas crianças, para ver se não separam. Acho que se fosse possível pedir divórcio de familiares, tenho certeza que já teriam pedido. Não perdem uma oportunidade de não aparecer nos almoços. Aconteceram dias que só havia eu e minha filha, sozinhas na casa. Aprendi que o lema da minha família é não cumprir promessas.

Isso é judiação comigo, ser obrigada a manter toda uma família única com 71 anos. Você não tem noção do quanto é difícil, ter que lutar e passar raiva com essas pessoas. Existem dias que eu não vejo humanos. Principalmente meus netos, o trabalho que eles conseguem fornecer é de causar a morte em alguém. Nunca vou esquecer do dia que eu peguei um dos garotos roubando dinheiro do meu quarto. Aquele pirralho, custoso e sem vergonha. Ele podia enganar os pais dele, mas a mim ele não enganava.

E agora que estou no hospital, cadê minhas visitas? Minha família realmente só cultiva ódio, não consigo acreditar que todos esses anos perseguindo o amor resultaram nesta cama fria e solitária. O aço gelado consegue penetrar os meus ossos, como se a Morte estivesse me lembrando de todas as minhas falhas.

Meu netinho vem me visitar hoje, pelo menos um. Espero que ele chegue logo, o fico ansiosa só de esperar.

Ele não veio, fiquei acordada a tarde inteira e nenhum sinal da promessa de ele aparecer. Eu fico esperando essas crianças aparecerem, me dar um pouco de atenção, pelo menos agora no fim, e nem mesmo a minha morte é importante desse nível.

"Em meus poucos momentos de lucidez, encontro minha filha chorando ao meu lado na cama, parece que eu disse outra maldade. Minha família é extremamente unida, todo dia alguém vem me fazer companhia, mas o tempo danificou minha mente e a maior parte do tempo eu acredito que ninguém me ama e minha família é um desastre. Isso é mentira, não importa quantas vezes eu repita para mim mesma, nunca lembro. Eu realizei o meu sonho. Eu consegui realizar o meu sonho. Todo o amor que eu queria transmitir para meus netos e bisnetos, eu realizei, e hoje todos são unidos entre si. Eu tenho orgulho da minha família, do quanto cada um amadurece e transmite desse amor que eu pude oferecer. Não consigo contar o número de vezes em que eu entro em um estado de perturbação e começo a falar mal da minha família, colocando defeitos que não existem ali, e isso resulta em lágrimas nos olhos da minha filha. Eu amo cada um de vocês, por isso peço perdão pelas palavras duras que pronunciei sem entender. Foram muitos perdões que eu pedi, não é fácil, mas são meus mais sinceros pensamentos. Eu não sei se terei outro momento de sanidade comigo, antes de a minha velha amiga me visitar, então devo aproveitar agora para me despedir de cada um. Recebi suas visitas, flores, abraços, palavras e carinhos todos os dias. Eu não poderia ser mais grata do que já sou. Orgulhosa por nossa união e amor. Muito obrigada, minhas crianças."

Mais uma noite fria, sozinha, o gelo do aço penetrando meus ossos. Essa noite Ela vem, tenho certeza, e eu estarei sozinha, pois família eu não tenho.

My Last WordsOnde histórias criam vida. Descubra agora