Lembranças

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P.o.v. Draco 

Engoli em seco depois de dizer aquelas palavras, talvez ela não fosse se lembrar disso no dia seguinte e eu esperava que isso acontecesse, porque arrependimento foi o que senti logo depois de abrir a boca.

- Me desculpe por tudo que te fiz, todos os xingamentos e por não poder fazer nada quando vocês chegaram na mansão, me desculpe por ter sido cruel todos esses anos. - um enorme peso saiu de minhas costas e a voz rouca que carregava ao falar tão baixo para somente ela escutar, ainda que estivesse sozinhos, tinha tom amargo, passei boa parte do meu tempo longe de Hogwarts pensando em todo mal que fiz a tantas pessoas e queria me desculpar com ela em especial, porque negar o que sentia e não saber ligar com isso me fez ser cruel com ela.

Os meses após o fim da guerra foram insuportáveis, prisões, ameaças, mais mortes, culpa, luto e solidão. Tamanho o ódio que sentia de Voldemort, tamanha a raiva que sentia por ter que esconder durante tanto tempo onde havia ficado escondido, tamanha a raiva que sentia por não poder fazer nada a não ser cumprir suas ordens.

Estava preparado para seguir o resto da vida apodrecendo na prisão junto com outros comensais, mas quando veio o julgamento a pena foi reduzida e fiz esforços para mudar. Na mansão Malfoy preferi trancar cômodos que traziam péssimas lembranças, principalmente o salão que minha tia a torturou.

- Eu perdoo você.- ouvi seu sussurro, continuei a acariciar seu rosto.

- Astoria acha que ter você próxima de mim vai impedir o sonho idiota da família dela de nos casar. Você disse que viu algo nas coisas dela, vou tentar encontrar, me aproximar, pra isso vou ter que fingir ter algo com ela e por mais que tenha consideração por ela....- fiz uma pausa e observei seus olhos cansados, apesar de tudo ainda estava bêbada.- Acho que você precisa dormir. 

- Não quero.- ela disse ainda com voz baixa.

- Precisa de um banho sua bêbada maluca.- quis amenizar o clima e tentei zoar, me levantei e me afastei dela que permaneceu na cama.

- Você que é maluco se acha que vou tomar banho no seu quarto.

- Sem discussão sabe-tudo, vá logo.- peguei as mudas de roupa e joguei em cima dela.

Ela levantou e seguiu para a porta do banheiro sem mais protestos e quando fechou a porta eu suspirei alto, passei a mão pelos cabelos e rosto, tão perto dela, mas se estava certa que a maldição era real, então qualquer sentimento que eu nutrisse por ela durante todo esse tempo a colocava em perigo, ainda que não saiba como realmente morreram e quais as consequências que não tentar cumprir a maldição podiam trazer.

Demorou alguns minutos até que a porta se abrisse e eu havia pegado água e uma poção para ressaca que deixava escondido nas minhas coisas, estava sentado na borda da cama quando ela apareceu, vestida com minhas roupas, uma calça de folgada e uma blusa qualquer que havia ficado enorme nela. Foi de tirar o fôlego, engoli em seco, ela se aproximou devagar e se sentou no pequeno sofá que ficava de frente para a cama, a essa hora da noite e a pouca luz no quarto lhe davam um ar mais sexy, era imensa a vontade de tomar sua boca e colar nossos corpos.

- Vou dormir no sofá, pode ficar com a cama, você ainda está meio bêbada então é melhor ficar aqui por essa noite.- ela abriu a boca para argumentar, eu me levantei e parei na sua frente, entreguei o copo e a poção, andei até o armário para pegar um cobertor e voltei para onde ela estava sentada.- Não tente argumentar.

- Meu quarto é aqui do lado Malfoy.- revirei os olhos e ela se levantou ficando próxima a mim.

- Granger.- ela bufou derrotada e seguiu para a cama, tomou a poção e deixou o copo na cômoda ao lado, com uma careta desgostosa ela se deitou e eu ri baixo.

Deitei no sofá encarando o teto e esperando o sono chegar, minha insônia se fazia a cada dia mais presente e ficava tentado em fazer algumas poções do sono para conseguir dormir em paz, porém temia que me viciasse então as madrugadas em claro se tornaram amigas indesejadas.

Um silêncio confortável reinou no ambiente, achei que estivesse dormindo, mas o levantar repentino da garota me fez olhar para ela, sentada na cama com tecidos esmeralda que apesar de ser da grifinória haviam com muito bem com ela, o verde na minha casa se destacava ao seu redor e gravaria essa visão até que não pudesse mais lembrar dela ou a arrancassem de mim. O luar caia bem em suas feições, em seus cabelos castanhos, ainda que estivessem desarrumados, isso com toda certeza a deixava mais bela, descansada e relaxada, diferente da carranca de preocupação que via quase todas as manhãs durante todos esses anos.

- Não consegue dormir?- perguntei.

- Não com você ai.- achei estranho e franzi a testa.- Venha para cá, ande logo antes que eu mude de ideia doninha saltitante.

Hesitei em me levantar, mas o fiz, andei devagar até a cama e me sentei olhando para ela que ainda meio alterada deu batidas ao seu lado no colchão e voltou a deitar. Me demorei para analisar o quão maluca eram aquelas horas que haviam se passado, a ouvi resmungar e antes que reclamasse comigo por não ter me deitado ainda o fiz logo.

- Insônia?- ela falou de olhos fechados.

- Sim.- ela pegou minha mão e entrelaçou com a sua antes de começar a acaricia-la, passou a cantarolar uma letra que eu desconhecia.

Quase ri da sua atitude, não entendia o porque de estar fazendo isso, mas sabia que seu intuito era me ajudar a dormir, ainda que o cansaço a vencesse porque não demorou muito até ela dormir. Pouco depois senti que ela esticou o braço e soltou minha mão, se aconchegou em meu peito e a cabeça na curvatura de meu pescoço, sua respiração passou a me causar arrepios.

Minha respiração falhou e fiquei parado com medo de acordá-la, a olhei um pouco e vagas lembranças começaram a surgir na minha memória.

Ajeitei a cabeça no travesseiro e encarei o teto escuro, pesquei lentamente quando lapsos de lembranças passaram pelos pensamentos confusos na minha cabeça, lembranças que tantas torturas com crucio me obrigaram a esquecer e como doia toda vez que tentava me lembrar delas.

- Nessa história maluca eu sou a fera, aqui não devo conquistar o amor ou demonstrar a gentileza que a bruxa buscava do homem, aqui devo ser desprezível, que seus sentimentos por mim não passem de desgosto, mas ela não enxerga que não temos nada.

- Uma história realmente maluca.- sorrio tristemente, pois apesar de ter tido um dia esperança, eu sei que algo entre nós dois nunca aconteceria. 

- Não significa que não podemos ser amigos, colegas. Não quero que sofra.

- Por que eu sofreria?

- Por que não sofreria?- sua voz é baixa, está quase dormindo eu suponho.

- Tenho que encarar as consequências das atrocidades que fiz Granger, não só a você.

- Você não é o vilão, Malfoy, não se culpe tanto.

- Por que é assim? Como pode depois de tudo que minha família te fez...

- Você mudou, não só comigo, soube das coisas que fez depois de meses após o julgamento. Agora deve doer, talvez continue assim por um bom tempo, mas um dia vai curar. Não lamente por lembranças assombradas, permita se redimir, como faz agora.

- Não sei se posso.- continuei a encarar o teto, com medo de olhar em seus olhos.

- Tente.- ela segurou meu rosto me obrigando a encará-la.- Você é uma boa pessoa Malfoy, não se torne um fantasma também.

- Prometo tentar.- uma tão simples frase que a fez sorrir e logo depois fechar os olhos e virar para o outro lado.

Fiquei observando suas costas, analisando seus cabelos e me perguntava como poderia não me apaixonar. Me aproximei hesitante e passei meu braço por sua cintura, descansei meu rosto entre seus cachos e fechei os olhos, assim adormeci, rapidamente dessa vez, sentindo seu perfume e seu calor. 

Talvez a fera da história devesse ser eu, porque não imagino ela como outra se não a mais bela.

Maldição a Bela e a Fera (Dramione)Onde histórias criam vida. Descubra agora