A devassa

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— Você prometeu não me deixar — relembrei sua promessa, minha voz tremia, refletindo o que meu corpo transpirava: medo

Eu nunca tinha implorado para que não me deixassem, mas o faria quantas vezes fosse se esse alguém era Benjamin.

Eu pretendia contar tudo a ele. O caso com Cedric. A necessidade primitiva de dominar os homens, de conquista-los e abandoná-los.

Eu tinha lhe confidenciado detalhes do meu casamento, da violência que sofri. Talvez por isso tinha aquela ânsia de tomar tudo para mim e não me permitir ser vulnerável.

Decidi, inclusive, falar sobre como fiquei viúva e de como aquilo se relacionava com Iago.

Não houve tempo. Tivemos tão poucos momentos para conversar, para eu confiar.

Arrependi-me de ter investido na conquista de Benjamin na cama. O fascínio que sua pureza tinha me despertado apagou qualquer racionalidade do caminho certo a seguir. Suspirei, pelo menos não tínhamos consumado. Ele se sentiria ainda pior, usado por mim.

Se eu tivesse aberto tudo antes não teríamos chegado neste ponto. Ele teria podido escolher entre ficar ou partir, antes de me tocar, de ser seduzido.

Não foi justo ou leal o que fiz com Benjamin. Prometi lhe cuidar e lhe respeitar, mas criei uma teia de sedução aonde ele ficou vulnerável a mim.

Suspirei e, quando pensei que o golpe maior tinha sido dado, ouvi a voz de Benjamin que falou sem se virar.

— Eu... só preciso ficar sozinho por um tempo... — fez uma pausa— você estava certa, sempre acaba machucando quem a ama.

"Quem a ama", "quem a ama". A frase ficou se repetindo na minha mente e aquilo me deixou sem ação. Apenas vi Benjamin se afastar.

Ele me amava. Ele pediu um tempo. Não era definitivo, talvez eu ainda tivesse uma chance de falar.

Ele me amava, isso era tudo o que importava.

Eu não erraria como fiz no passado. Não perderia Benjamin para nenhuma força no universo. Só o deixaria ir, com a alma estilhaçada, se ele quisesse partir.

Ouvi Cedric resmungar, voltando à consciência. Minha vontade era bater até que ouvisse todos os seus ossos se quebrando. Puni-lo pela canalhice que fez ao revelar meias verdades para Benjamin por pura maldade e vingança.

Todavia, não tinha tempo para ele.

Chamei dois dos guardas que sempre ficavam de prontidão no corredor.

— Tirem esse inseto daqui e proíbam sua entrada em minhas terras.

Resolvido o primeiro prolema, agarrei as saias para ir atrás de Benjamin. Pouco me importava agora se eu me humilharia implorando que me ouvisse.

Os convidados iriam comentar, fofocar, o que não era nenhuma novidade.

Eu só queria falar com ele e o obrigaria, se preciso fosse, a me escutar. Depois ele podia tomar o caminho que quisesse.

Loïc surgiu na minha frente com minha mãe.

— Esta na hora, Martine, todos a... — ele me olhou mais de perto — o que houve?

— Eu preciso encontrar Benjamin! — implorei e ele entendeu a gravidade da situação — Deixa comigo, chamarei alguns homens de confiança e o trarei, nem que seja amarrado. Você precisa ir para o salão com a tia Heloísa. Muita coisa esta em jogo, minha prima.

A contragosto, fui obrigada a concordar. E só o fiz porque Loïc cumpria suas promessas. Se ele disse que traria Benjamin, ele o faria.

Respirei fundo, com o coração em frangalhos. A mulher ao lado de Loïc, minha mãe, apenas me olhava com certa indiferença.

A devassa e o santo [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora