A Devassa

771 85 48
                                    

Não tive coragem de olhar para Benjamin. Nunca tinha me exposto como vítima para ninguém. Aquilo me deixava completamente fragil aos seus olhos, mesmo que eu tivesse omitido os detalhes mais íntimos.

— Hoje eu sei que isso é o que acontece na primeira noite de quase todas as mulheres de nossa época — vi o horror estampado em seu rosto e, de certo modo, me senti acolhida. Ele não disse que era nossa obrigação viver aquele suplício.

— Eu não... não tinha ideia — murmurou enquanto entrelaçava os dedos uns nos outros — minhas irmãs... minha mãe...

— Alguns não sabem, a maioria não se importa — esclareci com amargura — contei-lhe porque quando entrei aqui seu medo era o espelho do meu quando me casei pela primeira vez.

— Não entendo... — ruborizou

— Pode falar, Benjamin! Já te disse que a verdade não é o caminho mais fácil, mas é sempre o melhor deles.

— Eu entendo que por isso não quis se casar novamente, mas... mas... 

— Por que eu recebo homens em minha cama? — completei e seu rosto ficou tão vermelho que tive que conter a vontade de gargalhar — enquanto estive casada conheci o inferno. Mas foi nesse período também que conheci Constância. Uma mulher sábia e a frente de nosso tempo. Ela me ensinou como não pegar barriga e como ver além do que eu vivia. Um dia te conto esta história. Graças a ela, quando um outro homem cruzou meu caminho, fui capaz de permitir que ele me mostrasse que meu corpo não era um templo do pecado e sim do prazer imensurável. Depois disso, nunca mais permiti ser tocada sem consentimento. Fortaleci meu corpo e aprendi habilidades úteis para me defender fisicamente se for preciso.

Por mais que tentasse disfarçar, vi o incômodo que esta informação lhe causou. O fato de eu ter uma vida além do meu antigo casamento o desconcertava.

— Tenho um passado, Benjamin. Mesmo que não goste ou não aprove, terá que aprender a lidar com ele. Não vou me desculpar pela minha história. Podemos esbarrar em algumas delas a qualquer momento e você precisará confiar em mim.

Nunca imaginei que fosse possível alguém ficar tão constrangido. Tive pena, mas era muito engraçado que eu estivesse vivendo o que os homens viviam nas núpcias. Eu tinha experiência, eu era a dona da situação. Benjamin era o meu oposto. Assustado com os toques e ignorante quanto às reações do seu próprio corpo.

Porém, pensei orgulhosa, eu não era um daqueles tipos nojentos e jamais forçaria ou submeteria Benjamin às minhas vontades.

Ele precisava me querer para eu o ter.

Levantei-me e peguei um copo com água. Levei até ele que o pegou com as mãos trêmulas, quase derramando todo o líquido. Amparei-lhe, colocando minhas mãos sobre as dele. Elas estavam geladas, mas ele não recuou.

— Eu não mordo, Benjamin! — sorri para ele e não resisti à provocação — a menos que você peça...

Seus olhos quase saltaram das órbitas. A risada veio fácil quando sentei ao seu lado. Ele compreendeu a brincadeira e deu o primeiro sorriso naquela noite.

Esperei que tomasse toda a água e respirasse fundo algumas vezes. Eu precisava saciar aquela curiosidade, entender o que levava um jovem bonito como ele a se privar da luxúria.

— Não sente vontade, Benjamin? Nem um pouco de vontade de ser beijado, de sentir o meu toque? — sussurrei como se pergutasse um segredo.

No fundo me interrogava porque não o estava manipulando para que se submetesse a mim, como fiz com todos os homens que passaram por minha vida depois do primeiro marido. Tinha certeza que o desejo carnal dele iria se sobrepor e a entrega era certa.

A devassa e o santo [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora