— Dilermano, por favor!!! — ouvi a voz da minha mãe implorar outra vez para que meu pai se calasse.
Ele tinha entrado no meu quarto e falava sem parar há tempo suficiente para me enlouquecer.
— Cale-se, mulher! Isso é assunto de homem! — ralhou e senti uma dor no coração por ver minha mãe ser tratada daquela forma.
Queria ter forças para enfrentá-lo, proteger minha mãe e minhas irmãs. Porém, eu era um fraco, sempre o fui. Baixei a cabeça e a apoiei sobre as mãos. Eu só queria que tudo aquilo terminasse.
— Olhe para mim quando eu falar com você! — ordenou e senti o tapa queimar em minha cabeça.
Meus olhos arderam, mas eu não daria o prazer de me ver ainda mais humilhado a sua frente. Respirei fundo e o encarei. Fixei meus olhos em suas sobrancelhas, fingindo que o fitava.
— Você vai fazer o que estou mandando, dê um jeito de conquistar aquela vadia. Prenda-a de alguma forma para que você tenha o controle de tudo...
— Para você ter o controle... — sussurrei pensando que ele não ouviria.
— Sim, para eu ter o controle. Você é um incompetente que não saberia cuidar de uma feira e ela... bem... ela é mulher. Não foi feita para isso.
Meu pai nunca era rico o suficiente. Eu sabia que ele queria as posses de Martine apenas para somar ao seu imenso patrimônio. Uma ganância desmedida e incontrolável. Que Deus o olhasse com benevolência quando precisasse prestar contas no Juízo Final.
Eu não tinha ideia de como poderia conquistar Martine e, naquela situação que me era imposta, eu não iria nem tentar. Obviamente, eu não agiria da forma como meu pai ordenava. Eu era um covarde por não encará-lo, mas tinha caráter suficiente para não seguir suas ordens.
— Agora como você fará isso, é problema seu...
Uma figura esguia surgiu atrás de meu pai sem ser anunciada. A expressão séria contrastava com um leve sorriso.
— Ele não precisará fazer nada — sibilou — Martine se encantará por sua pureza. Ele é o reverso dela e o único que pode deixá-la exposta...
— Quem é você? — meu pai se virou deixando a raiva se sobrepor — Com que direito entra em meu quarto assim?
— Perdão, monseiur! Esqueci que não fomos apresentados — era polido e falava com elegância. Sem dúvidas, era nobre de uma longa linhagem — Sou Jéremy d'Aulnoy, tio de Martine e, junto de meu filho, os únicos parentes vivos da baronesa.
Vi que meu pai recuou. Ele não iria se indispor com o poderoso Jéremy d'Aulnoy, conde de Flandres. Um dos maiores centros comerciais da França. Provavelmente, meu casamento tinha sido arranjado para ele se aproximar dessas pessoas influentes.
— Pardon! Um descuido irreparável, senhor — olhei surpreso para meu pai. Ele tinha baixado o tom de voz e parecia submisso.
— Vamos esquecer isso, afinal, somos uma família agora — caminhou até minha mãe e beijou-lhe a mão — senhora Florence, é um prazer!
Minha mãe ficou ruborizada e olhou imediatamente meu pai que pareceu não se incomodar.
— Feitas as apresentações, vamos ao motivo que me trouxe aqui — todos olhamos para ele, não tinha ideia do porque estava ali — queria conhecer o futuro marido de minha sobrinha. E agora entendo porque Cédric o escolheu...
Aquele sorriso enigmático voltou a figurar em seus lábios. Eu não tinha ideia de quem era Cédric, nunca ouvi o nome. Antes que eu pudesse verbalizar qualquer pergunta, meu pai sorriu junto com o homem.
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A devassa e o santo [COMPLETO]
RomanceUma baronesa libertina Um seminarista por puro Um casamento arranjado A devassidão de Martine d'Aulnoy corromperá a santidade de Benjamin Gaillard? Se vc estiver lendo esta história em qualquer outra plataforma q não seja o Wattpad, provavelmente...