Quando voltávamos para casa, ouvimos um estrondo altíssimo seguido de um brilho intenso no chão. Seis criaturas infernais, de pele azul, aproximadamente um metro e meio de altura, corcunda e empunhado espadas, surgiram.
—São minions—falou Lana. Entreguei um isqueiro pra ela e disse:
—Mantenha-o aceso.
Passei a mão nas chamas e lancei uma rajada de fogo contra aquelas criaturas. Era incrível como a pirocinésia intensificava aquele filete de chamas. Infelizmente os minions não sentiam absolutamente nada, era como se eu jogasse um balde de água em pleno verão.
—Eles não sofrem dano pelo fogo—disse Lana, atrasadíssima—são criaturas infernais, não faz sentido se machucarem por causa de altas temperaturas.
—Droga!—gritei. O que poderia fazer em relação à isso? Aquelas criaturinhas nos ameaçavam com seus dentes horrorosos, e eu estava totalmente impotente. Eles não possuíam nome nem prazo de validade, o que me impedia de matá-los.
—Lana, destrave o selo—falei. Ela retrucou dizendo:
—Evil foi bem claro ao dizer pra não liberar o selo por qualquer motivo.
—Somos imortais, mas sentimos dor—respondi—se esses minions conseguirem nos dominar seremos torturados para sempre. Preciso que libere o...
Fui interrompido quando algo atingiu o chão com brutalidade. As criaturas recuaram. No chão formou-se uma cratera e uma enorme nuvem de poeira se levantou. Aquilo dificultou muito a minha visão. A poeira baixou e pude vislumbrar uma garota de pele clara e cabelos ruivos em pé no centro. Sua esclera, parte branca do olho, era negra e sua íris tinha uma coloração verde intensa que cintilava com fulgor. Apenas um lençol branco encardido cobria seu corpo. Ela ergueu sua cabeça e flutuou lentamente para fora da cratera. A garota estendeu as mãos e uma esfera luminescente disparou-se contra um dos minions, que se transformou em pó.
—Billy, afaste-se—Lana sussurrou enquanto segurava meu braço—essa garota... é Merascylla, o Celestial Esmeralda.
Ela grudou-se em mim demonstrando medo. Sentia seu coração acelerar e era evidente sua tremedeira. O que um celestial estava fazendo naquele lugar? Merascylla se aproximou lentamente dizendo:
—Você é Billy, não é? O substituto de Death. Temos pendências para tratar.
De repente acelerou em minha direção. Meu corpo estremeceu. Em um piscar de olhos ela estava do meu lado com a mão em meu ombro.
—Vamos ao Mayhem—falou. Um brilho verde tomou conta de minha visão por alguns segundos. Aos poucos a luz diminuía e conseguia ver onde estava. Merascylla nos levara ao castelo de Evil, que estava sentado em seu trono.
—A que devo sua visita, sobrinha querida?!—disse ele, com um sorriso no rosto. A celestial respondeu:
—Death falhou com sua missão. Klaus não morreu e continua sendo uma enorme ameaça aos celestiais. Precisamos cuidar disso.
—Quem é Klaus?—perguntei. Evil respondeu:
—Um humano, o único que conseguiu enganar Death. Ele fez um acordo com Minimus, o anjo-beta da sabedoria. Minimus teria direito à metade da vida dele se contasse como funciona a morte.
Ele explicou que Klaus compreendeu e planejou sua estratégia imortal. Ele foi ao cartório para mudar seu nome. Durante a história, descobrimos uma nova classe: os Dantes, uma versão menor e pacífica dos minions. São criaturas microscópicas que correm por toda a terra. Quando Death escrevia em seu corpo o nome de alguém, os dantes liam a mente dele pra verificar o rosto da pessoa. Após isso eles a perseguiam e conferiam seus documentos de identidade. Dessa forma, Klaus tinha um curto período de tempo pra realizar trocas de identidade, lícitas ou não, para não morrer. E assim ele enganou Death durante anos, cada vez usando uma estratégia diferente.
—A sabedoria daquele humano era surreal—falou Merascylla. Segundo ela, Death lutou com Klaus e quase perdeu. Após um século, Evil entrou em contato com a Vanguarda Celestial, que consistia em um exército de dez celestiais que combatiam qualquer anomalia no universo. Eles enviaram apenas três celestiais, por se tratar de um humano, considerado um problema de fácil resolução. Os enviados foram Merascylla, Ariados e Mileto. O inesperado aconteceu quando Klaus usou um amuleto místico e matou dois celestiais. Em geral, apenas um celestial poderia matar outro, e mesmo assim, sempre que um deles morria criava alguma forma de vida.
—Nesse caso, Ariados e Mileto simplesmente viraram pó—contou Evil—Merascylla recuou a tempo e comunicou à Vanguarda.
Eu sentia um medo tão intenso apenas por estar diante daquela celestial. Era algo totalmente ilógico pensar que alguém pudesse simplesmente destruir esses seres imortais.
—Por que trouxe o garoto?—perguntou Evil. A celestial respondeu:
—Porque ele é a morte, só esse garoto pode levar a alma de Klaus para o Nethearth. Precisamos agir rápido.
Evil levantou-se do trono e disse:
—Usá-lo como um trunfo seria inútil! Billy tem o selo da maldição e não consegue usar nem 10% do poder de Death.
Merascylla deu de ombros, segurou minha mão e usou aquele teletransporte do brilho esmeralda. Voltamos à superfície. Lana ainda estava trêmula.
—Eu não posso fazer nada por você.—falei—É impossível pra mim enfrentar alguém que enganou alguém como Death e...
—Não fale como se Death fosse melhor que você—disse ela—ele nunca será. Death era puramente um anjo-beta, isso fazia dele uma mera criatura, sem emoções, preso em um único estado propositado. Me escute Billy, você é um anjo-beta com base humana, seus poderes se moldam segundo suas emoções. Não há regras pra você!
Merascylla puxou-me para mais perto. Meu coração disparou. Estar tão perto de um celestial provocava uma sensação intensa no meu corpo, como se sua energia fluísse em mim. Nossos olhos fitaram-se. Repentinamente, sua mão atravessou meu peito. Do outro lado de meu corpo, Merascylla segurava, literalmente, meu coração. Lana ficou assustada, era visível. Ela sentia a mesma dor imensurável que eu estava sentindo e também sabia que um celestial poderia me matar de qualquer forma.
—Eu preciso de você, humano!—sussurrou no meu ouvido. Logo após, Merascylla posicionou meu coração entre os pulmões e esperou meu corpo se regenerar. Não entendi como ainda estava vivo, afinal ela era um celestial, mas de certa forma fiquei aliviado. Voltamos para casa de Lana, acompanhados por Merascylla. Nos sentamos no quarto.
—Escutem bem—falou a celestial—vocês dois ficarão nessa casa até eu encontrar Klaus. Se ele descobrir que há um novo anjo da morte vagando pela terra, não teremos tempo de enfrentá-lo.
Assenti. Não ousávamos questioná-la porque o que eu sentia perto de Merascylla era totalmente aterrorizante. Ela saiu. Segurei a mão de Lana e disse:
—Vamos nos meter na maior furada de nossas vidas. Sei que acabamos de nos conhecer, mas... agora que somos um, te garanto que vai ficar tudo bem. Não vou deixar ele me matar, nem te machucar, porque eu sei que se um de nós morrer...
Ela olhou para mim com um belo sorriso desenhado no rosto e disse:
—Foda-se o resto! Só quero ver você matar esse Klaus.
Gargalhamos juntos. E assim passamos um mês. Trinta dias do mais terrível tédio. Clarisse nos visitava às vezes. Nesses dias de confinamento, acabei ensinando as duas a jogar xadrez e ainda criamos uma forma de jogar em trio. Após isso, mais três semanas se passaram, até que Merascylla finalmente retornou.

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Mayhem
FantasyHá quem acredite em vida pós-morte, outros acham uma mera fantasia, mas Billy sentiu na pele algo parecido. Ao realizar com sucesso uma tentativa de suicídio, o garoto se encontrou com Evil, o rei de Mayhem, uma espécie de submundo. Death, o anjo da...