VII

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Lana terminou sua invocação e Evil surgiu. Aquela figura sombria se ergueu, fitou todos nós e por um minuto fez-se pouco boquiaberto.
Desde a fundação da Terra, essa é a primeira vez que vejo dois anjos da morte em um mesmo lugar—falou ele. Esse era justamente o motivo do conflito. Levei o garoto para mais perto de Evil e disse:
Preciso que o transforme em um anjo-beta. Esse garoto precisa viver.
Você está impedindo a morte de um humano—indagou Tod—deveria ser contra as regras.
Evil, eu só quero alguém pra me ajudar, e escolhi esse rapaz. Eu te dou qualquer coisa, desde que transforme-o em um imortal.
Ele estalou os dedos e seu trono de ossos se formou naquele lugar. Evil sentou-se, respirou fundo e disse:
Você sabe bem da minha política de troca. Preciso ser beneficiado, caso contrário não irei colaborar. Quero que a alma de Lana vá para o submundo.
Ah, aquilo me deixou emputecido. O que Evil estava tramando? Por que a alma de Lana favoreceria ele?
É a troca equivalente—falou Tod—vocês não percebem, mas a base para os poderes de Evil é a alquimia.
A alquimia é uma espécie de pseudociência que consiste em transformar um material em outro, mantendo a mesma massa. "Na natureza nada se cria, nada se destrói, tudo se transforma". Essa é a lei da alquimia. Aquilo me colocou em uma situação totalmente tensa. Não queria desistir do garoto, mas também não podia trocá-lo por Lana. Merascylla acariciou o chifre de Evil enquanto falava:
Eu ofereço o meu poder celestial. Ao menos metade dele deve ter o mesmo valor que um anjo-beta.
Você aceita, Billy?—perguntou ele. Assenti—Então ficarei com todo o seu poder.
Evil se levantou e o trono se reduziu às cinzas. Suas mãos se aproximaram de Merascylla e consumiram toda a aura verde que ela possuía. Olhei para ela e vi seu nome e sua validade: Serena, 9 anos. Não imaginei que ela ainda teria tempo de vida restante, então me senti aliviado. A sabedoria de Serena era demasiadamente útil para a nossa caçada. Soltei Rich, que já se tornara um anjo-beta, como eu.
Você será o escudeiro de Billy. Proteja-o e o auxilie em seus afazeres—falou Evil—Já está na hora de matarem mais pessoas.
Tod foi embora. Depois disso seguimos nosso caminho.
Qual é a estratégia?—perguntou Lana. Serena respondeu:
Vamos na biblioteca. Nos registros humanos existem vários artefados criados tanto pelos celestiais quanto pelos humanos.
Chegamos naquela enorme biblioteca. Demoraríamos meses para encontrar o que queríamos. Nos separamos. Fui com Serena para o andar de cima, enquanto Lana e Rich procuravam no primeiro andar. Enquanto olhávamos os títulos de cada livro, todos mal organizados pelos usuários da biblioteca, meus olhos encontraram os de Serena. Meu coração acelerou.
Billy, eu... fiquei pensando nesse tempo todo e... poderíamos voltar de onde paramos—disse ela. Houve silêncio. O que eu poderia responder? Seria sincero negar que eu deixara de amá-la pelo fato dela ter ido? O cosmos arrebatou ela e me deixou sozinho, nesse mundo vazio e isso foi horrível. Ah, eu era orgulhoso demais para pedir um recomeço. Por muito tempo lutei para que não acabasse... procurei encontrar seu coração novamente, mas a garota que eu amava era muito mais rápida que toda a minha alma. Abaixei minha cabeça, respirei fundo e falei:
"Quem ama extremamente, deixa de viver em si e vive no que ama". Essa afirmação de Platão é tão... tão surreal. Já parou pra pensar que eu saí da minha bolha por você... e depois disso nunca mais te vi?!
Serena se aproximou, abraçou-me e sussurrou em meu ouvido:
Eu renunciei meus poderes... voltei para esse mundo... tudo por você. Billy, você foi o amor das minhas duas vidas... tanto como humano quanto celestial... eu te amei.
Me afastei. Não conseguia pensar nem responder de maneira coerente, então saí de perto dela. Cheguei naquele momento em que eu não conseguia discernir meus sentimentos. Os acontecimentos foram se passando de uma só vez. Toda a bagagem foi lançada em meus ombros com demasiada brutalidade. Depois de alguns minutos, achei um livro cujo nome era "O Artefato dos deuses". Peguei-o e lentamente me aproximei de Serena dizendo:
O tempo será meu conselheiro.
Entreguei-a o livro e desci as escadas. Chegando nas mesas de leitura, Serena abriu o livro e foi passando as páginas até encontrar o anel que Klaus usava.
Chama-se "Selo da Alma Imortal". Segundo os antigos, essa jóia possui a alma de um imortal, que luta para sair. Com um bom dominador, o anel é capaz de absorver qualquer outro imortal, que logo é consumido pelo nativo da jóia.
Um artefato capaz de conter a alma de um ser tão poderoso como o celestial... era como se fosse um conto de fadas.
Está escrito sobre as limitações?—perguntei. Serena folheou o livro e respondeu:
O anel não funciona em espíritos infernais, no caso, os minions e demônios não podem ser mortos. Além disso, se a jóia for revestida por algum material que emita alta radiação, seus efeitos são anulados.
Onde achamos esse material, Billy?—perguntou Lana. Antes que eu pudesse responder, Serena falou:
Vocês, anjos-beta, podem usar a alquimia de Evil, em uma escala pouco menor.
Sim, nós basicamente precisamos de algo com a mesma massa que o Urânio, por exemplo—falei, empolgado. Contudo, Serena quebrou nossas esperanças, dizendo:
Vocês precisam de um círculo de transmutação. São padrões circulares que vão redirecionar a energia e fazer a remodelação atômica.
Vamos precisar de uma boa estratégia pra neutralizar o Klaus.
Corri para a sala de arquivos e peguei alguns papéis. Comecei a desenhar alguns esquemas e expliquei:
Vamos atraí-lo para a praça da rua 17, por ser um lugar menos movimentado. Depois disso, Rich vai desenhar um círculo de transmutação—mostrei a folha que eu desenhara o círculo—Lana e eu vamos lutar com ele e cansá-lo um pouco. Por fim, levamos ele até o círculo. Rich vai transmutar o asfalto em urânio e criar uma espécie de jaula. Vamos finalizar ele dentro dessa prisão.
E o que eu vou fazer?—perguntou Serena. Olhei em seus olhos e respondi:
Você voltou a ser humana, não tem o que fazer. Só vamos precisar do seu conhecimento.
E se nós falharmos?—falou Rich, aflito. Suspirei e disse:
Morreremos...

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