VI

8 1 5
                                    

Sim, minha ex-namorada, que simplesmente desaparecera sem deixar rastros, havia surgido como Merascylla, a celestial esmeralda. No começo eu desconfiava, mas só depois que a ficha caiu.
Billy, não foi minha escolha...
Serena... Merascylla... isso não vem ao caso. Já se passou muito tempo e eu enfrentei tudo sozinho... do pior jeito possível, mas enfrentei—falei. A progressão dos fatos era algo bem interessante. Primeiro ela entrou na escola, nos apaixonamos, namoramos, ela sumiu, voltei a ser o isolado depressivo(sempre fui, mas sem Serena, eu não tinha absolutamente ninguém), Clarisse tentou a aproximação e eu me suicidei. Se eu não fosse imortalizado, Serena jamais me veria. Tudo o que eu pensava era nessa possibilidade... e se eu não tivesse sido punido por Death?

No dia seguinte, nos focamos em procurar por Klaus. Vagamos pela cidade procurando qualquer coisa que nos levasse àquele maldito. Quando passamos vi um garoto chamado Rich em uma ponte. O que chamou minha atenção foi seu tempo de vida, que estava zerado. Eu sabia que era obrigatório matar qualquer um que tivesse seu tempo de vida expirado, mas aquele garoto parecia tão bem olhando de longe. Isso me fez deduzir a mais provável e triste das hipóteses. Me aproximei. Lana e Merascylla não compreenderam.
Billy, não podemos perder tempo—falou a celestial. Simplesmente ignorei. Me aproximei do menino e vi que ele estava chorando. Abracei-o e disse:
O que está acontecendo? Por que esse pensamento conturbado?
Eu estou cansado disso tudo... tudo mesmo.—respondeu, soluçando de tanto chorar—Eu perdi a única oportunidade que tinha de fazer intercâmbio e estudar numa universidade no exterior.
Rich me contou que seu pai não reagiu bem. Disse que faltou esforço da parte dele e que ele não passava de um fracassado.
Eu falei que ia tentar uma outra faculdade, mesmo aqui—o garoto explicou—e ele respondeu: "se você fracassou pela primeira vez, não vai conseguir de novo. Gastei com seu cursinho, e foi dinheiro jogado fora".
Eu imaginei como era ouvir aquilo de um pai. Diferente de mim, a maioria das pessoas consideram o pai como um mentor. Ser chamado de fracassado por alguém que se admira tanto é como se tudo o que aprendesse durante a vida inteira fosse jogado fora. Empatia... foi o sentimento que predominou em mim naquele instante. Eu chorei... chorei como se tivesse passado por tudo o que o garoto passou.
Essa semana faz dois anos que minha mãe morreu. Ela estudou na faculdade de Oxford, passou pelo mesmo vestibular que eu tentei... tudo o que meu pai queria era que eu fosse como ela, mas eu fracassei—continuou—Eu só queria pular dessa ponte e deixar a correnteza me levar até o inferno.
Levantei a camisa e falei:
Essa cicatriz... ela me marcou pra sempre. Eu também tentei suicídio e morri, literalmente. Na minha mente eu simplesmente morreria e ficaria em um vazio eterno, mas não foi bem assim. A morte não traz conforto, ela causa dor! Você não fracassou garoto, pelo contrário, você venceu.
Falei com ele que milhares de pessoas deixam de tentar pelo medo de perder, e por isso o mérito de tentar vale por si só. O dinheiro gasto com o curso serviu de aprendizado pra fazer um outro vestibular e se sobressair.
As pessoas não conseguem enxergar seu potencial—continuei—nem mesmo você consegue, afinal, ele está dentro de você. Tirar a sua vida mataria todo esse potencial e sua capacidade de se tornar alguém melhor e mudar o mundo!
Ele estava pouco incrédulo sobre o fato de eu ter morrido, mas mostrei pra ele meu poder de pirocinésia, que chocou um pouco o garoto. Demorou um tempo até ele absorver tudo isso e aceitar.
Você se matou e ganhou poderes. Não foi algo ruim pra você, foi?—Rich perguntou.
Eu me arrependo de ter tirado minha vida—respondi—eu perdi a oportunidade de vencer minhas decepções e tudo aquilo que se passava pela minha cabeça. Eu voltei à vida como punição, e isso me serviu de aprendizado. Aprendi a valorizar a vida como nunca valorizei.
Eu olhei para o alto, sorrindo e disse:
Pessoas que se aproximam da morte são as que mais ajudam outras a fugir da morte. Eu vejo o tempo de vida das pessoas, e sei que o seu tempo chegara a zero... você chegou bem próximo da morte. As pessoas vão sobreviver graças a você. Proteja as pessoas do seu pior inimigo.
Que inimigo?
A depressão... e uma série de transtornos que causam ela. Milhões de pessoas morrem por não conseguir ajuda, e elas não precisam de ajuda porque são fracas, mas porque não conseguem ver a força que elas têm.
Eu jamais acreditaria que alguém pudesse voltar à vida, mesmo vendo seus poderes—disse Rich secando as lágrimas—mas agora eu tenho certeza de que você voltou dos mortos.
Como chegou a essa conclusão?—perguntei.
—"Aqueles que chegam mais perto da morte são as que mais ajudam outras pessoas a sobreviver". Você salvou minha vida... era tudo que eu precisava...
De repente surgiu um homem alto e robusto, vindo em nossa direção. Ele estava nu e seu corpo estava cheio de grifos sombrios.
Anjo da morte, por que tardas em matar o moleque?—perguntou ele. Eu respondi:
Por que o garoto não vai morrer, ele decidiu isso.
Ele pegou uma caneta e escreveu em seu braço. O brilho incandescente surgiu. Rich me deu um empurrão e pulou daquela ponte. Usei minhas correntes para segurá-lo e o puxei de volta. Mantive Rich preso.
Como diabos você fez isso? Pensei que só o anjo da morte tivesse a habilidade de matar escrevendo nomes—falei. O homem respondeu:
Me chamo Tod, sou um anjo da morte.
Aquilo me deixou boquiaberto. Jamais imaginaria que houvesse outro anjo da morte.
A estimativa diz que a cada um anjo da morte, há 100 mortos. Como acha que acontece várias mortes simultâneas, se você é um bundão e não faz nada—disse Tod—se dependesse de você para matar alguém, os humanos seriam imortais.
Aquilo me ofendeu. Eu estava decidido. Rich não morreria. Aquele garoto iria prevalecer sobre a morte, independente das circunstâncias. Eu estava disposto a defendê-lo com unhas e dentes, mesmo que sacrificasse minha imortalidade e tudo que existia em mim. Rich... esse garoto me deu motivos pra lutar pelo meu mundo. Infelizmente, por sermos anjos da morte, era bem provável que nossos poderes fossem iguais, então a luta dependeria de experiência, e eu não era tão experiente quanto um aquele cara. Respirei fundo e gritei:
Lana, venha cá. Faça o ritual e chame Evil.
Ela olhou para Tod e para o garoto amarrado em mim pelas correntes. Lana nem imaginava o que estava acontecendo, afinal ela e Merascylla só acompanharam de longe.
O que você quer com ele?—perguntou ela. Então respondi dizendo:
Vou pedir pra Evil transformar o menino em um anjo-beta. Esse idiota não vai poder matá-lo se ele for imortal.

MayhemOnde histórias criam vida. Descubra agora