Merascylla disse com toda a empolgação que poderia demonstrar:
—Encontrei Klaus. Vamos Billy, você precisa matá-lo!
Saímos. Eu estava invisível. A celestial fez questão de me orientar sobre meus poderes. Ela me dissera sobre economia dos grifos infernais. Segundo ela, os grifos são consumidos em progressão aritmética, ou seja, com o passar do tempo eram consumidos mais grifos. Ativar e desativar a invisibilidade diminuiria os gastos. Assim o fiz. Me escondia e logo após ficava invisível novamente, sempre oscilando. De fato os grifos demoravam mais a sumir. Nos sentamos no banco de uma praça. Merascylla sussurrou dizendo:
—Está vendo aquele homem de barba loira? Ele é o alvo.
Era alto e barrigudo. Seus cabelos e barba eram loiros e seus olhos azuis. Seu nome estava como "Antônio Ferraz" e sua data de validade não aparecia. Peguei minha caneta e escrevi seu nome no braço. Repentinamente meu braço brilhou com mais intensidade do que o costume. Klaus me notou. Merascylla se levantou e gritou:
—Agora!
Ela investiu com fúria na direção dele cerrando os punhos. Klaus desviou de seu soco e atingiu a celestial com um golpe em suas costelas.
—Lana, libere o selo—pedi.
—Não consigo liberar tudo, apenas...
—Não importa—respondi—apenas 70% é o suficiente.
Lana pôs sua mão em minhas costas e girou no sentido horário. Aquilo queimou-me por dentro de uma forma tão intensa. Era como se todo o Mayhem ardesse em mim. Minha velocidade era incrível e meu corpo ficava cada vez mais forte. Rapidamente me aproximei de Klaus e o ataquei, tentando um chute. Nunca aprendi a lutar, mas de certa forma parecia estar sendo guiado por uma força maior. Ele segurou meus pés e tentou me dar uma rasteira. Antes de cair no chão, correntes surgiram das minhas costas e se entrelaçaram ao corpo de Klaus. Me ergui. Com o selo parcialmente destravado, podia "gerar" fogo, ao invés de apenas manipulá-lo, isso me deixava tão empolgado. Tentei queimar seu rosto, mas nem sequer danificou sua barba bem feita. Merascylla aproveitou sua distração e atravessou seu peito com as duas mãos.
—Vejo que está ficando mais sorrateira, almirante Serena—disse Klaus—vejo que trouxe a Morte. O garoto me lembra muito o velho Death.
—Esse não é mais o meu nome, ao menos me respeite!—protestou ela—Sou Merascylla, a Celestial Esmeralda, e vou acabar com essa sua maldita imortalidade!
Klaus agarrou meu pescoço. Notei um anel em seu dedo, que parecia uma bijuteria comum, mas emitia a mesma energia que eu sentia quando estava perto de Evil e Merascylla. Provavelmente era esse artefato que Klaus usava para matar os celestiais. Eu podia controlar as corrente como se fossem membros do meu corpo, e isso me serviu para uma estratégia desesperada. Dividi em quatro partes. Duas empurravam o braço dele para baixo, na tentativa de reduzir a força aplicada e outra tentou atacar seu rosto, mas sem sucesso. Aproveitei o momento para enrolar a corrente em meu pescoço com brutalidade. A força da rotação foi capaz de tirar a minha cabeça. Meu pescoço escorregou e Klaus largou meu corpo. Enquanto me regenerava, Merascylla usou seu teletransporte e simplesmente sumiu do mapa, junto com Klaus. Depois disso me decidi:
—Vamos pra casa.
—Precisamos encontrar Merascylla—disse Lana—Ela deve ter ido para o planalto, que é mais afastado da cidade.
—Eu não vou entrar nessa briga. Klaus quer imortalidade, se ele está passando por cima da ordem natural é problema dos celestiais.
Então caminhei, mesmo com as correntes arrastando no chão. As pessoas já haviam se desesperado o bastante desde o início dessa luta. Minhas suspeitas estavam certas o tempo todo... eu me arrependi amargamente de ter entrando naquela briga. Nós enfrentaríamos algo muito além do que imaginávamos, e Lana queria ir como se fosse brincar num playground.
—Billy, você está sendo um egocêntrico idiota!—gritou. Eu ignorei. Oito dias se passaram. Merascylla e Klaus nem deram sinal.
—Que tipo de anjo da morte é você?—perguntou Lana. Antes que ela falasse qualquer coisa, a interrompi e disse:
—O tempo... já parou pra pensar em como é interessante? Uma progressão de acontecimentos moldam completamente qualquer coisa, inclusive um celestial. Quando Merascylla veio me fez pensar... lembra-se quando me perguntou se alguém já disse que me amava? Minha resposta não foi totalmente sincera e...
Uma terrível dor de cabeça me impediu de completar a frase. Um forte barulho soou e logo após ouvi a voz de Evil dizendo:
—Garoto, o que está fazendo parado aí? Merascylla precisa de você.
—Isso não é mais problema meu.
—Como não? Você é o anjo da morte—falou ele—um humano vivendo por 269 anos é afrontar sua capacidade de matar, e você vai mesmo se rebaixar a isso? Eles estão nos campos do sul, Lana irá te teletransportar. Aliás, estou liberando o selo da maldição por completo, e ainda tenho uma surpresinha pra você. Klaus não é qualquer um... vai precisar de toda a ajuda possível.
Assim que ele terminou de falar, os grifos infernais preencheram todo o meu corpo e tive mais um aumento muscular.
—Ah, que se dane o resto!—gritei—Lana, me teletransporte para os campos do sul.
—Eu nunca fui naquele lugar—ela respondeu.
—Mas eu sim. Meus pais me levavam direto para aquele lugar quando eu era criança. Ficávamos acampados durante alguns feriados. Eu e você compartilhamos a mesma mente, esqueceu?
Lana assentiu, pôs suas mãos em minhas costas e usou o teletransporte. Quando cheguei no campo, Klaus havia sumido, e Merascylla estava no chão rodeada por gigantes que emitiam a mesma energia que ela. Um deles, o que estava vestindo uma roupa violeta e tinha a pele amarela, se aproximou de mim e disse:
—Eu sou Kimanto, líder da Vanguarda Celeste. Merascylla quase foi morta pelo humano imortal, mas chegamos a tempo. Estávamos esperando o anjo da morte chegar.
—Sou eu. O que precisam?—perguntei. Kimanto respondeu:
—Você tem um prazo de 150 quimiens para matar Klaus. Se você falhar vamos eliminar seu planeta com tudo que há dentro dele.
—Você não pode fazer isso!—falei—Vai acabar matando um dos Seis Guardiões... além disso somos o planeta com a maior diversidade...
—Alpheos fez uma reunião—retrucou—os cinco entraram em consenso e decidiram isso.
—Você não tem escolha—disse Merascylla, que se esforçava para levantar—nenhum de nós tem. Vamos focar em achar Klaus, e se não conseguirmos...
Ela me puxou pelo braço e se teletransportou para a casa de Lana. Era de se admirar a forma como Merascylla simplesmente esquecia de Lana, que se teletransportava sozinha por causa da distância que estava de mim.
—O que diabos são esses quimiens?—perguntei. Merascylla respondeu:
—É a contagem de tempo pelo movimento do universo. Apenas os celestiais são capazes de sentir essa movimentação. Um quimien equivale a 1.25 horas terrestres. Temos um prazo de cinco dias terrestres.
—Só isso vai ser suficiente?—perguntou Lana. Merascylla respondeu:
—Terá que ser. Eu juro que vou proteger esse mundo com a minha vida, eu juro...
Aquilo fez pipocar uma dúvida na cabeça de Lana, que questionou:
—Por que se preocupa tanto com esse planeta? Os celestiais não se importam, nós nem fazemos diferença pra eles. Evil é o único que tem motivos pra nos proteger e...
Realmente era estranho. Os celestiais sempre foram seres egoístas, que esfregam sua grandeza por todo lugar. Não era normal alguém além de Evil se preocupar tanto. Merascylla deixou uma lágrima escapar. Quando olhei em seus olhos tive certeza... eu sabia!
—Ela faz parte desse mundo—respondi—quem diria que Serena ia voltar...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mayhem
FantasyHá quem acredite em vida pós-morte, outros acham uma mera fantasia, mas Billy sentiu na pele algo parecido. Ao realizar com sucesso uma tentativa de suicídio, o garoto se encontrou com Evil, o rei de Mayhem, uma espécie de submundo. Death, o anjo da...