Capítulo 13- Will

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- Obrigado - Sorri e essa palavra nunca significou tanto quanto naquele momento. Não era um "Obrigado por trazer meus remédios", um "Obrigado por limpar meu vômito" ou um "Obrigado por não me deixar cair de cara no chão, porque minhas pernas falharam". Era um "Obrigado, por aceitar, por me deixar ir, por me deixar viver, por viver comigo"

Zach sorriu de volta e por seu olhar, eu sabia que ele entendeu exatamente o que aquele obrigado significava. Que sabia o quanto ir àquele show significava para mim. Passamos alguns momentos em silêncio. Antes que ele falasse:

- Vou pegar minhas coisas, - Pegou as chaves do carro antes de sair

- Ei, você não confia em mim? - Perguntei fingindo indignação

- Com a minha vida. - Foi a resposta, ele jogou a chave para cima e a pegou no ar - Mas com a sua, nem tanto.

Bufei ao ouvir isso, mas não tinha realmente um argumento depois ter tentado fugir há tão pouco tempo.

- Você pegou seus remédios?

- Acha que eu seria idiota o bastante para sair sem eles?

- Por que você acha que perguntei? - Reconheci a brincadeira e mostrei a língua como uma criança. - Quanto as outras coisas? - Sua expressão estava mais séria.

- Que outras coisas? - Perguntei fingindo não saber.

- Will, se vamos fazer isso você tem que confiar em mim.

A forma como me olhou, dizia que meu segredo, não era mais um segredo.

- Eu peguei as fraldas também. - Senti meu rosto corar quando respondi - Como você sabia?

- O cheiro das roupas no banheiro. - Meu rosto ficou ainda mais vermelho. - Will, olhe para mim - Não consegui fazer o que ele pedia - Will, por favor.

- O que? - Perguntei, finalmente atendendo ao tom suplicante

- Você não precisa se envergonhar.

- Eu tenho quase vinte anos e estou usando fraldas. Até onde vejo sua afirmação não faz sentido.

- Você também está aguentando toda a situação muito melhor que muita gente. Inferno, muito melhor que eu aguentaria. Eu estaria enrolado em posição fetal no meu quarto.

- Isso deveria me fazer sentir melhor?

- O caso é que você não pode controlar os impulsos de seu corpo mas pode controlar o que você faz, quem você é.

- Você sabe que isso ficou estranhamente parecido com um trecho de uma palestra para Pervertidos Anônimos, né? - Eu disse tentando desviar do assunto.

- Will - Ele manteve sua expressão séria.

- Eu entendi, OK? Sou muito corajoso e fazer xixi nas calças não muda isso - Falei em um tom monótono - Agora vai pegar as suas coisas antes que eu faça ligação direta e vá sozinho.

- Você sabe fazer ligação direta?

- Isso não vem ao caso. Vai logo.

- OK, idiota

- Não demore, Vadia.

Me encostei mais no banco quando ele se afastou, meu corpo doía e eu não conseguia deixar de pensar no que Zach acabara de dizer. Eu me sentia horrível com a situação, bem, eu me sentia horrível no geral, mas não poder controlar minha bexiga e intestino aos 19 anos era o mais humilhante de tudo. Ainda assim talvez meu irmão estivesse certo. Eu tinha escolhido não deixar que minha condição não me transformasse em alguém que eu não era, e autopiedade não fazia parte de quem eu era.

O Último Show Da Minha Vida (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora