4. A casa de Scarron

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Uma hora depois, eu estava na casa do sr. Ledru.

Encontrei-o no pátio por acaso.

- Ah - disse ele ao me ver -, é o senhor? Tanto melhor, não me aborrece conversarmos um pouco antes de apresentá-lo a nossos convidados, pois janta conosco, não é mesmo?

- O senhor terá de me desculpar.

- Não aceito desculpas. O senhor apareceu numa quinta-feira, azar o seu. Quinta-feira é o meu dia, tudo que entra em minha casa às quintas-feiras me pertence por inteiro. Depois do jantar, estará livre para ficar ou ir embora. Não fosse o recente episódio, teria me encontrado à mesa, considerando que almoço invariavelmente às duas da tarde. Hoje, excepcionalmente, almoçaremos às três e meia ou quatro. Pirro,[19] que o senhor vê ali... - e o sr. Ledru me apontou um mastim magnífico -, aproveitou-se do susto da sra. Antoine para abocanhar o pernil, estava em seu direito, de maneira que fomos obrigados a mandar buscar outro no açougueiro. Mas eu dizia que isso me daria tempo não apenas de apresentá-lo aos meus convidados, como de lhe dar algumas informações sobre eles.

- Informações?

- Sim, são personagens que, como os do Barbeiro de Sevilha e do Fígaro,[20] exigem certa explicação prévia a respeito de seus costumes e caráter. Mas comecemos pela casa.

- Creio tê-lo ouvido dizer que pertenceu a Scarron?

- Sim, aqui a futura esposa do rei Luís XIV, imaginando divertir o homem "indivertível", cuidava de seu pobre perneta, o primeiro marido. O senhor verá o quarto.

- O da sra. de Maintenon?

- Não, o da sra. Scarron. Não confunda: o quarto da sra. de Maintenon fica em Versalhes ou em Saint-Cyr.[21] Venha.

Subindo uma grande escada, vimo-nos em uma galeria que dava para o pátio.

- Veja - disse-me o sr. Ledru -, eis algo que lhe diz respeito, sr. poeta. Usava-se um código rebuscado em 1650.

- Ah, o mapa da Ternura? [22]

- Ida e volta, desenhado por Scarron e anotado pela mão da mulher. Nada menos que isso.

Com efeito, dois mapas ocupavam o intervalo entre as janelas.

Haviam sido desenhados a pena sobre uma grande folha de papel colada numa cartolina.

- Observe - continuou o sr. Ledru -, essa grande serpente azul é o rio da Ternura; esses pequenos pombais são as aldeias dos Mimos, dos Bilhetinhos e do Mistério. Eis o albergue do Desejo, o vale das Doçuras, a ponte dos Suspiros, a floresta do Ciúme, povoada por monstros como Armida.[23] Por fim, no meio do lago onde nasce o rio, o palácio do Perfeito Contentamento: é o fim da viagem, o objetivo do circuito.

- Diabos! Que vejo ali? Um vulcão?

- Exatamente, ele às vezes sacode o país. É o vulcão das Paixões.

 É o vulcão das Paixões

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