turbilhão de sensações

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23 de Janeiro de 2020

Estou sem sono, e olha que já são quase seis horas da manhã e sequer cochilei. Talvez seja hora de ocupar a mente com mais memórias. Como no dia em que chegou de viagem do Rio de Janeiro, três dias depois do ano novo. Antes disso, naquela ligação do dia 31 de dezembro, eu não conseguia desfazer o enorme sorriso patético e apaixonado que você havia deixado em meu rosto. E as pessoas notavam — e é claro que elas notariam Miguel, só você me deixava daquela forma. Igor, um dos amigos dos meus irmãos, veio falar comigo logo após terminarmos aquela ligação.

— Ei, você tá aí! — disse passando a mão pelo meu pescoço e me puxando para um abraço. — Estava falando com quem, hein?

Com a pessoa que pretendo passar o resto da minha vida ao lado, e não estaria mentindo se eu tivesse coragem de dizer aquilo. A sensação era de estar pairando sob as nuvens, onde vez ou outra, eu esbarrava em alguma montanha super alta que quase me fazia cair, como Igor.

— Te vi no quarto, pela janela... — continuou.

Não senti nenhuma necessidade de contá-lo sobre nós, ou qualquer coisa sobre mim. Mas ele parecia acusar um ato errado ou impróprio.

— Era um amigo. — disse ajeitando minha postura, colocando as mãos nos bolsos da calça.

— Um amigo... Sei. — quis saber naquele momento porque aquele interesse no que eu podia ou não estar fazendo. — Tem certeza que esse amigo não é algo mais?

Exatamente, Miguel. Por causa daquela conversa com Igor, que tivemos aquela conversa no aeroporto, quando fui te buscar no dia 3 de janeiro. Eu queria ser algo mais. E obviamente eu lhe cobrei.

— O que é? Vamos ter que oficializar cada passo dado agora? — respondeu após ter te perguntado.

A pergunta na verdade era muito simples para tanto rodeio. Então comecei a desconfiar de que havia dado um passo falso e adiado algo que eu preferiria não tê-lo feito.

— É apenas uma pergunta. Porque nós estamos juntos, mas não somos namorados...

— Você está dizendo que não?

— Ninguém disse que sim.

Você parecia ter ficado sem resposta. Então me encarou nos olhos.

— Eu acho que existem coisas mais importantes pra gente se preocupar agora, do que procurar por títulos que não importam. — você parecia ter se alterado, e te juro que queria me conformar com aquilo, mas não foi suficiente.

— Você está dizendo que não temos título algum? Não somos nada?

— Você quer um título? Use um! Me apresente como namorado, noivo, marido... Qualquer coisa já que isso é tão importante pra você.

Óbvio que depois daquilo eu não diria mais nada, e honestamente, aposto que você adorou meu silêncio.

Fomos para casa. Comecei a me indagar se fiz errado em cobrar isso. Porque você fez parecer que era. E para surpresa da minha desatenta ingenuidade, você ainda viria repetir isso de novo e de novo.

Assim que você chegou foi direto para o banheiro e com a porta do banheiro trancada, — óbvio que eu reparei nisso, Miguel, nós nunca trancávamos o banheiro do nosso quarto quando estávamos sozinhos — você tomou um banho de no mínimo uns quinze minutos. Sentei em nossa cama esperando por você. E mesmo quando saiu com aquela toalha branca com listras que eu odiava, agiu como se eu não estivesse ali. Miguel, você achou mesmo que eu lhe devia desculpas como me fez pedir? Porque você tinha isso consigo? Porque você nunca podia se responsabilizar pelas coisas que fazia?

— Senta aqui. — apalpei um lado da cama para que você viesse ao meu primeiro chamado. — Por favor.

Você estava secando os cabelos que ficavam ainda mais negros quando molhados.

Demorou alguns minutos depois do meu chamado até que você finalmente se sentou. Arqueando um olhar em minha direção que dizia "diga".

— Olha... Desculpa ter te pressionado. — se você conseguir se lembrar dessa conversa, vai recordar o quão foi difícil encontrar palavras para continuar alguma frase depois disso. — É que tenho medo.

— Você tem pressa. — me disse olhando tão fundo nos meus olhos que me senti sendo petrificada de dentro para fora. — Não sei o que ainda falta pra você, de verdade. Às vezes sinto que você precisa que eu diga que te amo a cada hora do dia.

Por dentro eu chorava. Mas o que você dizia não estava longe de ser verdade, porque mesmo você dizendo que não diria que me amava a cada hora do dia, não dizia que amava em nenhuma delas. As pessoas querem ser amadas, Miguel. Elas desejam sentir que são amadas e desejadas, e não existe nenhuma forma de se sentir amado sem que diga ou demonstre. Você pouco fazia ambos.

— Não quero te forçar a nada. É que às vezes te pego tão distante disso. — disse rodopiando o indicador referindo a nós naquele instante.

— Disso?

— Não sei o que chamar isso. Mas quero dizer que você está sempre aéreo quando se trata de nós dois. Como se de repente fôssemos nada além de bons amigos.

Naquele momento você se levantou e eu me preocupei, forcei minhas pálpebras a se fecharem num ato que repudiava a figura patética que eu havia passado ali.

De longe você começou a falar enquanto procurava por algo no guarda-roupa. Você pegou sua jaqueta de couro da Pallet Stone e veio até mim.

— Sabe, não sei por que você insiste em achar que me pressiona de alguma forma. Preciso que você deixe essa insegurança e me deixe te amar, do meu modo.

O que aquilo devia significar? Juro que até hoje não consegui entender.

— Enfim, — você enfiou a mão no bolso esquerdo da jaqueta e puxou um porta anel. — eu estava esperando pra uma ocasião que fosse realmente especial, não numa briga, mas se você deseja tanto um título, — disse abrindo o porta anel revelando aquela bela aliança folheada — me diz: o que acha de ser minha namorada?

Uma aliança folheada para um pedido de namoro? Confesso que você me surpreendeu como uma chuva que cai de repente no telhado.

Me levantei no mesmo instante. Me senti preenchida de certa forma, era isso que estava querendo que você entendesse. Só que apesar disso, mesmo sabendo que você já ia me pedir em namoro em algum momento, não deixei de pensar que lhe apressei e que talvez você tenha se desgastado por isso. Estou assumindo minha parcela de culpa aqui também.

— Miguel, você... Já ia me pedir em namoro?

O que eu quis dizer foi: Miguel seu filho da puta burro, porque você não poderia agir como uma pessoa normal e ter evitado todo esse conflito desnecessário?

— Eu estava com receio de ser rápido demais... Mas é você Tessa, é você a mulher da minha vida.

Fiz que não.

— Você não está indo rápido demais. — em seguida lhe empurrei minha mão.

Você tirou o anel da pequena caixinha e a pôs na mesa ao lado da nossa cama. Seu primeiro gesto foi ajoelhar-se, ao passo que eu me sentei novamente.

— Agora você precisa dizer se aceita.

— Aceito! É claro que eu aceito!

Assim que o colocou em meu dedo, você o beijou. Depois se colocou de pé, segurando meu rosto. Seus olhos observavam meus lábios e sentir que você estava me desejando fez-me pegar fogo. Eu estava queimando de desejo por sua boca na minha. Lentamente seus lábios vinham a caminho dos meus e uma atração quase magnética se estabeleceu quando permiti que meus lábios encontrassem os seus no meio do caminho. Nós nos beijamos intensamente, como nunca havíamos nos beijado antes.

Você parou o beijo tirando a camisa e em seguida me empurrou para a cama percorrendo meu abdômen com cada centímetro dos lábios que eu acabara de beijar.

Podíamos ter sido ótimos juntos. Eu poderia ter sido a mulher da sua vida, queria ser, mas você mesmo desfez isso. E foi essa sua segunda mentira. Você não falava sério, portanto, nunca quis de verdade que eu estivesse na sua vida tanto quanto um dia te quis na minha.

— T.
01h18min

Por Isso Você Nunca Poderia Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora