Deux

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- Que cara é essa, Lou? – Ana perguntou observando a amiga que escrevia freneticamente no computador de sua sala e tinha uma expressão emburrada.

- A cara de uma pessoa cansada, nervosa e que está quase largando tudo e indo pra Londres. – Louise respondeu sem desviar os olhos da tela do computador.

- E o Elfinho está em Londres?

- Brighton. Vai jogar lá amanhã.

- Então não adianta nada você ir pra Londres se ele não está lá. E por que você está brava e nervosa? – Ana perguntou, sentando-se à frente de Louise e a olhou. Louise demorou a desviar os olhos da tela do computador, mas quando o fez, encontrou o olhar de Ana.

- Brava com aquele juiz estúpido, que em pleno ano de dois mil e dezoito foi um babaca machista comigo. Nervosa, porque meu cliente perdeu, já que aquele imbecil togado decide as coisas ao bel prazer e não conforme a lei! Eu quis gritar todos os palavrões possíveis na cara dele, mas tive que me controlar e sair de lá o mais rápido que podia antes que eu acabasse presa por desacato. Agora estou redigindo o recurso, em plena noite de sexta-feira, porque quando publicarem a decisão, o recurso já está pronto e eu vou acabar com aqueles idiotas.

- Eu gosto quando você fica nervosa e canaliza seu ódio em derrotar seus adversários na justiça. – Ana falou dando um sorriso. – Semana que vem você para de ter audiências no dia vinte. Vai pra Londres?

- Eu vou passar o Natal com meus pais, viajo pra lá depois que ele voltar de Watford, depois do jogo no dia vinte e seis.

- Eles vão jogar logo depois do Natal? Esses ingleses não têm coração? – Ana perguntou quase revoltada.

- E jogam no dia trinta e um, dia primeiro e dia dois também. – Louise respondeu dando uma risadinha.

- Ai que horror!

- Mas lá o inverno é bem menos intenso que aqui, não neva tanto e eles estão acostumados a sentir frio sempre e a chuva, então podem jogar tranquilamente.

- Os ingleses não possuem coração. – Ana falou descrente.

- Ainda bem que Eden é belga.

- Inclusive – Ana falou, remexendo na própria bolsa e tirou um pequeno saco plástico de lá. – isso aqui vai te ajudar a relaxar um pouco.

- Ana, você está me oferecendo maconha? – Louise a olhou quase descrente.

- Não faça essa cara, eu sei que você está bem mais agradecida do que chocada.

- Eu nunca disse que não estava agradecida, apenas me espanta que você me ofereça isso em horário de trabalho.

- Teoricamente, o expediente acabou há meia hora, Lou, então nós não estamos em horário de trabalho. – Ana deu de ombros. – E pega isso logo, vai pra sua casa, deita no sofá, aproveita e relaxa. Você está precisando.

- Estou. Essa semana foi estressante.

- Primeiro você liga pro Elfinho, depois você acende isso e vá curtir uma onda em paz, com tranquilidade.

- Você podia ter me oferecido uma garrafa de vinho, sabia? – Louise falou rindo, mas pegou o saquinho plástico e colocou na bolsa.

- Eu sei, mas não teria tanta graça. Agora vamos embora, temos um fim de semana pela frente e se eu ficar sabendo que você trabalhou ao invés de ficar à toa em casa, nunca mais você ganha um presente desses.

- Você é muito boa pra mim. – Louise deu um sorriso debochado, desligou o computador e ficou de pé. – Agora nós vamos embora. Quer carona?

- Não, obrigada. Vou pra casa da Lisa.

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