Capítulo 2 - Os poemas de Clarice

557 49 2
                                    

               Esfrego os olhos ao perceber que trajo a mesma roupa da noite passada e ao olhar no espelho grande do meu guarda – roupa, noto que minha expressão não é das melhores. Procuro uma roupa decente e corro ao banhei a fim de tomar um banho rápido. Apesar de preferir ficar ali trancado e não sair para encarar Calvin, sei que não posso me esconder a vida toda. Era melhor encarar logo tudo, e obviamente não faria isso feio. Escolho uma cueca box branca e uma camisa com estampa Florence Welch, uma cantora a qual tinha devoção. Tendo feito meu momento de beleza e cuidados, destranco a porta pesarosamente e antes de girar a maçaneta, conto até dez.

                Um cheiro delicioso sobe pelas minhas narinas ao começar a andar pelo corredor. Uma música bem gostosa vem da cozinha, provavelmente sendo arte do papai. “Só pra você saber, eu esqueci você.” – Hum, era Clarice Falcão. Gosto bastante do estilo poético com o qual a moça escreve suas músicas. Me direcionei à cozinha mais rapidamente e logo vejo papai dançando com mamãe ao som daquela melodia regida por instrumentos suaves e harmônicos. É uma cena perfeita, exceto por Calvin gravando tudo em seu celular. Automaticamente minha feição muda e torna-se séria e sistemática. Sento num dos bancos da cozinha (Bem longe de Calvin), dizendo:

                - Bom dia.

                - Bom dia, amorzinho da mãe. – Mamãe fala soltando-se do papai e me abraçando pelas costas.

                - Bom dia, pequeno grande rapaz. – Papai vai até o fogo e desliga algo que parecia ser queijo frito.

                Percebo que Calvin está olhando para mim, o ignorando veementemente. Mamãe desfaz o abraço e coloco minhas mãos na mesa. Decido não pensar muito e vou até uma das gavetas menores, puxo logo um sachê de chá de Morango. Pondo uma pequena xícara com desenhos da Disney no micro-ondas, deixo que a água tome a temperatura necessária para a produção da bebida. Cruzo os braços e fico calado encostado na pia.

                - Dormiu bem, Collin? – Papai me pergunta.

                - Como Aurora. – Sou breve.

                - Então pode se animar, pois hoje terão a casa toda para vocês mais tarde. Deem uma festa, já que eu e a Amande vamos viajar até a segunda. – Papai põe o queijo num prato acima da mesa, o da frente de Calvin.

                Papai é um dos poucos pais que conseguem ser liberais e organizados ao mesmo tempo, apesar de eu ter a plena certeza de que não iria fazer uma festa ali a começar pelo número de convidados que eu teria. Quase nenhum. Tinha a Tia Jéssica, mas ela não fazia o papel de todos os convidados, e bem, seria meio estranho.

                - Sério, pai? Vai ser irado. – Calvin vibrou no seu banco.

               - Mas calma aí, mocinho. Existem regras, e se comportar é uma delas. Sem bebidas álcool. – Mamãe sentou ao seu lado.

             - Mas essa era a graça, e as gatinhas. – Sempre os mesmos comentários insuportáveis. Fútil.

               Ao ouvir o aviso do micro-ondas, viro-me e retiro a caneca, pondo o sachê na água quente. O player ainda reproduz Clarice falcão, sendo Capitão Gancho, a música da vez. Cruzei as pernas ao sentar no banco e encarar o nada. Papai acabou e depois me serviu uma fatia de queijo, a qual aceitei de bom grado. Ele pisca seus olhos azuis e eu tento exprimir um simplório sorriso.

            Dou um generoso gole no conteúdo do copo fumegante e reparo papai sentar para comer conosco. Passo a beber meu chá enquanto eles entram numa covnersa aleatória, a qual sou forçado a entrar a partir da fala de mamãe:

InesquecívelOnde histórias criam vida. Descubra agora