Capítulo 10 - Um corpo que não é mais meu

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                Quando o saco é retirado da minha cabeça, já me vejo num outro lugar. É bem diferente daquele contêiner fétido, ainda que seja de uma aparência nada boa. Parece ser um porão. Algumas mesas e cadeiras estão entulhadas num canto e outros objetos se entulham por paredes. As paredes possuem tons mortos e escuros, enquanto que o chão parece não ser reformado há tempos.

                Estou tão ocupado olhando os aspectos do lugar que, quando percebo a situação em que me encontro fico realmente horrorizado. Várias pessoas estão caídas e amarradas ao chão. Assim como eu, muitas delas são jovens, meninas e meninos, de jeitos diversos. Existe um garoto de olhinhos puxados que me lembra um oriental, uma garota de cabelos vermelhos e espessos. Todos se debatem e tentam gritar, porém sendo impedidos pela mordaça na boca. Que espécie de lugar é este? Penso ao debater-me e sentir as pernas doendo. Em face de todo desespero, algo me surge na mente. Marissol? Onde ela estava?

                Meus olhos passam a correr as pessoas novamente em busca de sua cor negra e os cabelos pretos. Tento gritar, no entanto, a mordaça ainda me silencia. Não vejo nem um aspecto de seu vulto em meio ao mar de pessoas. Devem ser umas quinze postas ao chão. Se passam filmes em minha cabeça, do que podem ter feito com a garota. Tudo isso me deixa mais nervoso. Meus pensamentos são interrompidos quando a porta do lugar se abre e um vulto em negro entra por ela. Ele carrega algo nos braços e joga-o próximo à mim. Ao atingir o chão, a pessoa emite um gemido fraco. E ao virar o corpo eu o vejo, ou melhor, a vejo. Marissol.

                Os olhos estão encharcados pelas lágrimas, o corpo está estranho. Ela não usa roupas normais, acho que jogaram um vestido qualquer nela. Não é preciso de muito para imaginar o que fizeram com ela mas, ainda assim, desejaria perguntar. Teria feito isso, caso o homem tivesse ido embora. Para piorar entraram mais três e começaram a nos desamarrar e tirar as mordaças. Não me preocupo com o que vão fazer, ao tirarem aminha me arrasto até a Marissol:

                - O que fizeram com você? – Coloco a mão em seu rosto.

                - Você sabe, Collin Duarte. Eu sei que sabe. – A sua voz é fraca, como se fosse sumir a qualquer hora.

                Ai não. Ponho a mão na boca e sinto lágrimas, eles haviam abusado dela e a jogaram aqui como se não fosse nada.

                - Vai tudo ficar bem, vou ajudar você. – Digo entre lágrimas. Ela aquiesce. – AI! – Uma mão puxa meus cabelos e sou obrigado a me levantar e deixa-la lá.

                - Alguém o deu permissão para falar? – Me pergunta um dos homens.

                Não sei de onde busco forças, mas o respondo tão grosso quanto:

                - Ela é minha amiga, vocês abusaram dela e fizeram dela algo horrível. Monstros.

                Os homens começam a rir juntos, na verdade, a gargalhar. As risadas eram altas e com completo deboche. Ouço um grito e me viro, a menina de cabelos vermelhos tenta chamar atenção e termina por levar um soco forte no rosto. Ela cai ao chão imediatamente. Não acredito no lugar onde estou. Nem em meus profundos pesadelos imaginei que existisse um lugar desta forma, com tanta dor, com tanto medo. Para falar a verdade, sinto mais medo pela Marissol agora. E se ela não se recuperar? E se eu ficar sozinho?

                - Acho que você deve ser o próximo a falar com a Madame. – Diz o mais alto dos homens.

                - Madame? Que Madame? – Dou um passo para trás quando um deles me pega pelo braço.

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