Nós costumávamos sentar no telhado a noite.
Era uma espécie de tradição entre nós dois. Subir para o nosso lugar secreto e observar as estrelas.
Ali ninguém podia nos alcançar. Ninguém a não ser nós mesmo.
Então em algumas noites, quando a lua e as estrelas surgiam no céu, nós íamos para lá. Admirar a beleza do universo.
Refletir.
Conversar.
Sonhar.
Era nosso refúgio. Só meu e dele.
Então quando eu subi naquela sexta-feira fria de outono eu não estranhei quando o vi. Enrolado em uma coberta azul que usávamos com bastante frequência. Mesmo de costas eu conseguia enxergar sua beleza. E era encantador.
Me aproximei silenciosamente, passei meus braços em volta do seu pescoço e apoiei minha cabeça no seu ombro. Ele estava com a pele fria mesmo coberto.
Eu não tinha percebido até olhar para o seu rosto que seus olhos estavam vermelhos. Dei a volta e me sentei ao seu lado, cruzando meu braço com o dele e segurando sua mão.
_Ei – eu falei baixinho. Ele me encarou. Seu rosto estava triste e abatido. Estava cada vez mais comum vê-lo daquela maneira. – O que aconteceu? – toquei o rosto dele, seguindo os rastros por onde as lágrimas quentes tinham passado.
Ele me entregou um papel amassado que estava na sua outra mão, eu nem tinha percebido que ele o segurava. Abri o papel que possuía o selo de uma clínica ginecológica. Era um exame de gravidez de quatro meses atrás e o resultado era positivo.
_Eu achei na gaveta dela. – ele sussurrou, sua voz com uma pitada de raiva e decepção.
_Sinto muito – apertei sua mão.
_Eu também.
Encostei minha cabeça em seu ombro novamente e ficamos ali.
No silêncio.
Eu não precisava dizer nada.
Só ficar ali.
Ao lado dele.
Só precisávamos disso.
Um do outro.
(...)
Eu gostava de apreciar o céu noturno.
Sempre gostei.
Das estrelas.
Da lua.
Do poderoso azul que colore a noite.
Observar a imensidão e ter certeza de que eu não estava sozinha. Ter a certeza de que em algum lugar havia alguém olhando por mim.
Alguém maior do que eu. Maior do que meus medos ou meus sonhos.
Por um tempo me trouxe conforto.
Mas fazia alguns anos que já não era assim.
O meu conforto se tornou em um gatilho para a dor. A dor de pensar no que poderia ser e nunca foi.
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NÓS
RomanceMavi e Dante eram inseparáveis como duas almas destinadas a ficarem juntas, até que um incidente os afasta por alguns anos. Porém o destino, famoso em pregar peças, faz com que eles se reencontrem mais tarde em um ambiente inesperado. Ela está mago...