Eu me desliguei durante o resto da semana.
Passei a fazer todas as coisas no modo automático, e simplesmente parei de prestar atenção no que acontecia ao meu redor. Se alguém falava comigo, precisava repetir pelo menos três vezes até que eu entendesse. Ler algum texto? Impossível! Minha mente não conseguia se concentrar, tudo o que eu conseguia pensar era em olhos castanhos profundos e sem emoção.
Isso me prejudicou, é claro! Eu fui mal em uma prova importante, mesmo dominando todo o assunto e até já tendo feito, e acertado, algumas questões.
Era patético de qualquer forma. Eu me sentia como um zumbi na maior parte do tempo.
Também me afastei dos meus amigos, já que impus inconscientemente um "auto isolamento". Eu estava com eles fisicamente, mas minha mente estava em outro lugar. Isso, é claro, gerou perguntas e questionamentos, que eu nem ao menos sabia como responder.
Não tinha uma desculpa dessa vez.
Afinal, o que eu diria?
Eu não sabia nem o que falar pra mim mesma, quem dirá para as outras pessoas.
Não conseguia me convencer de tudo o que estava acontecendo e isso me consumia. Meu tempo, minha paz, minha sanidade!
Tudo parecia uma piada de mau gosto, e eu simplesmente achei que o que estava ruim não poderia piorar.
Isso até a terça-feira, quando eu voltei de uma rápida e desinteressante ida à biblioteca, apenas para fugir de Samuel e Rosa. Eu não estava nem um pouco afim de conversar.
Eu avistei o casal maravilha quando virei o corredor que dava acesso a sala. A próxima aula começaria em poucos minutos, mas tudo o que eu queria fazer era cavar um buraco que chegasse nas profundezas da terra e me esconder por lá.
Uma Rosa distraída beijava avidamente um certo capitão do time, como se ali fosse o local mais adequado para aquele tipo de show.
Os dois se emaranhavam como se não houve mais ninguém no corredor. Algo extremamente desconfortável de olhar. Ou talvez o ato me afetasse mais do que o normal, já que Samuel estava parado ao lado dos dois, conversando com outro cara com jaqueta do time.
Eu parei o meu passo e hesitei. Seria assim daqui pra frente? Ele invadindo todos os lugares onde eu estava?
Infelizmente Samuel me avistou antes que eu pudesse tomar qualquer atitude.
_Mavi! - ele chamou exageradamente alto, atraindo bastante atenção. Rosa parou o que estava fazendo para olhar em minha direção, mas foi rapidamente atraída de volta para o que estava fazendo, quando Dante puxou seu pescoço em sua direção novamente. Não perdi o vislumbre de sua boca vermelha. - Cadê o livro?
É, eu posso ter dito que ia atrás de algum complemento para aula seguinte. Mas eu nem ao menos procurei alguma coisa.
Samuel olhou para os meus braços vazios com o rosto confuso.
_Não achei nenhum!
Andei em direção à porta. Quanto mais rápido eu saísse daquela situação, mais da minha sanidade eu manteria.
_Ei, calma! - Samuel me parou no meio da caminho, segurando meu braço. - Você conhece o Gu e o Dan? Eles são do time de futebol. Acho que aquele dia não conseguimos te apresentar. - ele encarou o casal e deu uma leve cutucada em Rosa - Não é amiga?
Rosa interrompeu seu momento de pegação para me encarar. Vi uma timidez passar como um raio por seu rosto, mas foi rapidamente substituída por um de seus sorrisos brilhantes.
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NÓS
RomanceMavi e Dante eram inseparáveis como duas almas destinadas a ficarem juntas, até que um incidente os afasta por alguns anos. Porém o destino, famoso em pregar peças, faz com que eles se reencontrem mais tarde em um ambiente inesperado. Ela está mago...