Maeve Bettencourt – Ponto de Vista
8 de março de 2014 (sábado)
Na manhã seguinte, quando cheguei na cozinha, minha mãe se desdobrava para conseguir dar atenção ao fogão e para os gêmeos, que estavam sentados em cadeiras altas e faziam uma lambança com a comida nos seus pratinhos de plástico.
Peguei um pano de prato para poder limpar o rosto de Juliette, que tinha sujeira por toda parte, assim como Romeo. Os dois riram e meu irmão quase conseguiu sujar minha roupa com suas mãozinhas imundas. Juliette estendeu os bracinhos para eu pegá-la, mas também estava suja demais para que eu fizesse aquilo.
Sentei-me à mesa, colocando minha bolsa no encosto da cadeira e amarrando meu cabelo em um coque alto, apenas para não ter que ouvir mamãe falando que minha comida ficaria cheia de fios, se eu não os prendesse.
— Bom dia. — desejei olhando para meu pai, que lia seu jornal enquanto bebia uma xícara de café.
Nikita passou ronronando e esfregando seus pelos negros em minha perna por baixo da mesa. Abaixei-me um pouco e fiz um breve carinho no topo da cabeça da gatinha.
— Bom dia, Maeve. — minha mãe apagou o fogão e correu para tirar a colher da mão de minha irmã, que tentava acertar Romeo ao seu lado. No meio do caminho, ela bateu nas costas do meu pai, em repreensão.
— Bom dia. — ele respondeu com a voz sem emoção e sem tirar os olhos do jornal — Que horas você voltou ontem? Eu fiquei até tarde na delegacia e sua mãe dormiu.
Soltei um suspiro. Ele não podia perguntar como eu estava? Ou ao menos ajudar minha mãe a cuidar dos gêmeos, que também eram sua responsabilidade? Mas ao invés disso, é claro que ele se preocupava em pegar no meu pé.
— Na hora certa. — respondi, me servindo de uma xícara de café e me sentindo com quinze anos de idade outra vez.
— Me disseram que te viram com um casaco masculino. — ele tirou os olhos do jornal para me fitar — De quem era?
— Do Simon, ele me emprestou porque estava frio. — respondi com a voz irritada e meu pai não precisou de mais que um olhar para me repreender — Mas que merda, quem foi que te falou isso? As pessoas dessa cidade não têm o que fazer além de ficar me vigiando?
— Olhe a boca! — novamente fui censurada — Isso não são bons modos!
— Eu não ligo para os bons modos, mãe. — cortei me levantando da mesa, mordendo um pedaço de pão e pegando minha bolsa para sair dali.
— Aonde você vai? — ouvi meu pai gritar quando eu saía da cozinha — Maeve!
Parei na porta, querendo poder sair dali sem dar satisfações para ninguém. Mas eu sabia que teria problemas se o fizesse, então respirei fundo de olhos fechados e disse:
— Vou visitar minha avó. — retomei meus passos e saí caçando a chave do carro na minha bolsa....
Estacionei meu Nissan em frente à biblioteca de LittleKoch, tirando a chave da ignição e saindo do veículo.
Minha avó tinha aquela biblioteca desde antes do meu nascimento. Sempre estava se perdendo nos livros e escapando dos rumores da cidade em que tinha nascido.
Não era um lugar muito grande, mas tinha a quantidade suficiente de livros para fazer qualquer um fugir da realidade por muito tempo.
Aquela biblioteca era incrivelmente movimentada, para uma cidade tão pequena. E isso se devia à pequena saleta nos fundos, a qual continha doze computadores. Talvez ser o único lugar da cidade que tivesse computadores públicos e acessíveis a qualquer um, ajudasse bastante.
E para ajudar ainda mais na movimentação do local, os professores de LittleKoch eram muito exigentes para trabalhos literários, então os livros não costumavam ficar muito empoeirados.
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Bienvenue Mon Chéri
RomanceTodos naquela cidade sabiam quem era William Pomeroy e do que ele era capaz. Os moradores de todo o município tremiam as pernas e trancavam as janelas apenas com a pronúncia do nome do rapaz; e as crianças dali cresciam ouvindo histórias sobre o cru...