Louis William Pomeroy – Ponto de Vista
4 de abril de 2014 (sexta-feira)
O barulho das rodas do Nissan Qashquai contra o asfalto molhado não era o único som presente entre nós. A estação de rádio escolhida pela garota tocava uma música irritante. Sua respiração alta era igualmente irritante, assim como o jeito que ela apertava o volante com força e emanava um cheiro doce.
Eu não deveria ter entrado naquele carro, sequer devia ter me aproximado de Maeve.
Era extremamente aborrecedor como aquela figura conseguia me tirar do sério, como ela conseguia me deixar tão irritado com toda aquela fachada de santa e aquela insistência refletida nos olhos .
Quem era ela para me dar ordens? Para me desafiar sempre que tinha oportunidade?
Ela não era ninguém. Apenas mais uma personagem falsa e vazia do teatro que aquela cidade maldita apresentava há anos.
Foram minutos terrivelmente desagradáveis e silenciosos, até que eu pudesse avistar minha casa: uma estrutura fria e sombria, isolada do resto da cidade e no alto de um morro.
O portão preto e pesado estava aberto, exatamente como eu havia deixado antes de sair de casa, dando assim liberdade para que a filha exemplar dos Bettencourt pudesse adentrar a propriedade e estacionar o carro na entrada da casa.
O simples fato dela ter puxado o freio de mão me fez querer gritar com ela, porque era basicamente isso que a garota me causava: extrema irritação, incômodo, frustração, agonia. Eu não fazia ideia do motivo, mas não estava mesmo com interesse em descobrir.
Suspirou quando desligou o carro e não se virou para mim; continuou encarando o para-brisa em sua frente.
Ela não era patética? Tentou se demonstrar forte para mim, nas míseras vezes em que nos encontramos. Destemida, imponente, determinada... E agora ela não tinha peito suficiente para sequer olhar para mim?
Ótimo, era exatamente o que eu queria. Queria que ela temesse minha presença, assim como todos os outros espertos o suficiente para tal coisa.
Pelo menos assim, eu ficaria menos vezes perto dela e daquele perfume inconfundível.
— Creio que não vá querer entrar para tomar uma xícara de café. — debochei, abrindo a porta do carro branco com prontidão. Era realmente uma ideia tão absurda que eu me deliciei com minha própria piada.
Desci sem me importar com a chuva e me importando muito menos com a garota que ficou dentro do automóvel. Fechei a porta pronto para entrar em casa e fazer meu máximo para esquecer tal acontecimento desagradável. Dobrei o joelho para dar o primeiro passo e fui impedido, ao ver o vidro do Nissan se abaixar.
— Se isso for um convite, está aceito.
Oh, mas ela era muito insolente!
A quem estava tentando enganar? Só podia ser a si mesma, pois a mim jamais conseguiria.
Ora, ora... A filha do delegado estava se arriscando a brincar com fogo.Eu não perderia aquilo de modo algum, como poderia? Seria minha melhor piada particular.
Caminhei em direção da velha mansão, subindo os degraus que me levariam até a porta grande e escura a qual dava acesso à casa.
Ouvi o alarme do carro ser acionado e os passos dela correndo na mesma direção a que eu me encontrava.
Abri a porta, me concentrando em ignorar todo aquele sentimento negativo quanto a garota, para poder aproveitar minha bela piada.
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Bienvenue Mon Chéri
RomanceTodos naquela cidade sabiam quem era William Pomeroy e do que ele era capaz. Os moradores de todo o município tremiam as pernas e trancavam as janelas apenas com a pronúncia do nome do rapaz; e as crianças dali cresciam ouvindo histórias sobre o cru...