Maeve Bettencourt – Ponto de Vista
21 de abril de 2014 (segunda-feira)
No meio da confusão, eu havia me perdido de Chandler Hogan.
Quando um arrastão se iniciou para seguir meu pai, que ainda mantinha William algemado, fui afastada do garoto de cabelos cacheados. Uma multidão foi acompanhando o delegado e Louis, gritando vários tipos de ofensa para o garoto. Todos eles estavam furiosos.
Pomeroy, por sua vez, permanecia sem expressão. Quando eu ainda conseguia me movimentar entre a enorme massa de pessoas, pude ver meu pai colocá-lo de pé e empurrá-lo em direção à saída da praça.
Eu ainda estava agarrada no braço de Chandler e podia olhar com clareza para o rosto de Louis que não demonstrava nenhuma emoção ou reação além do queixo erguido e ombros aprumados, antes de tudo acontecer. Mas quando um empurra-empurra começou, fui separada de Hogan e o perdi entre o mar de gente. E, logo, eu também não podia mais ver os dois protagonistas daquele escândalo.
Infiltrei-me no meio da confusão, tentando voltar a manter em vista meu pai e William que haviam sido engolidos pelas pessoas. Eu tentava assimilar o que havia acabado de acontecer. Estava atônita, desacreditando que o delegado Bettencourt pudesse quebrar seus princípios éticos como policial de tal maneira.
De uma forma extremamente estranha, eu estava preocupada com Louis.
Digo, eu estava furiosa com ele por ter me beijado quando sabia que eu nunca poderia fazer algo tão absurdo. E eu também estava magoada pelo meu lado racional insistir em dizer que Pomeroy queria apenas afetar meu pai através de mim. Mas não havia como negar que relembrei do dia em que Jean Theron bateu no rapaz para tentar arrancar-lhe uma confissão. E aquilo me incomodava, pois eu sabia que era provável o acontecimento se repetir.
Fiquei nas pontas dos pés e me apoiei no ombro de um garoto para conseguir me esticar e enxergar meu pai enfiando — sem nenhuma delicadeza ou calma — Louis em uma viatura policial que estacionara ali há pouco, com Jean no volante.
Mordi meu lábio inferior e ponderei sobre o que fazer.
Eu queria encontrar Chandler, pedir que ele ficasse comigo por um instante para me contar piadas e fazer com que minha mente se esquecesse de Louis ou o outro assassinato que havia sido cometido. Mas ele se perdeu completamente no meio da confusão que se amontoava embaixo do arco da praça ao tentar ver um pouco mais do escândalo.
Então, quando percebi, eu já estava correndo para o meu carro para dirigir até a delegacia.
...
Eu provavelmente estava amassando a lataria do capô do meu Nissan Qashqai, mas não dava a mínima.
A rua estava vazia e quieta, além de parcialmente escura. Eu me mantinha imóvel em cima do capô, com os joelhos encolhidos e abraçados por mim. Fiquei por um tempo encarando a porta da delegacia, esperando qualquer sinal de vida, mas nem mesmo os mais fofoqueiros de LittleKoch estavam fazendo plantão lá na frente.
Ambrosina estava dentro do carro. Eu havia me encontrado com ela no meio da bagunça na praça, enquanto tentava chegar ao meu carro e ela pediu para ir comigo até a delegacia.
Eu queria recusar, mas não havia como. Ela estava determinada e curiosa. E além do mais, eu não queria ser mal educada.
Suspeitei que minha amiga estivesse dormindo, porque fazia bastante tempo que eu estava encarando a entrada da delegacia e ela não se manifestava. Mas não fui checar para não perder a chance de ver um mínimo sinal de vida que poderia se passar enquanto eu estivesse distraída.
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Bienvenue Mon Chéri
RomanceTodos naquela cidade sabiam quem era William Pomeroy e do que ele era capaz. Os moradores de todo o município tremiam as pernas e trancavam as janelas apenas com a pronúncia do nome do rapaz; e as crianças dali cresciam ouvindo histórias sobre o cru...