23 - Como se eu fosse te perder

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Maeve Bettencourt – Ponto de Vista

15 de agosto de 2014 (sexta-feira)


Eu não conseguia me recordar qual havia sido a última vez em que vi Silvain Champoudry ficar sem palavras. Sua boca permanecia aberta, mas não conseguia articular som algum. Era conhecido por mim o dom que Pomeroy tinha para desconcertar as pessoas, todavia eu nunca presenciei aquela reação em terceiros.

Surpresa com sua aparição repentina, olhei para trás e o encontrei sorrindo sarcasticamente para a filha da prefeita. Encolhi-me quando Louis deu alguns passos até mim, parando ao meu lado para passar o braço sobre meus ombros.

— Estou esperando, Silvain. O que dizia?

— Louis. — foi tudo que ela conseguiu falar. A jovem Champoudry clareou a garganta e em seguida cruzou os braços, tentando recuperar sua imagem superior. Trocou, então, a distribuição do peso entre as pernas enquanto pensava — Chega a ser engraçado vê-los assim. A clemente e o malévolo. É uma pena que esse romance seja quase tão trágico quanto a vida dos dois.

— Curioso... — Louis estalou a língua no céu da boca — Ao intitular minha vida de trágica, espero que esteja se referindo à sua breve passagem por ela, já que foram meus piores momentos. Mas por outro lado, desconfio que não queira deixar óbvio a todos aqui que você já foi, e aparentemente ainda é, obcecada por mim.

— Breve?! — Silvain não pôde se conter. Porém, notou que estaria confirmando aos presentes que já teve algum tipo de envolvimento com William e mordeu o lábio inferior, para se calar. Senti-me desconfortável com a discussão de relação dos dois e me remexi no aperto do rapaz que ainda me abraçava — Eu sinto pena de você, Maeve, por se envolver com alguém tão sem escrúpulos e que deveria estar atrás das grades. Que decepção, a cidade toda está desapontada com você... Filha do delegado.

Antes que eu pudesse me manifestar para responder sua provocação, Louis me soltou para se aproximar da garota. Meus antigos amigos, ainda sentados, assistiam atenta e curiosamente o que se passava. Era nítido que se sentiam intimidados por William, então não tinham a coragem necessária para se levantar e passar por ele para sair dali. Chandler, por sua vez, decidiu puxar uma cadeira e se sentar de maneira largada, apoiando a canela direita sobre o joelho da outra perna. Observei seu sorriso desaforado e concluí que para ele faltava apenas um balde de pipoca.

— Devo contar aos dois... — William apontou para Navarre e Ambrosina — Sobre como você batia em minha porta na madrugada, buscando desesperadamente um pouco de atenção? Talvez eles gostem de saber como a filha da prefeita rolava nos lençóis com o assassino aqui. Ah! — como se tivesse um flashback, Pomeroy estralou os dedos. Hogan sorriu provocativo para mim quando o rapaz de olhos azuis ficou extremamente próximo ao rosto de Silvain — Preciso compartilhar com eles que minha memória favorita é a de quando eu te dispensei e você chorou feito um bebê.

— Cale a sua boca... — ela rosnou baixo, apertando os lábios. Louis gargalhou, puxando uma mecha de seus cabelos escuros. Eu não deveria estar sentindo ciúmes daquilo.

— O que foi? Não quer que seus amigos saibam que, no mesmo dia em que voltei à LittleKoch, a senhorita correu até minha casa e eu bati a porta na sua cara? — negando com a cabeça, falsamente triste, o jovem tornava seu discurso ainda mais cínico. O que mais me impressionava era o modo como Silvain Champoudry ficava calada, como uma criança levando bronca. Estava claro para todos ali que sua petulância não existia diante de William — E, desde então, você resolveu tornar a minha vida um inferno. Pois eu gostaria de deixar claro, Silvain... — ele enrolou os fios castanhos em seu dedo indicador — Que minha vida só se tornaria um verdadeiro abismo, se eu tivesse alguém como você ao meu lado. Eu não sou maluco o suficiente para me deixar envolver por uma cobra. Não precisamos da sua pena ou do seu compadecimento, porque você já tem muito o que lamentar da própria vida. Essa cidade tem muitas pessoas vazias, sem personalidade ou virtudes, mas de longe, você é a pior.

Bienvenue Mon ChériOnde histórias criam vida. Descubra agora