[24] Epílogo; o último adeus.

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No começo, eu simplesmente não aceitei, a ficha parecia não ter caído, por mais que tivesse sido eu quem o encontrou. Eu olhava para a janela e imaginava que logo ele viria vir falar comigo, como sempre fazíamos aos fins de tarde; ficava olhando a foto que tirei no primeiro dia que eu vi e pensava que tudo aquilo que vivi em seu banheiro e as muitas horas que fiquei ajoelhado na frente da sala de cirurgia enquanto médicos e enfermeiros tentavam de tudo por ele não tinha passado de um simples pesadelo.

Depois de seu enterro, eu fiquei com raiva dele, por mais sem noção que isso possa parecer. Ele tinha me abandonado, pensava. Eu me dei conta de como estava sendo idiota quando me peguei pensando em como teria sido se eu nunca o tivesse conhecido. Yoongi foi o meu paraíso e o meu inferno, foi o meu medo e a minha coragem, e eu provavelmente ainda seria uma pessoa terrível se não me apaixonasse por ele.

E então veio a culpa. O mundo parecia pesar nas minhas costas, eu sentia as minhas pernas fraquejarem a cada passo. Como teria sido se eu tivesse percebido e intervido antes? As pessoas a minha volta diziam que eu não tinha como ter feito nada, que para que uma pessoa sequer considere o suicídio ela tem que estar completamente desesperada, mas essa segunda parte só me deixava pior; ele estava completamente desesperado e eu não fiz porra nenhuma pra ajudar!

Eu também entrei... num momento muito ruim. No começo, foi uma coisinha leve, eu só não queria sair de casa e não sentia muita fome, extremamente triste, mas era somente uma das fases do luto. Até que evoluiu; no momento do estágio de culpa, eu afundei. Às vezes, eu realmente pensava em dar um fim em tudo, mas nunca segui em frente com isso; como eu disse lá no começo dessa história, se eu morresse, não poderia sequer me lembrar de Yoongi na minha próxima vida. Quando começou a doer de verdade, eu pensei nele, guardando tudo aquilo pra ele mesmo, e fui chorando falar para a minha mãe sobre como eu estava me sentindo. O tratamento com o psicólogo foi intensificado, e eu passei a ser medicado, e, conforme a ampulheta se esvazia, eu vou conseguindo seguir.

E agora, quase sete meses depois, eu me mudei para Daegu. Carrego algumas cicatrizes no pulso esquerdo, mas as piores estão no coração. Pretendo mesmo adotar uma menina, e chamá-la de Sooyeon, como ele sempre quis. Passei a me apresentar como Park Jimin, e não Jimin Park. Estou fazendo o impossível pra não viver no passado, lutando pelo meu futuro, pela minha futura carreira como cineasta; se tudo correr bem, “Lista Amarela” vai se tornar uma série. Continuo com um sorriso no rosto, apesar de tudo.

Eu evito chamá-lo pelo nome. Parece que dói mais, mas, às vezes, falo em voz alta, só pra lembrar do sentimento bom que ele me trazia. Se alguém me pergunta sobre ele, me refiro como “soulmate”, e isso sempre me deixa com um sorriso bobo no rosto.

Não penso nele em seus últimos dias, mas também não ajo como se nada tivesse acontecido. Ele tinha depressão, e isso o matou por dentro. Mas de que adianta ficar me lembrando dos piores momentos, quando tenho os seus sorrisos e as suas risadas que faziam do meu dia o melhor de todos dentre as minhas memórias?

Bom, ele se despediu de mim no quarto, mas deixou algo para mim nos rascunhos de seu e-mail. Vou deixar em anexo, como tenho feito. Espero que as pessoas prestem mais atenção à sua volta; aquele amigo sorridente pode ter um inferno por trás da máscara de menino feliz...

E também espero que, na vida que virá depois dessa, Yoongi ainda se lembre que eu sou apaixonado por ele.

para: parkrolls@email.com

de: bxttxmbitxh@email.com

rascunho: soulmate.

eu vou começar dizendo que a culpa não é e nem nunca foi sua; sinceramente, se você não tivesse aparecido na minha vida, eu teria me jogado de uma ponte na noite da briga com o meu padrasto.

eu sabia que você ia vasculhar o meu computador, fora que você poderia vir até aqui e me impedir, mas jimine, eu não aguento mais essa maldita dor.

sabe, eu estive tentando sobreviver contra todas as probabilidades, mas parecia que o mundo estava querendo me ver destruído; teve o meu pai, suas torturas e seus abusos, teve a minha vida particular sendo exposta, teve o meu padrasto e seu comportamento rígido, teve a elise, e mais um monte de merda, mas eu realmente tentei sobreviver.

você foi como uma mão que tentou me puxar do fundo do poço, e, por sua causa, eu pude ver o brilho do sol mais uma vez antes de soltar sua mão e cair de novo, e eu sou verdadeiramente grato por isso, jimine. a grande maioria das minhas melhores lembranças são com você.

por favor, siga em frente; se case, adote ou tenha filhos, tenha uma vida e lute pelos seus sonhos! ah, e por favor não me odeie pelo que eu fiz, juro que só fui até esse ponto porque realmente não dava mais.

saiba que você sempre será a minha alma gêmea, nessa vida e na que virá depois dela — quem sabe, a gente pode se encontrar em outra vida, não acha? —, que você foi a pessoa que eu mais amei durante toda a minha vida, que cada minuto que passei com você, cada toque, cada beijo cheio de paixão que me você deu, cada sentimento que descobri ao seu lado, foi tudo único, especial e me fez muito feliz.

de alguém que sente muito,

yoongi.

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