[20] Nosso futuro.

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Eu sempre achei que ter um relacionamento às escondidas era sinônimo de excitação vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, e, mas, notei algo: o nosso namoro só é um segredo porque o mundo parece ter algo contra ver duas pessoas que se amam juntas, tudo pelo simples fato de serem do mesmo gênero — às vezes por classe social, etnia... é puro preconceito.

E isso é uma merda.

Yoongi e eu, nós estávamos andando de mãos dadas na rua, há uns poucos dias. Foi uma sensação tão maravilhosa, tão perfeita; a mão grande dele se encaixa perfeitamente na minha pequena, e eu acho isso tão fascinante quanto o jeito como o Yoongi fica quando podemos ter direito a algo tão comum como segurar a mão do amado do lado de fora de casa.

E, realmente, foi um paraíso, até aquele momento que me deu calafrios.

Já reproduzi pensamentos homofóbicos, e até meus próprios amigos fazem piadinhas com a homossexualidade o tempo todo. Quero dizer, eu conhecia o preconceito, já tinha lhe visto, e, felizmente, percebi o quão repulsivo ele é, mas, quando faziam os comentários idiotas, os garotos nunca se direcionavam a mim, muito menos ao Yoongi.

Nós só estávamos de mãos dadas porque não tinha ninguém na rua.

— Tem alguém vindo. — O Yoongi falou, e, com um visível pesar nos olhos, soltou a minha mão, dedo por dedo.

Eu não entendi o porquê daquilo logo de cara, até achei que ele poderia estar com vergonha de mim, mas aí eu lembrei de todas as piadinhas, de tudo o que vi na internet e até no noticiário. Yoongi não estava com vergonha de mim, longe disso; ele estava com medo, por mim e por si próprio.

Aquele medo se passou pra mim, e eu tive uma estranha vontade de chorar. Por que eu não posso nem segurar a mão dele sem ter que me preocupar se alguém vai nos ver, e ter a reação infelizmente previsível?

— Boa noite, garotos. — Um homem parrudo, junto de uma mulher baixinha de vestido curto passou por nós. — Ei, se quiserem olhar mais pra ela, vocês terão de pagar; é baratinho. — Lançou um olhar malicioso e em seguida puxou a mulher pelo braço; ela estava com o rosto inchado, estava chorando.

Ah, mas disso ninguém fala nada. Não tem nada de mais no fato de ela estar chorando, de ele estar a puxando violentamente, de ela estar sendo provavelmente obrigada a usar aquele vestido naquela noite gelada, considerando a temperatura comum de Sunydale, e também não há nada de errado nele ter nos “oferecido” a mulher. A humanidade tem mais com o que se preocupar, né? Não pode permitir que dois garotos andem de mãos dadas, por exemplo.

— Já é a segunda vez que vou te dizer isso, Jimine — Yoongi me chamou a atenção e desviei o olhar da cena da mulher e do homem para o seu rosto —, se você pensar muito nessas merdas, vai acabar ficando louco.

— Por que é tudo tão injusto? — perguntei, ainda irritado com a situação.

— Porque… — Suspirou. — Ah, Jimine, eu não sei. Eu não sei de mais nada. — Segurou gentilmente no meu pulso e me guiou até onde eu sabia que era o parque do bairro; ficava um pouco distante do nosso quarteirão, mas não tanto. Enquanto andávamos, ele continuou o que falava antes. — As pessoas podem ser bem idiotas.

— Ah, é claro. — Bufei. — Agem como se fossemos contaminá-los com o “vírus gay”, ou quem sabe enforcar eles com um arco-íris.

— Yah. — Ele riu, sem humor. — Somos assustadores, os pobrezinhos não sabem de nada sobre nós.

— Olha, eu mesmo faria uma entrevista com todo o prazer pra eles. — Como o parque já estava fechado, nós pulamos pela grade. Todo mundo fazia isso porque fechava muito cedo, então nem a polícia se importava com as invasões. — Sabe, eu contaria tudo ao meu alcance, tudo que já aprendi sobre mim mesmo. — Finalmente estávamos sozinhos, então andamos pra frente, quase para o centro do parque, longe da grade, longe de quem estivesse tentando ver algo. Lá, eu engoli a minha vergonha e o abracei por trás, passando o nariz por sua nuca.

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